Área de trigo no RS deve ser a maior em sete anos, somando 1,1 milhão de hectares

Se confirmada a projeção de semeadura 15% superior a de 2020, esta será a segunda área cultivada mais expressiva em 10 anos

Por Thiago Copetti

Opção incentiva produção do cereal de inverno no Estado; avaliação é de que o trigo mantém a qualidade da ração para bovinos, ovinos e aves
O plantio de trigo no Rio Grande do Sul em 2021 deve superar pela primeira vez em sete anos uma área de milhão de hectares – o que não ocorria desde 2014. De 930 mil hectares em 2020, o Estado tende a plantar 15% a mais, alcançando 1,1 milhão de hectares neste ano. O estimulo para isso vem de todas as frentes, desde demanda crescente para alimentação animal até a maior capacidade financeira do produtor (capitalizado pela soja) para investir nas culturas de inverno no próximo ciclo.
Se confirmada a projeção, será a segunda maior área cultivada pelos triticultores gaúchos na década, superando o 1,038 milhão de hectares cultivados em 2013. Esse movimento da valorização das culturas de inverno em geral já desponta no horizonte – lembrando que o plantio de inverno tem início nas próximas semanas, em algumas regiões.
Assim como milho, soja, arroz e feijão, os preços pagos pelo trigo avançaram significativamente nos últimos meses. De uma média de R$ 45,00 a saca, a cotação saltou para próximo de R$ 80,00. Hamilton Jardim, coordenador da Comissão de Culturas de Inverno da Farsul, diz que os produtores de soja estão melhor remunerados e poderão absorver perdas – caso ocorram. O trigo é tradicionalmente mais sensível às intempéries climáticas e, por isso, tem um pouco mais de risco de perdas.
“O produtor de soja está com dinheiro no bolso, tem terra e máquinas paradas. E vai apostar mais nas lavouras de inverno para fazer dinheiro também na metade do ano, com esta e outras culturas valorizadas”, explica Jardim.
Ex-ministro da Agricultura e presidente do conselho consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra é um dos mais animados com as perspectiva para este ano. Turra lista diferentes motivos para o entusiasmo. Assim como Jardim, o executivo destaca que a terra ociosa no campo durante o inverno está com os dias contados.  “Temos 6 milhões de hectares com soja, mais uns 800 mil com milho. Já as culturas de inverno, somadas, têm pouco mais de 1 milhão de hectares. O restante, fica parado no inverno. É um desperdício de terra, de máquinas e financeiro”, afirma.
O ex-ministro compara a ociosidade de terras no Estado com um exemplar avanço do plantio de inverno no Paraná, por exemplo. De acordo com Turra, ao semear de forma abrangente milho, soja e trigo, os agricultores paranaenses alcançam hoje o equivalente a três safras. No Rio Grande do Sul, com a maior parte do campo parado no período de frio, temos o equivalente a 1,9 safra.
Turra acrescenta, ainda, que
 

Especialistas apontam vantagens históricas neste ciclo

Apesar de uma certa dose de risco climático maior (com chuva, frio e geada) o trigo tem lá suas vantagens – que neste ano são ainda maiores. O custo menor de produção e uma maior segurança genética das cultivares (que resistem mais às intempéries) estão entre elas.
Segundo o pesquisador do setor de Economia Rural da Fundação ABC, Cláudio Kapp Júnior, uma vantagem importante para o produtor neste ano é a média de cotação da cultura com preços superiores no momento da formação do orçamento. "Na safra de 2021 o agricultor vai economizar em média 390 kg de trigo grão por hectare para pagar o custo. Além disso, há uma expectativa de comercialização com bons preços”, assegura Kapp.
A isso se soma a perspectiva de que o resultado suba de aproximadamente R$ 527,00 para R$ 1.240,00 – ou seja, R$ 713 a mais por hectare trazidos pelos bons preços.
Kapp ressalta que o saldo é positivo para o produtor nesse ano mesmo com o aumento de aproximadamente 30% na composição dos custos variáveis do trigo. Essa pressão passou de R$ 2.461 em 2020 para R$ 3.204 em 2021 para a região de atuação da Fundação ABC, mas a cotação do preço pago aumentou 60% no período.
Tiago de Pauli, gerente regional Sul da Biotrigo Genética, explica que o otimismo é agronômico e mercadológico. Isso porque a maior qualidade das sementes atualmente oferta o trigo com características exigidas pelos moinhos em um momento de demanda e preços aquecidos.
“Tudo isso contribui para maior rentabilidade do produtor, renda e emprego para o Estado como um todo. A utilização vem se expandindo com uso no mercado da proteína animal, na fabricação de rações, o que dá liquidez ao grão”, analisa Pauli.