Economistas mulheres ampliam presença no mercado e nas universidades

Mulheres começam a ganhar mais espaço na profissão

Por Bruna Oliveira

Montagem reportagem Mulheres Economistas - empresas & Negócios - Simone Magalhães, Patrícia Palermo, Iracema Castelo Branco, Lúcia Garcia, Victória Candemil, Laura Carvalho e Janile Soares
Dinheiro envolve todo mundo, mas ainda tem quem ache que não é assunto de mulher. Desde as contas da casa até a gestão das finanças de um país, a participação feminina é, historicamente, menor nas decisões econômicas, por diversos motivos. O debate sobre as tradições culturais - muitas delas decorrentes de machismos - e o maior acesso à educação, no entanto, estão quebrando paradigmas e expandindo os campos do conhecimento, como as Ciências Econômicas, que, aos poucos, passam por uma mudança de perfil.
No Brasil, ainda é pequeno o número de mulheres no comando de decisões econômicas, como à frente de ministérios e de cargos mandatários. A economista Zélia Cardoso de Mello foi a única mulher a encabeçar o Ministério da Fazenda, ainda durante o governo de Fernando Collor, em 1990. Antes dela, Maria da Conceição Tavares trabalhou na elaboração do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, na década de 1950.
Ainda assim, a sua presença é, de certa forma, simbólica. Tanto a primeira mulher eleita ao Piratini (Yeda Crusius, em 2006) quanto a primeira eleita para presidente do País (Dilma Rousseff, em 2010) são economistas.
Embora minoritária, a formação de mulheres economistas vem em uma crescente no Brasil. Mesmo que lentamente, a presença delas começa a ganhar mais espaço em uma profissão majoritariamente masculina, sobretudo em áreas consideradas mais "duras", como o mercado financeiro e os grandes cargos na administração pública. Segundo dados do Conselho Federal de Economia (Cofecon), o número de mulheres atuando na profissão, neste ano, chega a 26,81% do total de registros (são 14.809 mulheres frente a 40.424 homens).
A participação feminina atual, porém, é maior do que quando analisado apenas o quadro de economistas atuando há mais de 15 anos. Nesse recorte, as 7.752 mulheres correspondem a 23,67% do total de 32.748 registros.
Somente no Rio Grande do Sul, o avanço é ainda maior, embora a presença delas ainda esteja aquém da contagem nacional. De apenas 17,88% dos registros ativos com mais de 15 anos (290 mulheres entre um total de 1.622 economistas), a presença delas no Estado corresponde, atualmente, a 23,55% de todos os registros. São, segundo o Cofecon, 730 mulheres ante 2.370 homens.
Já o Conselho Regional de Economia (Corecon-RS) contabiliza 792 mulheres com cadastro ativo, de um total de 3.763 registros, participação de 21,05%. As inscrições femininas, porém, estão crescendo: em 2017, foram 31 novas inscrições, ante 22 em 2013. Até julho deste ano, o conselho registrava 12 novas inscrições de sexo feminino.
De acordo com levantamento informal do Cofecon realizado entre as economistas registradas no órgão, a maior parte delas está na faixa etária acima dos 40 anos, com maior atuação nas regiões Norte e Nordeste do País. Os dados nacionais mostram, ainda, que 41% delas trabalham na iniciativa privada; 29%, no setor público; e 28%, em estudos acadêmicos. Um estudo detalhado sobre o perfil da mulher economista, feito a partir de parceria entre o Cofecon e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), deve ser lançado em 2019.
A vice-presidente da autarquia federal e coordenadora do Grupo de Trabalho Mulher Economista, Bianca Lopes de Andrade Rodrigues, comenta que é preciso se "acostumar" à presença das mulheres na profissão. "Há um novo momento nas Ciências Econômicas. Apesar de ainda ser baixa a participação das economistas no mercado e registradas no Conselho, já avançamos e conseguimos incluir os interesses das mulheres de forma oficial e permanente nos debates", avalia.
O maior acesso das mulheres na Economia começa pela universidade, muito pelo crescimento do debate sobre o papel feminino na sociedade e o maior ingresso delas no Ensino Superior. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), são 192 mulheres matriculadas no segundo semestre deste ano no curso de Ciências Econômicas, contra 565 alunos homens (elas são 25,36% do total). A participação é maior na pós-graduação em Economia, na qual, dos 181 alunos ativos, 55 são mulheres matriculadas no doutorado, mestrado acadêmico e mestrado profissional, representando 30,39% dos pesquisadores.

