Bancada gaúcha votou contra pleitos de Temer

Votações mais polêmicas do ano passado não contaram com apoio da maioria dos deputados do Rio Grande do Sul

Por Lívia Araújo

Levantamento mostrou que havia R$ 3 bilhões em recursos destinados por parlamentares ainda não pagos
Se o perfil de voto da bancada gaúcha - composta por 31 parlamentares - na Câmara dos Deputados fosse o balizador em sete questões polêmicas que foram aprovadas na casa ao longo de 2017, o Palácio do Planalto teria sido vencido em projetos como o da terceirização e da reforma trabalhista, e ambas as denúncias contra o presidente Michel Temer (PMDB) teriam sido encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal, complicando a vida do peemedebista no âmbito da Operação Lava Jato.
Em 22 de março, o Projeto de Lei (PL) nº 4302/98, que permite a terceirização em todas as áreas, foi aprovado pelos deputados por 231 votos a favor, 188 contra e oito abstenções, e sancionado como a Lei 13.429/17. No entanto o placar na bancada gaúcha foi diferente, com somente 11 votos favoráveis e 15 contrários, além de cinco ausências.
A reforma trabalhista também foi voto vencido entre os gaúchos, em 27 de abril, com um placar um pouco mais apertado: 15 votos contrários, 13 favoráveis e três ausências.
A primeira denúncia contra o presidente Michel Temer, votada em 2 de agosto, teria sido levada ao Supremo Tribunal Federal se dependesse dos gaúchos: 18 parlamentares votaram pelo prosseguimento do processo, e 10 foram contra (com três ausências); já na segunda denúncia, analisada em 25 de outubro, foram 17 votos contrários ao arquivamento do processo, 10 favoráveis e duas ausências. O único deputado gaúcho a mudar seu voto foi Carlos Gomes (PRB), que votou contra Temer em agosto e a favor em outubro.
A votação da Medida Provisória (MP) nº 782/2017, que devolveu à Secretaria de Governo o status de ministério e deu foro privilegiado a Moreira Franco (PMDB), aliado de Temer indicado à pasta, também foi aprovada pela maioria da Câmara, mas rejeitada entre os gaúchos: foram 17 votos contrários à MP e 10 favoráveis.
Em 4 de outubro, a criação do fundo público para o financiamento de campanhas eleitorais, de R$ 1,7 bilhão, no bojo da reforma política, foi rejeitada por 15 deputados gaúchos e aprovada por nove. Outros sete parlamentares da bancada estadual deixaram de votar na ocasião.
Uma das últimas votações polêmicas da casa aconteceu em 29 de novembro. A chamada "MP do Trilhão" concede benefícios fiscais a empresas petrolíferas estrangeiras, como isenções na importação de máquinas e equipamentos usados na exploração de petróleo, e significa uma renúncia fiscal de cerca de R$ 1 trilhão até 2040. A proposta teve voto contrário de 12 deputados federais gaúchos e oito votos favoráveis, sendo também a votação que teve mais faltas dos gaúchos: 11 parlamentares não compareceram.

Consenso não é regra entre os partidos aliados; governista PP foi o mais infiel ao peemedebista

Embora o PMDB seja predominantemente fiel ao Planalto na maior parte das votações, todos os deputados da sigla votaram contra o governo, por exemplo, na criação do fundo público de financiamento de campanhas eleitorais, aprovado pela Câmara em 4 de outubro. Nos demais pleitos do governo, votou quase unanimemente a favor. Os dois únicos votos discordantes do restante da bancada foram de José Fogaça, que foi contra os projetos da terceirização e da reforma trabalhista.
A bancada governista menos alinhada a Temer nessas votações específicas foi o PP, onde não houve consenso em nenhuma das sete votações analisadas, e houve empate nas sessões que apreciaram as duas denúncias contra Temer. O deputado mais "infiel" da bancada - ao menos no tocante às pautas defendidas pelo governo federal - foi Afonso Hamm, que se posicionou contrário à reforma trabalhista, à lei das terceirizações e à "MP do Trilhão", com um perfil de voto semelhante à da bancada do PT, que previsivelmente votou contra o governo em todas as pautas - com exceção da criação do fundo público de financiamento de campanhas eleitorais, na qual todos os deputados petistas votaram a favor.
Já nas bancadas de oposição, quase não houve surpresa, mesmo porque, na maior parte das vezes, são siglas que "fecham questão" em relação às posições: os gaúchos de PT, PDT, PSB (que desembarcou do governo Temer no mês de maio), Rede e PCdoB, com exceção de faltas eventuais, deram todos os seus votos contrários às matérias defendidas pelo governo.
A bancada mais ausente nas sete votações citadas foi o PSDB, que tem como representante única a deputada federal Yeda Crusius. A parlamentar deixou de votar nas sessões que apreciaram o foro privilegiado a Moreira Franco, o arquivamento da segunda denúncia contra Temer e a "MP do Trilhão". Já o deputado que individualmente mais faltou foi José Otávio Germano (PP), que se ausentou das votações da terceirização, reforma trabalhista, a medida que deu foro privilegiado a Moreira Franco e a "MP do Trilhão". José Otávio só esteve presente às votações das denúncias contra Temer, nas quais votou sempre em favor do peemedebista.