Paralisação afeta abastecimento no Rio Grande do Sul

Oferta de combustíveis, gás e hortifrutigranjeiros nas cidades já está prejudicada e alcança ponto crítico hoje

Por Guilherme Daroit

Na Capital, formaram-se filas em postos, como na avenida João Pessoa
Com a paralisação dos caminhoneiros chegando hoje ao seu quarto dia, o impacto da greve começa a ser sentidos mais fortemente no Estado e no País. A situação deve alcançar o ponto crítico nesta quinta-feira, em especial em postos de combustíveis, distribuidoras de gás e produtos perecíveis, como hortifrutigranjeiros, laticínios e carnes, que já começaram a faltar ontem.
A situação mais complicada é a dos combustíveis, pois, além dos estoques dos postos serem relativamente pequenos – em média o suficiente para dois ou três dias de consumo normal – a corrida dos motoristas às bombas ajuda a secá-los ainda mais rapidamente. Em Porto Alegre, formaram-se grandes filas em diversos postos, como na esquina das avenidas João Pessoa e Venânio Aires.
Segundo o Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Estado (Sulpetro), a crise foi mais forte na quarta-feira em municípios mais afastados da Capital, como na Metade Sul. Santa Vitória do Palmar, no Extremo Sul, chegou a declarar situação de emergência ontem pela falta generalizada de combustível na cidade. A prefeitura declarou todos os estoques de combustíveis na cidade como de utilidade pública para fins de desapropriação.
“Isso vai acabar acontecendo em todo o Estado. Hoje teremos sérios problemas, pois o aumento na procura reduz o tempo de duração dos estoques, que não têm reposição”, analisa o presidente do Sulpetro, João Carlos Dal’Aqua. Para piorar, a entrada e saída de caminhões na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, de onde sai grande parte do combustível para as distribuidoras, foi bloqueada ontem por motoristas de aplicativos de transporte individual.
O dirigente projeta que devem faltar, inicialmente, produtos pontuais, com tendência a se esgotar antes a gasolina por conta da corrida aos postos, mas lembra que há outros desdobramentos, como a possível falta de diesel a geradores de hospitais, por exemplo. “Se persistir nessa intensidade, vai trazer o caos”, continua Dal’Aqua, que pede serenidade e compreensão à população. “Não terá solução rápida, pois não há solução simples para problemas complexos”, continua o dirigente.
Nos supermercados, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) também já acusa desabastecimento de produtos perecíveis em municípios das regiões fronteiriças, mais distantes da Capital. Embora ainda pontual, o problema deve se tornar mais agudo hoje por se tratarem de produtos de alto giro, como hortifrutigranjeiros, laticínios e carnes. Além disso, a Ceasa da Capital, responsável por cerca de 40% do abastecimento de hortifrúti do Estado, teve ontem um dia praticamente parado. Segundo a Ceasa, nenhum atacadista, por exemplo, que traz de outros estados produtos em entressafra, conseguiu chegar com alimentos. A expectativa é pelo que acontecerá hoje, pois a quinta-feira é um dia de maior movimento na Ceasa.
O cenário é melhor em relação aos produtos não perecíveis, uma vez que, segundo a Agas, os estoques de segurança dos supermercados nessa categoria cobrem, em média, 15 dias de vendas.
Outro setor que teme os reflexos da greve é o de distribuição de gás de cozinha. O Sindigás, que representa as empresas distribuidoras brasileiras de gás liquefeito de petróleo (GLP), afirmou ontem em nota preocupação “com a possibilidade de desabastecimento do produto” por conta de as empresas não conseguirem levar gás, seja botijão ou a granel, até as revendas. A Associação Brasileira dos Revendedores (Asmirg) corroborou na projeção, informando que os estoques das revendas, em média, se limitam a apenas um dia de consumo. “A previsão, caso não haja mudanças, é de desabastecimento em grande parte das revendas brasileira pela falta do gás de cozinha”, afirma, em nota, a Asmirg.
Já o abastecimento de gás natural comprimido (GNC) não deverá ser atingido em grande parte do Estado, segundo a Sulgás, por conta da distribuição feita via gasodutos. Apenas cinco indústrias e 15 dos 85 postos de combustível que atuam com gás natural devem ser impactados caso a greve persista. Os clientes residenciais e comerciais são 100% atendidos por gasodutos e não devem ser afetados.

Frigoríficos, fábricas e até Correios suspendem serviços

A paralisação dos caminhoneiros afetaram outras indústrias e serviços, que passaram a trabalhar em regimes especiais ou mesmo suspenderam as atividades. Nos frigoríficos, por exemplo, 129 empresas paralisaram em todo o País ontem, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A entidade ainda projeta que, se os bloqueios continuarem, até sexta-feira mais de 90% da produção de proteína animal brasileira (209 fábricas) será interrompida. No Estado, a cooperativa Cosuel (Dália Alimentos), de Encantado, comunicou a suspensão dos abates de suínos a partir da sexta-feira por conta do esgotamento da capacidade de estocagem. Já a cooperativa Languiru paralisa o abate de aves em Westfália já hoje e o de suínos, em Poço das Antas, na sexta-feira. A BRF também paralisou suas atividades nas unidades de Garibaldi e Marau.
Ontem, foram registrados 45 pontos de bloqueios no Rio Grande do Sul, segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar, sem interdições totais das vias. Os maiores foram registrados em Viamão e Capivari do Sul, na ERS-040; em Taquara, na ERS-
-020, e em Montenegro, na ERS-
-240. Em Santana do Livramento, caminhoneiros e agricultores bloquearam a BR-158, no acesso à BR-293. A Polícia Rodoviária Federal parou de informar pontos de bloqueio pela alternância e quantidade de locais.
As montadoras de automóveis paradas chegaram ontem a 16 em todo o País, e, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), podem chegar a totalidade do setor brasileiro caso a greve chegue ao fim de semana. A GM, em Gravataí, já havia parado na terça-feira.
Os Correios ainda paralisaram ontem as postagens do Sedex com dia e hora de entrega marcados. Correspondências e outros serviços seguem sendo aceitos, mas com acréscimo no prazo.

Transporte público será reduzido hoje

A falta de combustível nos postos mudará a circulação dos ônibus na Capital e na Região Metropolitana de Porto Alegre hoje. Na Capital, os coletivos operam normalmente nos horários de pico – até as 8h30min e entre 17h e 19h30min. Nos demais horários, as viagens serão de hora em hora. O esquema no turno da noite será definido amanhã.
O atendimento emergencial será seguido pelos ônibus metropolitanos. A Metroplan autorizou que as empresas de ônibus circulem com escala de sábado (com menos horários) nos períodos de baixa demanda. Os horários de pico seguem com a tabela normal.
O transporte aéreo também pode paralisar. Segundo a Fraport, os fornecedores de combustível não chegaram ao aeroporto Salgado Filho ontem e, por isso, o terminal está operando em níveis de reserva. “É possível que a partir de amanhã (hoje) haja impactos em nossa operação”, afirma a empresa. A recomendação aos passageiros é de que entrem em contato com as companhias para confirmar seus voos.