Mulheres estão mais presentes em cursos de Economia 

Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), a maior entre as universidades privadas gaúchas, são 67 mulheres matriculadas na graduação de Ciências Econômicas, no segundo semestre deste ano, entre os 307 alunos, ou 21,8%. Na pós-graduação, são 23 mulheres entre os 63 alunos, cerca de 36,5%. Já nos cursos de especialização, elas representam cerca de um terço.
Com a maior presença delas na academia, a discussão de gênero na profissão passou a integrar também o currículo universitário. Há quase três anos, a disciplina eletiva "Economia Feminista" começou a ser ministrada na Ufrgs pela professora e economista Janice Dornelles de Castro. As alunas contam que a cadeira ainda enfrenta barreiras dentro da própria universidade, sendo alvo de deboche nos bastidores. "Aprendem a lavar a louça?", perguntam. A convite de Janice, a reportagem do Jornal do Comércio esteve em uma das aulas, e a presença heterogênea na sala chamou a atenção.
Janice conta que a ideia da disciplina é discutir as teorias feministas sobre a Economia e debater questões de gênero que envolvem, por exemplo, as posições das mulheres do mercado de trabalho e a inclusão delas na metodologia de indicadores econômicos. "Como pode o cálculo do PIB desconsiderar o trabalho doméstico?", exemplifica Janice.
"Tem espaço para muitas piadas, mas continuamos fazendo o que achamos que tem de ser feito, que é discutir a opressão feminina, que implicações isso tem para a Economia - e são muitas -, e como podemos tratar a questão de forma diferente, trazendo um olhar para a outra metade da humanidade", diz.
Saindo da universidade, cada vez mais, as mulheres começam a se destacar no mercado de trabalho, algumas chegando a postos nunca antes assumidos por mulheres. O JC conversou com sete mulheres que se destacam em suas áreas de atuação, com projeção estadual e nacional, além de uma estudante universitária que optou pela carreira na Economia, e procurou saber como elas encaram o desafio de conquistar espaço na profissão:

Patrícia Palermo: 'As mulheres têm uma resiliência muito grande'

A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo é a primeira mulher a assumir o cargo na instituição, no qual está desde 2011. Também é a primeira geração da sua família a cursar Ensino Superior. Com mestrado e doutorado no currículo, concilia o trabalho de "economista do cotidiano" com a carreira acadêmica, dando aula para diversos cursos de graduação da ESPM e da Faculdade São Francisco de Assis, e para a pós-graduação da UniRitter.
"Sempre me interessei por questões ligadas à política econômica e em tentar entender o que os jornais traziam, mas não me via trabalhando com isso. Era restrita a um meio onde a Economia não surgia como uma profissão viável", conta. Como era boa aluna nas matérias exatas, começou a cursar Farmácia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), até perceber que não era o que queria e trocar para Ciências Econômicas.
Transformar a economia em algo mais palatável é uma das suas principais "lutas", tanto em sala de aula quanto na assessoria econômica. O trabalho na Fecomércio consiste em fazer pesquisas e traduzir os dados em informações que possam auxiliar a tomada de decisões. Um exemplo é a interpretação econômica de leis e iniciativas que podem afetar o ambiente de negócios e prever cenários de situações possíveis de acontecer.
Apesar de perceber cada vez mais a presença feminina nas universidades, Patrícia lamenta que nenhuma mulher além dela faça parte da sua equipe atual na Fecomércio. "Já tive nomes fantásticos trabalhando comigo, mas, hoje, não temos mulheres na equipe, porque, na última seleção, nenhuma mulher apareceu. Não tem como contratar se elas não se apresentam."
Sobre a posição respeitável que conquistou ao longo da carreira, a economista avalia que o fato de ser mulher nunca foi problema, porque sempre procurou buscar o seu espaço. "Você não pode se tratar como uma estranha naquele meio. Precisa se reconhecer, se aceitar como fazendo parte. Quando participo de uma discussão, tomo o meu lugar. Lugares vazios são sempre ocupados", diz.
> Confira mais ideias de Patrícia Palermo
Para Patrícia, a dedicação das mulheres ao trabalho é alvo de "machismo" vindo de próprias mulheres que criticam a abdicação ao lar. E, ao mesmo tempo, é o maior diferencial dessa parcela no mercado de trabalho. "Grande parte das mulheres tem uma vontade imensa de aprender, e, quando elas se dedicam à profissão, são muito dedicadas. O que vejo que é necessário ainda é a mulher se apresentar para certas profissões", afirma.

