CMPC planeja uma nova unidade no Rio Grande do Sul

Negócio na Metade Sul depende de mudança no parecer federal que impede compra de terras por estrangeiros

Por Patrícia Comunello

Diretor-presidente da CMPC, dona Celulose Riograndense, o executivo Hernán Rodríguez Wilson fez uma apresentação corporativa do grupo empresarial chileno.
O diretor-presidente da chilena CMPC, dona do complexo de celulose em Guaíba, Hernán Rodríguez Wilson, lembrou ontem, em Porto Alegre, que no dia 15 a companhia completou oito anos da aquisição da planta gaúcha, arrematada da Fibria em 2009, no término do primeiro ano da crise financeira que abalou o mundo após setembro de 2008. E ainda avisou: "Nos sentimos mais que brasileiros para seguir crescendo, nos sentimos parte da comunidade gaúcha".
A senha foi dada, e com mais precisão impossível. Fazer parte significa ter os interesses da companhia conectados com a base local, que inclui planos de expandir, com a implantação de uma nova unidade no Rio Grande do Sul. O CEO deixou claro que o grupo tem limitações de áreas e até perfil de plantas já instaladas para crescer no Chile. Também descartou aportes no Uruguai ou na Argentina.
O interesse foi confirmado por Wilson, que condicionou os planos à remoção de um problema que ronda a CMPC e outros grupos internacionais. Um parecer de 2010 da Advocacia-Geral da União (AGU) veta a compra de áreas por estrangeiros, o que teria paralisado decisões de mais de R$ 60 bilhões em aportes nos anos recentes de diversas nacionalidades. "O interesse obviamente é no Rio Grande do Sul e na Zona Sul", afirmou o CEO. Para poder instalar um novo empreendimento, a empresa precisa da base florestal, sentada em eucaliptos. A produção de processamento seria de mais de 1 milhão de toneladas de celulose ao ano, em novo projeto. "Hoje, está freada (a planta) pela limitação de empresas internacionais em comprar terras", reforçou o executivo.
Wilson observou que qualquer decisão do grupo de capital aberto, mesmo com eventual acordo que mude a regra de aquisição das áreas no Brasil, não sairá antes de 2021. Projetos como estes levam sete a nove anos, que é o período de crescimento e maturação das florestas. Ou seja, são investimentos para começar a produzir em 2028. A companhia não tem acompanhado tratativas no governo federal, garantiu o CEO, nem sabe se elas estão ocorrendo. No começo do ano, integrantes de entidades chilenas chegaram a se reunir com membros do governo federal em busca de solução.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e até o titular da pasta da Fazenda, Henrique Meirelles, chegaram a dar prazos, de um mês, para resolver a demanda em janeiro deste ano. Tudo indicava que haveria mudança no parecer. Mas nada acabou se concretizando. O CEO observou que as unidades brasileiras, que incluem a de Guaíba, outras em diversas regiões e pertencentes a outros grupos de celulose, estão entre as mais eficientes no mundo. O fator de crescimento da base de eucalipto é o que mais pesa, e ainda a produtividade, que pode resultar em preços mais atrativos para ganhar mercado. Em regiões da Europa, onde estão os complexos mais antigos, a base leva mais de 40 anos para completar o ciclo de colheita.
Um projeto adequado, para ser competitivo, deve ter garantidos ao menos 170 mil hectares de florestas de eucalipto plantada, citou o diretor-presidente da CMPC. Considerando que há sempre um percentual de reserva ambiental, o ativo em terras teria de ser superior a 200 mil hectares. Os chilenos também observaram que não há interesse em ampliar ou formar base com parceiros, quando um produtor planta e vende a madeira.
Também não há negociação com a sueco-finlandesa Stora Enso para qualquer acordo em relação a áreas que ela tem com produtores na região da Campanha e que se destinavam a uma planta que chegou a ser anunciada, mas foi abandonada com o impasse da compra de área.

Celulose Riograndense busca cobertura de prejuízo com paralisação de atividades

O complexo de Guaíba, que foi quadruplicado a partir de 2015, envolvendo R$ 5 bilhões - o maior investimento privado desde a implantação do polo petroquímico, na década de 1970, no Estado -, tem sua base no limite. Para dar conta da matéria-prima demandada para produzir 1,8 milhão de toneladas ao ano na unidade, a CMPC formou contrato com a Fibria para comprar a base de 100 mil hectares, sendo 39 mil produtivos, o antigo projeto Losango, que também abasteceria uma nova planta de celulose, que foi anunciada para a região de Rio Grande, mas acabou sendo cancelada devido à revisão de planos da Fibria.
 
Em 2017, a planta de Guaíba enfrentou parada fora dos planos, devido a falhas na caldeira da unidade 2. De agosto a novembro, não houve processamento, mantendo apenas a 1, que tem capacidade de 450 mil toneladas ao ano. Os problemas começaram a ser detectados no final de 2016, diz o diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes. O problema envolvia vazamento de água. A caldeira foi trocada, com envio de peças da Europa.
 
Agora, a empresa discute a cobertura do seguro. A seguradora Mapfre alega que a apólice não cobriria o defeito. A CMPC está discutindo e busca uma solução. "A posição é que sim, inclui, e nossa equipe jurídica está discutindo", disse Wilson. O impasse pode ir para a Justiça. As perdas em 2017 somam mais de US$ 200 milhões devido à parada. Mais de 90% da produção é exportada. Nunes diz que a produção de 1,8 milhão de toneladas deve ser alcançada no fim de 2018.