Sírio-Libanês avaliará opções do Beneficência

Hospital vai fazer estudo sobre reestruturação administrativo-financeira

Por Isabella Sander

Fotos da fachada do Hospital Beneficência Portuguesa, que será administrado pelo Hospital Sírio Libanês.
Passando por grave crise financeira desde a rescisão de contrato com a prefeitura de Porto Alegre, há mais de três meses, o Hospital Beneficência Portuguesa ganhará uma consultoria gerida pelo Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, para tentar se reerguer. O estudo começa na semana que vem, pago pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde.
Durante três meses, o Sírio-Libanês fará um trabalho visando à reestruturação administrativo-financeira do hospital gaúcho. Depois disso, os consultores do hospital paulista entregam o resultado do estudo à gestão do Beneficência e vão embora. "O Sírio não irá assumir o Beneficência, só fará a reformulação", esclarece o deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), que articulou, junto ao Ministério da Saúde, a realização da consultoria. O trabalho envolverá capacitação de recursos humanos e apoio ao desenvolvimento de técnicas e operações de gestão em saúde.
O presidente do Beneficência Portuguesa, Augusto Veidt, ainda não foi contatado oficialmente pelo Ministério da Saúde sobre a escolha do Sírio-Libanês, mas alega que a realização da consultoria já era prevista. "Não há novidade. Eles entraram em contato conosco em janeiro, e já estava certo que o estudo seria feito, só não estava designado quem faria", explica.
No Brasil, há seis hospitais credenciados para fazer esse tipo de trabalho - entre eles, o Moinhos de Vento, de Porto Alegre. Porém, como a logística não permitiu que o consultor fosse o Moinhos, o Sírio foi incumbido da tarefa.
Articulador dos acertos com o Ministério da Saúde, Goergen relata que foi procurado por um grupo de médicos, que pedia ajuda para evitar o fechamento do Beneficência. "Me coloquei à disposição e marquei uma reunião em Brasília. Como o hospital está inadimplente e não pode receber verbas públicas, conseguimos apoio através do Proadi-SUS, para acertar um novo formato de gestão do estabelecimento", conta.
Para o deputado, essa é uma conquista importante na luta pela manutenção da tradicional instituição. "Se dá para salvá-la, não sei, mas não há estrutura melhor para disponibilizar para a população. É um hospital de renome nacional", ressalta.
Em paralelo à consultoria, está em andamento, desde dezembro, a realização de uma auditoria econômica, contábil e financeira, sob responsabilidade do Banrisul. A estimativa é que esse estudo seja finalizado em até 90 dias. "Não estamos pressionando, porque é um trabalho complexo. Está tudo andando conforme o programado", assegura Veidt. Segundo o presidente do Beneficência, tratam-se de trabalhos complementares - enquanto a auditoria investiga o passado da instituição, a consultoria visa ao seu futuro.
Para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, a consultoria é um passo decisivo para a recuperação da instituição. "Agora, temos certeza de que vamos recuperar o Beneficência e que ele voltará a atender com capacidade plena", afirma.

Hospital poderá abrigar 30 leitos psiquiátricos

Enquanto os estudos são feitos, seguem as negociações com hospitais que possam assumir a instituição e planos de saúde interessados em se credenciar para atendimento. Uma das possibilidades aventadas é que o estabelecimento vire um hospital-escola para alunos da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Outra é fazer um contrato com a Cruz Vermelha, que funciona em outro ponto na avenida Independência.
Junto com as negociações, há a previsão de abertura de cerca de 30 leitos psiquiátricos. "É uma carência que poderemos suprir", aponta Veidt. O Estado anunciou que repassará verbas para essa demanda à prefeitura. "Leito psiquiátrico é mais fácil de manter, não precisa bloco cirúrgico, não exige muitos exames", observa Argollo. Apesar de fechado para atendimentos via SUS, o Beneficência ainda conta com cerca de 100 funcionários e tem ao menos três pacientes internados.