Simone Magalhães: 'A mulher consegue trabalhar em diversas frentes ao mesmo tempo'

Referência nacional na perícia econômico-financeira, Simone Magalhães foi presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (Corecon-RS) em 2016. Antes dela, somente quatro mulheres haviam ocupado o posto. Sua história com a Economia começou quando ainda cursava Engenharia de Alimentos e trabalhava na área financeira de uma empresa, até que um conselho do chefe, que era economista, a fez trocar de curso na Unisinos.
Hoje, Simone é mestre em Administração Estratégica, pós-graduada em Economia Empresarial, possui MBA em Finanças e Controladoria e é diretora do Instituto Brasileiro Autônomo de Ciências Forenses (Ibacf). Já deu aula em universidades e integra o corpo docente de cursos de pós-graduação da Fadergs, Ibgen e Pucrs. Também é a única professora gaúcha do curso de educação continuada do Conselho Federal de Economia (Cofecon) para qualificação de peritos.
Como economista, é perita adoc (não concursada) da Delegacia de Lavagem de Dinheiro e da Delegacia de Repressão aos crimes contra a Administração Pública e Ordem Tributária da Polícia Civil. Seu trabalho é a investigação de crimes financeiros: produzir a prova, mapear de onde vem o dinheiro e até apurar casos de desvio de dinheiro público.
Ao longo da sua trajetória, Simone diz nunca ter tido dificuldades profissionais colocadas pelo gênero, embora reconheça que existe preconceito. "A mulher sempre vai ter que ter mais cuidados que o homem, porque existe aquela visão de que 'chega o homem de gravata e chegamos nós de salto alto'. Mas entendo que, independentemente disso, pelo menos na perícia, a competência técnica está muito parelha."
> Confira o que disse Simone Magalhães

A economista acredita que o que faz diferença é o resultado do trabalho. "A mulher consegue trabalhar em diversas frentes ao mesmo tempo. Temos uma percepção mais aguçada, mais detalhista. Nos destacamos em todas as 49 macroáreas da Economia justamente pelo perfil que temos como mulher", acredita.

Lúcia Garcia: 'A mulher tem um olhar diferenciado sobre o mundo'

Dar voz a segmentos mais vulneráveis da sociedade foi o que levou a economista Lúcia Garcia a desempenhar o seu trabalho hoje. Egressa do ensino público, entrou na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) quando o País se reerguia da ditadura militar e discutia as Diretas Já.
Desde então, a militância passou a fazer parte da sua trajetória pessoal e profissional, e, há 25 anos, Lúcia compõe o corpo técnico de economistas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), onde é coordenadora nacional da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Antes disso, foi também professora universitária da Unilasalle, na Região Metropolitana da Capital.
O trânsito pelos campos da política e da economia tornaram a questão do gênero muito presente na trajetória de Lúcia. "Nunca naveguei em outro mar onde os homens não fossem a maioria", diz. Apesar disso, ela destaca que o corpo técnico do Dieese é composto por muitas mulheres, sobretudo pela parcela representativa delas atuando nos campos de pesquisa.
"As mulheres ocupam cargos nas áreas das estatísticas e da política social porque isso não interessa aos homens. Em geral, os economistas vão para áreas de negócios e de decisões dos estados nacionais, como as secretarias de Fazenda, as discussões orçamentárias e as posições de mando", exemplifica.
> Confira o que diz Lúcia Garcia
A contribuição da mulher para a Economia, diz Lúcia, representa um contraponto. Nas decisões econômicas, a presença feminina influencia, por exemplo, a manutenção dos programas de distribuição de renda e a preocupação com as secretarias de políticas para as mulheres. "A mulher tem um olhar diferenciado sobre o mundo, mais inclusivo, que vem do próprio espaço que as mulheres têm na sociedade em geral, das suas dificuldades de se colocar", diz.

