Empreendedores da oportunidade e da necessidade

Gaúchos largaram a comodidade de seus empregos e arriscaram no próprio negócio

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Carlos Lykawka largou estabilidade da carreira no Judiciário para apostar em lojas dedicadas ao café
Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), lançado em janeiro deste ano, prevê uma taxa de desemprego para 2018 quase igual a de 2017. Se considerada apenas a região latino-americana, no entanto, haverá uma redução no indicador, passando de 8,2% em 2017 para 7,7% até 2019. Neste cenário, empreender torna-se uma alternativa viável de produção de renda, mas nem sempre é o caminho mais fácil.
Segundo o gerente da Regional Metropolitana do Sebrae-RS (que integra 37 municípios, considerando Porto Alegre), Paulo Bruscatto, existem dois tipos de empreendedores: os por necessidade, fenômeno mais comum no Brasil, e os que olham uma oportunidade e se lançam a partir daí. De acordo com Bruscatto, o segundo modelo tende mais ao sucesso financeiro. "Os empreendedores por necessidade têm muito mais dificuldades porque a demanda não está no cliente e, sim, na sustentabilidade do empreendimento. Já os que encontram um nicho de negócio, possuem mais vantagens."
Ainda de acordo com o especialista, os empreendimentos voltados para o setor de serviços seguem os mais procurados. "Especialmente, a busca por capacitação na base tecnológica de serviços é grande, mas o campo da alimentação, da estética e da moda também é vasto em oportunidades", diz o gerente da Regional Metropolitana do Sebrae-RS.
O empresário Carlos Eduardo Lykawka, dono das cafeterias Tostare Café e Armazém do Café, é um entre os empreendedores que decidiu arriscar a carreira em uma nova visão de negócio. Lykawka trabalhou na área de informática e gestão de pessoas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por 10 anos, até abrir a Tostare Café, localizada no Shopping Centerlar, na avenida Sertório 8.000. "Nunca foi um sonho, era mais uma visão de negócio. Conheci e me interessei pela franquia em um evento sobre empreendedorismo. Guardei dinheiro para abrir e para me manter no negócio e fui tocando o projeto", diz o empresário.
A cafeteria foi inaugurada acompanhando a fundação do Center Lar, em 2009 - o que permitiu vantagens na negociação do aluguel. "A dificuldade inicial foi a escassez de lojas, na época éramos nós e outra cafetaria, além do Zaffari e da Cassol, que são as âncoras do empreendimento", diz o proprietário. Ele afirma que demorou dois anos até a estabilidade da Tostare Café.
Como dica, Lykawka ressalta a importância de ter um capital reserva quando surgir a possibilidade de empreender. Também declara que o trabalho é muito maior, e que sentir-se realizado é fundamental. "Com a crise financeira no País não tenho conseguido arrecadar mais do que quando trabalhava no tribunal, na realidade eu nunca ganhei mais, mas eu gosto muito mais do que faço", ressalta. A Tostare Café só está representada em Porto Alegre pelo empreendimento no Shopping Centerlar.
Após a consolidação de sua primeira cafeteria, Lykawka lançou-se para a segunda, esta com uma nova proposta. "Queria fazer outro conceito de loja, com a venda de artigos relacionados ao tema café", conta o proprietário também do Armazém do Café, localizado no Lindoia Shopping.

Barba, cabelo e bigode

Outro exemplo de empreendedores que largaram o emprego fixo em busca do negócio próprio é o de Mateus Grazziotin, que começou a carreira como estagiário na área de logística da Gerdau. Apesar de ter crescido na empresa, largou a comodidade e, poucos anos depois, inaugurou a barbearia Velho Tranquilo, hoje com duas sedes em Porto Alegre.
Formado em comércio exterior pela Unisinos em 2006, Grazziotin trabalhou de 2004 a 2013 na empresa siderúrgica. Como trainee, passou por diferentes filiais até pedir as contas por insatisfação na rotina de trabalho e por não se sentir mais realizado com a função. "Tentei vários projetos antes da barbearia, todos voltados para o serviço", diz o empresário. Ele se interessou pelo segmento de estética quando conheceu a Barbearia Independência, de Passo Fundo, sua terra natal. "A Independência foi a primeira que investiu neste novo conceito de barbeira no Rio Grande do Sul. Me interessei pelo negócio e acabei entrando como sócio das proprietárias."
A sociedade não durou muito tempo e Grazziotin buscou criar sua nova marca. Comprou a parte das duas outras sócias e investiu mais R$ 250 mil para abrir a primeira barbearia Velho Tranquilo, em 2016, localizada na rua da República, 494. "Deu supercerto na Cidade Baixa, e a marca ganhou estabilidade mesmo com a concorrência grande", diz o empresário. Ele acrescenta que a marca também tem ligação com sua história: "Tranquilo é o nome do meu avô, que foi empresário em Passo Fundo. Estou levando o nome da minha família no negócio, acho isso muito motivador".
A segunda sede no |Moinhos de Vento completará um ano e a marca se encaminha para virar franquia. "Atualmente, meu negócio é mais lucrativo do que meu antigo trabalho", diz Grazziotin. 
 

Publicitária investe em viagens patrocinadas

Ganhar dinheiro para viajar. O que parece ser um sonho para muitos, é o sustento da publicitária Roberta Martins. Há seis anos ela abastece o site Territórios com dicas de turismo, guias e relatos de suas rotas pelo mundo. "O site veio do hábito de escrever sobre minhas viagens desde criança, criei o blog para a família me acompanhar, mas foi crescendo muito", relata a blogueira.
Antes Roberta trabalhou como designer em agências de publicidade em Porto Alegre e São Paulo. Ela explica que durante a graduação pela Unisinos e em seus primeiros estágios foi o período em que começaram a surgir os blogs, então o contato com a web começou cedo. O site se manteve despretensiosamente até chegar os convites para patrocínio das viagens. "Nunca tive estabilidade, trabalhei muito como freelancer, então foi mais fácil aceitar a proposta", conta a empreendedora. 
Roberta explica que as fontes de renda do negócio são variadas, desde comissões por divulgação de hotéis, passagens aéreas, campanhas e passeios turísticos e seguros viagens, até a venda de seus guias e os acessos que acumula nas redes sociais do Territórios. "Hoje em dia, eu trabalho muito mais do que em qualquer empresa convencional", ressalta. Em 2017, e empreendedora recebeu o prêmio de melhor conteúdo em blogs de viagem na Feira Internacional de Turismo de Madri - Fitur 2017, o que lhe rendeu mais acessos, convites para palestras e a valorização do seu trabalho. "Mesmo não tendo equilíbrio financeiro, com meses bons e outros ruins, minha qualidade de vida é muito melhor", conclui Roberta.