Festival em São Paulo celebra a obra de Villa-Lobos

Viva Villa! acontece na Sala São Paulo

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Com Isaac Karabtchevsky, Osesp promove nesta semana festival Viva Villa! e apresenta box de seis CDs com as 11 sinfonias do compositor gravadas integralmente
De hoje até domingo, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) apresenta o festival aberto ao público Viva Villa! na Sala São Paulo. A série de concertos inteiramente gratuita destaca a produção do maior compositor brasileiro: Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O evento marca o encerramento da gravação integral das sinfonias do autor pela Osesp, dirigida pelo maestro Isaac Karabtchevsky, e ainda o lançamento de uma caixa especial com os seis CDs, Sinfonias de Villa-Lobos (Naxos, R$ 90,00).
Além de aulas e bate-papos, serão apresentados três concertos sinfônicos, com a orquestra regida por Karabtchevsky, e dois concertos de câmara, sendo um com o pianista Lucas Thomazinho (premiado no Festival de Campos do Jordão 2017) e o Coro da Osesp sob a batuta da regente em residência da Osesp, Valentina Peleggi, e um com o violonista Fábio Zanon, o Quarteto Osesp e a participação de instrumentistas da Osesp e da Academia da Osesp. No domingo, um programa especial para crianças reúne o pianista Marcelo Bratke e os Coros Infantil e Juvenil da Osesp. Detalhes da programação no site www.osesp.art.br.
Para Arthur Nestrovski, diretor artístico da orquestra, a "presença avassaladora" da personalidade do compositor se faz sentir em cada nota: "É todo um mundo que se abre ao primeiro compasso de qualquer obra dele", afirma o gaúcho de Porto Alegre, a quem a "marca pessoalíssima e intransferível" de Villa-Lobos é o que atesta sua consagração.
O músico carioca é novamente o tema da pré-temporada da Osesp - a oficial começa em março -, em festival que celebra as 11 sinfonias pouco conhecidas de sua obra. As composições, comumente ofuscadas pelas Bachianas Brasileiras, foram revisadas pelo Centro de Documentação Musical da Osesp, pelo diretor artístico e por Isaac Karabtchevsky, que regeu a Osesp na primeira gravação integral delas por uma orquestra brasileira. "Villa-Lobos era uma esponja, ele tinha essa capacidade de absorver e impregnar essas influências com uma nostalgia bem brasileira, em forma de sonatas", explica o maestro. Executar as sinfonias revisadas em concertos gratuitos, conforme ele, é uma forma de mostrar o impulso que norteou a confecção da série, o de tornar uma obra pouco trivial acessível a todos.
Segundo Nestrovski, anualmente cerca de 60% do público total da Osesp assiste à orquestra de graça. "Mas oferecer Villa-Lobos ao maior público possível é quase questão de honra para nós." O diretor diz haver muitos projetos planejados, mas nenhum equivalente a este, que, para ele, é "único do ponto de vista artístico e representa uma contribuição especial à nossa música". Karabtchevsky sugere debruçar-se sobre a obra de compositores como Carlos Gomes (1836-1896) e Francisco Mignone (1897-1986), mas não pretende fazê-lo: "Vou deixar para as próximas gerações".

Lançamento especial resgata obra madura do artista

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) acaba de lançar um pacote de seis CDs que promete mexer na recepção e fortuna crítica da obra de Villa-Lobos (1887-1959): são as quase desconhecidas 11 sinfonias, cujas partituras foram submetidas a uma revisão minuciosa antes de serem gravadas com regência de Isaac Karabtchevsky.
O trabalho durou sete anos e talvez seja o principal acontecimento fonográfico ligado ao compositor carioca desde Villa-Lobos par Lui-même, uma caixa de 1991 - também com seis discos - que agrupava gravações regidas pelo músico em Paris no final da vida.
A Sinfonia nº 7 foi estreada pela Sinfônica de Londres; a nº 8 no Carnegie Hall de Nova Iorque com a Orquestra de Filadélfia; a nº 11 pela Sinfônica de Boston; e a nº 12 pela Sinfônica Nacional de Washington, todas orquestras de alto nível e prestígio. Porém, essas composições caíram em esquecimento, em parte, pela qualidade ruim do material orquestral - que continha centenas de erros. Sem edição confiável (e disponível) não se tocam nem se gravam obras, o que por sua vez contamina a avaliação crítica.
Karabtchevsky envolveu-se pessoalmente no projeto de edição junto ao Centro de Documentação Musical da Osesp (coordenado por Antonio Carlos Neves Pinto). Aos 83 anos, conclui o ciclo com vitalidade invejável: todas as obras foram "testadas" seguidamente em apresentações públicas antes dos registros fonográficos.