Programa quer incentivar uso do biogás no Rio Grande do Sul

Projeto de lei de apoio ao biocombustível será protocolado hoje

Por Jefferson Klein

Iniciativa estadual prevê recursos da ordem de R$ 50 milhões
Vista como uma solução ecologicamente correta, a geração de biogás (feita a partir de dejetos orgânicos provenientes de criações de suínos, aves e gado, por exemplo) está prestes a receber um novo incentivo no Estado. Na tarde de ontem, a sugestão de um programa pró-biodigestores (equipamentos voltados para a produção do biogás) foi entregue ao governador José Ivo Sartori (PMDB), no Palácio Piratini, pela presidente da Frente Parlamentar de Apoio à Matriz Produtiva dos Biodigestores, Zilá Breitenbach (PSDB). Hoje, a deputada protocola um projeto de lei na Assembleia Legislativa para amparar esse segmento.
Entre outros itens que constam no documento estão a organização do programa pró-biodigestores, a ideia da abertura de linhas de financiamento específicas e incentivo quanto ao ICMS para quem queira investir no desenvolvimento dessa cadeia produtiva. Zilá afirma que o programa será construído em conjunto com as contribuições do Executivo, e a meta é colocar a biodigestão como um fator de desenvolvimento econômico.
O governo do Estado já possui um programa relativo ao biometano (biogás purificado), e a parlamentar espera que o biogás também seja contemplado. A deputada argumenta que a produção do biometano requer equipamentos mais sofisticados e, muitas vezes, o pequeno agricultor não consegue atingir esse nível tecnológico. "Eu entendo que o biometano exige projetos de maior valor econômico, inclusive na sua implantação, então queremos ampliar as oportunidades", frisa.
O diretor de Planejamento e Programas da Secretaria estadual de Minas e Energia, José Francisco Braga, atesta que o biogás e o biometano são diferentes. O biogás pode ser usado na geração térmica e elétrica, mas não aproveitado como combustível de automóvel como o biometano. O biogás, se utilizado em veículos, prejudicaria a vida útil dos motores e teria um grau maior de emissões atmosféricas.
Ao receber de Zilá o diagnóstico sobre os resíduos orgânicos gerados no Rio Grande do Sul, sua potencialidade e os desafios enfrentados por vários municípios, o governador José Ivo Sartori defendeu que é preciso tornar a produção do biogás algo acessível para o pequeno agricultor. Outro ponto sustentado pelo governador é a necessidade de disseminar o conceito de preservação do solo e da água.
A presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e secretária do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, ressalta que o Estado conta, cada vez mais, com produção de suínos, aves e gado leiteiro, o que proporciona uma enorme quantidade de dejetos, que acabam contribuindo para a poluição ambiental e contaminações. Uma das soluções para esse problema, conforme a secretária, é justamente a biodigestão.

Fepam firmará convênio com a Embrapa para análise do solo gaúcho

Antes que termine o primeiro semestre deste ano, Fepam e Embrapa fecharão uma parceria para avaliar as condições do solo do Rio Grande do Sul. A meta é identificar em que locais dejetos de aves, suínos e gado ainda poderão ser utilizados como adubo e em quais essa ação não será mais possível.
A presidente da Fepam e secretária do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, adverte que, se algo não for feito, existe o perigo de interromper a autorização de novas criações para reduzir a geração de resíduos. "Nós sabemos que determinadas regiões estão saturadas", alerta. Ana reitera que o convênio tem como foco obter uma visão sobre a situação do solo de todo o Estado e, a partir daí, serão definidas políticas públicas adequadas.
Cada proprietário fará o exame químico do seu terreno e, com esses dados, será alimentado um software. Esse sistema é que apontará onde os dejetos ainda poderão ser aproveitados como adubo e quais lugares não. A presidente da Fepam enfatiza que se trata de uma análise simples e barata, e que a questão já foi discutida com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS). A secretária espera que, até o final do ano, todo o mapeamento seja concluído.