Empresas de máquinas projetam um ano positivo

Previsão é de alta de 10% em relação a 2017; safra é o maior incentivo

Por Carolina Hickmann

Retomada da economia reflete na capacidade de novos investimentos
Bons resultados da agricultura no ano anterior e indicadores positivos de safra para este ano contribuíram para o retorno do otimismo no setor, especialmente no segmento de máquinas agrícolas, um dos mais impactados quando o cenário para o campo não vai bem. O crescimento de vendas deste ano deve ser 10% superior ao registrado no ano passado, o que significará a consolidação da retomada iniciada ainda em 2017, segundo a avaliação de expositores de máquinas da 25ª Agrishow, que acontece em Ribeirão Preto, São Paulo, até o dia 4 deste mês.
O gerente de vendas da Mahindra, Jalison Cruz, aposta que o segmento deve comercializar o total de 44 mil tratores em todo o País em 2018 - número que levaria ao aporte de 10% previsto. A marca, que conta com fábrica em Dois Irmãos (RS), pretende aproveitar a conjuntura favorável para efetivar algumas metas. "Nosso share de mercado ainda é pequeno, mas queremos ampliá-lo de 2% para 5%", relata Cruz. A própria Agrishow passou a ser termômetro para essa recuperação. "Nas primeiras 48 horas de feira, tivemos incremento de, justamente, 5% nas vendas", comenta o executivo da Mahindra, ao destacar que 45% dos negócios iniciados na feira são concretizados no local, enquanto parte do restante costuma ter desfecho no prazo de um mês.
A Mahindra está presente no Brasil desde 2013, e desde 2016 conta com a unidade fabril no Estado, que hoje opera a 70% de sua capacidade, de mil tratores ao ano. A intenção da empresa é alimentar os demais países da América Latina com produtos da marca fabricados no Brasil a partir do segundo semestre. Para suprir a demanda extra de vizinhos como Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, um plano de ampliação da fábrica de Dois Irmãos e a construção de outra unidade estão em elaboração. No momento, a viabilidade de local está em discussão, podendo ser criada outra planta no Rio Grande do Sul ou em São Paulo.
A expectativa positiva é acompanhada pelo presidente da AGCO, Luís Fernando Sartini Felli, que confia nas projeções de colheita como impulsionadoras de renovação de frota. "No Rio Grande do Sul, a soja está com média de 60 ou 70 sacas por hectare. Os preços praticados também estão ajudando, isso gera uma atmosfera boa em investimentos", argumenta. Assim, a marca preparou-se para atender à demanda ocasionada pela boa conjuntura. A unidade fabril de Ibirubá, por exemplo, já está preparada para produzir o novo ciclo de plantadeiras de 30 ou 40 linhas, que tem comercialização prevista para o ano que vem.
Pela avaliação do presidente do conselho da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan, o aumento da procura por máquinas e equipamentos agrícolas sinaliza um passo importante de uma recuperação sustentável da economia no geral. A manutenção da curva de crescimento, por outro lado, estaria condicionada a reformas estruturais, como a previdenciária.
O presidente da Agrishow e vice-presidente da Associação Brasileira de Agronegócios (Abag), Francisco Maturro, comemora o momento vivido, ao lembrar que a entidade foi criada há 25 anos, para atender a demandas do segmento em uma conjuntura econômica atípica. Com o mesmo intuito, lembra, a associação atuou nos últimos anos de recessão econômica, e seguirá com os trabalhos neste momento de recuperação.  

Redução dos impactos ambientais passa a ser foco dos fabricantes

Uma utilização eficiente de insumos na agricultura não só gera redução de custo de produção, como também baixo impacto ambiental. Atentos a isso, a PLA do Brasil está na Agrishow divulgando seu novo modelo de distribuidor de sólidos, o Pegasus 4.6 air.
Projetado para diminuir os problemas de falta de homogeneidade com barras de 30 metros com defletores, a máquina tem vantagens em seu rendimento final. "Com esse modelo, temos variação de aplicação de apenas 2% ao longo da barra, enquanto a disco este número é de cerca de 20%, a depender das condições climáticas, que têm interferência direta, como o vento", conta o diretor de vendas e marketing da empresa, Maximiliano Cassalha.
A estrutura ainda permite a aplicação de produtos sólidos sobre áreas já plantadas. Cassalha comenta que, de modo geral, esse artifício gera ganho de aproximadamente 15 dias no ciclo da cultura de cobertura, e permite diminuir o excesso de aplicação de herbicidas no manejo de ervas daninhas - especialmente no que diz respeito a mistos de produção ligados à soja. Assim, a menor utilização de defensivos acarreta em redução do impacto ambiental.
Também ligados à questão ambiental, a FPT Industrial, pertencente ao grupo CNH, aposta em testes de calibração de motores a combustíveis fósseis. O grupo também é responsável pelo desenvolvimento de motor que utiliza exclusivamente biometano, usado em protótipos de tratores T6 da New Holland, que devem chegar ao mercado nos próximos três anos.
Além disso, durante a feira, a FPT expõe no estande da marca protótipo de gerador de energia de 150 kVA equipado com motor NEF6, também movido pelo biogás. O presidente da FPT Latino América, Marco Rangel, conta que a marca confia no biometano como fonte energética, por ele não competir, por exemplo, com a alimentação. "Etanol de milho ou cana-de-açúcar competem, mas o biogás vem de rejeitos da própria fazenda", argumenta, ao sugerir a possibilidade de granjas autônomas.