Laura Carvalho: 'Estudantes e mulheres questionam mais a figura do economista homem'

A carioca Laura Carvalho viu seu nome ganhar projeção nacional depois do lançamento do livro Valsa brasileira - Do boom ao caos, que, mesmo tratando puramente de Economia, tornou-se um verdadeiro best-seller no Brasil, e que já está na sua quinta edição.
Muito antes do livro, a trajetória da economista se iniciou, ainda, na universidade, quando cursou Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), engatou o mestrado, ganhou o prêmio Bndes de Economia pela sua dissertação e partiu para os Estados Unidos para cursar doutorado na New School for Social Research.
A mudança de país coincidiu com o estouro da grande crise de 2008 e suas consequências mundiais, mudando totalmente o foco de pesquisa e até de pensamento econômico da economista, levando-a para o caminho da macroeconomia. De volta ao Brasil, deu aula na Fundação Getulio Vargas e, desde 2015, é professora do departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP). Também é colunista do jornal Folha de S.Paulo e integrou o grupo de trabalho que montou o programa de governo do candidato à presidência Guilherme Boulos (PSOL).
Laura atribui o sucesso "surpreendente" do livro à preocupação das pessoas por tentarem entender o momento atual do País, permitindo uma ponte maior entre a pesquisa acadêmica e o debate da economia aplicada. "As pessoas estão buscando explicações, ainda mais agora, diante de evidências cada vez mais claras de que a economia não se recuperou", avalia.
Em julho, Laura esteve em Porto Alegre para o lançamento do seu livro na Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) da Ufrgs. Na fila para os autógrafos, estudantes se apertavam no auditório enquanto comentavam sobre a importância de uma figura feminina estar ocupando o centro daquele debate, o que gerava inspiração e representatividade.
"Quando penso no livro e no que tem acontecido nas palestras, noto que há uma presença muito grande de mulheres, e tem um pouco de ser mulher nisso tudo: se, de um lado, sentimos que ainda há preconceito, por outro, há uma demanda maior das estudantes e das mulheres que questionam a figura do economista homem que vem de um estereótipo de mercado", diz.

Iracema Castelo Branco: 'As mulheres estão conquistando mais espaços'

A problemática social e o desenvolvimento econômico despertaram o olhar da maranhense Iracema Castelo Branco quando ela ainda era estagiária do Banco do Nordeste, aos 15 anos, e cursava o Ensino Médio em técnico em Contabilidade. Antes de optar pela Economia, ingressou na faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), mas a busca por melhores oportunidades, no entanto, a levaram para outros caminhos. Largou faculdade e trabalho, mapeou cidades que pudessem dar melhores perspectivas, até que chegou a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde seguiu trabalhando no setor bancário.
Foi só a partir de um livro dado por um amigo, anos depois, que Iracema decidiu entrar de vez para o mundo da Economia. Fez faculdade na Unilasalle, mestrado na Pucrs e, em 2014, passou no concurso da Fundação de Economia e Estatística (FEE), onde começou a trabalhar na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). "Tratar dos problemas sociais e da desigualdade de renda fez com que eu quisesse trabalhar nesta profissão", conta.
Desde que iniciou sua carreira profissional, ainda no Nordeste, a questão do gênero foi pano de fundo em situações que influenciaram, inclusive, sua remuneração no mercado de trabalho. "Vivenciei a situação de estar exercendo a mesma função que um colega homem e ele ter um salário praticamente 50% acima do que eu recebia, e isso era muito desestimulante", relata. A diferença salarial continuou mesmo depois de formada, quando seguiu recebendo menos que o colega sem graduação.
> Confira o que diz Iracema Castelo Branco
Para ela, o machismo no ambiente de trabalho ainda é muito presente, mas há uma mudança em curso, porque as mulheres buscam garantir mais espaço. "O fato de estar se debatendo sobre diferença salarial e a baixa representatividade das mulheres, seja no ambiente profissional de economistas, seja no ambiente de representatividade política, coloca em um patamar de discussão saudável e necessário para uma transformação", comenta.

