Presidente da Fecomércio-RS alerta para a necessidade de reformas e investimentos em produtividade

Luiz Carlos Bohn, presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS (Fecomércio), alerta para a necessidade de reformas e investimentos em produtividade, para que a recuperação seja sustentável e duradoura

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Caderno Dia da Indústria Entrevista com Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio.
Uma crise sem precedentes assolou os setores do comércio e, especialmente, de serviços, fazendo encolher sua participação na economia gaúcha. Ao vislumbrar uma lenta e ainda discretíssima retomada, os dirigentes evitam a euforia. O presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS (Fecomércio), Luiz Carlos Bohn, alerta para a necessidade de reformas e investimentos em produtividade, para que a recuperação seja sustentável e duradoura.
Jornal do Comércio - Como o setor de comércio e serviços deve fechar 2018?
Luiz Carlos Bohn - Do comércio esperamos uma recuperação de até 3% neste ano. Os serviços, porém, chegaram a ter uma queda de 2,6%, o que é muito expressivo. Então, se o setor chegar a próximo de zero, sem perdas até o final do ano, será muito bom. A crise foi devastadora, voltamos aos níveis de 2012. Perdemos oito trimestres consecutivos, com quedas no PIB. Isso reduziu o comércio gaúcho, com fechamento de milhares de lojas e muito desemprego. Já houve inversão da curva da crise, mas esperávamos uma reação mais rápida. Isso, porém, ainda não está acontecendo.
JC - Por que esse crescimento esperado ainda não se concretizou?
Bohn - Este ano temos eleições gerais, que provocam muita incerteza. A política interfere na economia. A queda na inflação é um fator positivo, mas ainda não foi sentida pela população, impactada pelo aumento em energia e combustíveis. Os níveis de empregabilidade estão muito abaixo do normal, o que também gera grande instabilidade e incerteza. E, por fim, ainda precisamos ter garantia sobre as reformas que precisam acontecer. Temos que estar certos de que, independentemente dos governantes escolhidos, as reformas terão avanços.
JC - O comércio é um grande gerador de emprego. Como está a retomada dos postos de trabalho?
Bohn - Com a crise, aprendemos que podemos fazer mais com menos pessoas. Isso é produtividade, que garante melhores salários e mais ganhos para trabalhadores e empresas. Na prática, ainda não vimos uma retomada forte nas contratações. Temos quase 50% do PIB, com a maior empregabilidade. Mas somos uma cadeia, todos precisam crescer para que o comércio e os serviços cresçam.
JC - Como a entidade vê o ambiente para os empreendedores no Rio Grande do Sul?
Bohn - Com preocupação. Parece que o empresário, cada vez mais, vive sob o julgamento de todos, como se estivesse sempre errado. É uma espécie de princípio da presunção de culpa (e não de inocência, como manda a lei). Além de todo o custo Brasil, com alta carga tributária e problemas de logística, ainda enfrentamos o humor dos órgãos fiscalizadores. Temos que avançar nisso para crescer.

É preciso vencer a burocracia

O longo e penoso processo para abrir empresas melhorou, segundo Bohn. Já não é tão difícil dar início ao funcionamento de um negócio no comércio ou em serviços. Mantê-lo aberto, no entanto, é o maior desafio. "Temos órgãos demais dizendo o que não funciona, o que não pode, o que não está autorizado. Desde questões ambientais até assuntos de segurança e legais. Precisamos urgentemente desburocratizar", afirma.