Janile Soares: 'As mulheres conectam a economia ao mercado de trabalho'

O potencial de alcance da internet foi a aposta de Janile Soares para falar de finanças pessoais e educação financeira de maneira descomplicada. A economista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), mantém o blog A Economista de Batom e utiliza redes sociais para disparar dicas. A ideia surgiu da vontade de dar um retorno para a sociedade depois de formada.
Foi o gancho para direcionar o blog que já mantinha para falar de finanças, empoderamento feminino e consumo consciente. Entre os temas, Janile alerta para o "bombardeio do marketing" na internet e abre os olhos dos consumidores sobre pacotes bancários, por exemplo. A economista ainda dá palestras, consultoria e criou produtos como um planner financeiro para auxiliar na organização diária das contas.
Antes do blog virar um negócio, Janile trabalhou no setor bancário. Um dos motivos para largar o emprego, no entanto, foi a falta de perspectiva motivada, inclusive, pela diferenciação de gênero para alguns postos de trabalho. Há cerca de cinco anos, conta, o banco iniciou uma forte campanha interna para discutir a igualdade dos sexos. Apesar disso, não era suficiente para derrubar diretrizes sobre os cargos.
> Confira as ideias de Janile Soares
"Ainda existia uma situação um pouco velada. Por exemplo, eu queria trabalhar com atendimento à pessoa jurídica, mas era considerada uma tarefa mais masculina", relata. O cenário de mudança, na sua opinião, passa também pela universidade e pelo mercado de trabalho da Economia.

Victória Candemil: 'As mulheres se preocupam mais com os outros, são mais altruístas'

A estudante da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FCE-Ufrgs), Victória Candemil, representa a nova geração de economistas. Ela também faz parte da "geração empoderada" e acredita que a mulher tem pleno potencial para conseguir o que quer. "Nunca nem me passou pela cabeça que se eu me esforçar não vou conseguir chegar lá", decreta.
Antes de optar pela Economia, Victória cursou Engenharia de Alimentos, uma exceção dentro das engenharias pela grande presença de mulheres. Ela conta que sentia falta de uma visão humana e política, de entender o que acontece no mundo, e, por isso, decidiu pelo novo curso. Embora as colegas mulheres sejam minoria na Economia, a presença delas é significativa. "Quando entramos em uma aula e têm muitas mulheres, chegamos a brincar que a disciplina certamente é obrigatória de outro curso, como Relações Internacionais ou Contabilidade", comenta.
A estudante diz que nunca presenciou casos de machismo na FCE, mas que percebe alguns comentários quanto à trajetória profissional. "Falam que, se você almeja determinados cargos, como ser uma CEO, não vai poder ter filhos." 
 > Confira as ideias de Victória Candemil
Para Victória, algumas áreas da Economia são mais masculinas, como o mercado financeiro, mas não necessariamente por serem machistas, e sim porque as mulheres demonstram menos interesse nesse tipo de trabalho. "Vejo que as mulheres têm uma visão de se preocupar mais com os outros, são mais altruístas. A maioria dos meus colegas tem a visão de ganhar dinheiro, mas as mulheres realmente querem empenhar um papel na sociedade."