Ano foi melhor do que o esperado para o varejo, diz FCDL

Com queda na taxa de juros, entidade com atuação estadual prevê aceleração do crescimento em 2018

Por Guilherme Daroit

Expansão de vendas foi acelerada, mas não reverteu perdas, disse Koch
Projetando fechar 2017 com um aumento de 13,41% nas vendas do varejo gaúcho, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado (FCDL) comemora um ano melhor do que o esperado. Segundo a entidade, fatores como a queda acentuada dos juros e a liberação de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) ajudaram a retomar o crescimento após dois anos de queda nas vendas. Mesmo assim, a satisfação é limitada, pois a expansão ainda não reverte as perdas do setor durante a recessão.
"O aumento nas vendas é elevado, mas ainda longe do que precisaríamos para reverter as perdas desde 2013", analisa o presidente da entidade, Vitor Augusto Koch. O dirigente cita a liberação das contas inativas do FGTS como fundamental para a expansão, mesmo que boa parte dos recursos tenha sido destinada ao pagamento de dívidas. "Esse dinheiro acabou indo para o comércio. Mesmo quem quitou dívidas, limpou o nome e pode voltar ao consumo", argumenta Koch.
O dirigente saudou ainda a queda na taxa Selic, que começou 2017 em 13,75% a.a. e encerra o ano em 7% a.a., após o último corte, na quarta-feira passada. Primeiro, porque torna mais barato o crédito aos lojistas; e, segundo, porque ativa o consumo das famílias, na sua visão, por tornar a poupança menos atrativa.
O consultor de economia da FCDL, Eduardo Starosta, usa exatamente este movimento para explicar uma projeção maior de crescimento do comércio no PIB gaúcho do que no PIB nacional - enquanto no Rio Grande do Sul a entidade projeta fechar 2017 com aumento de 8,31%, no País a previsão é de apenas 1,67%. "Vimos, a partir do segundo semestre, que os gaúchos já começaram a sair dos títulos públicos, nos quais aplicaram muito durante a crise, e estão usando parte desses recursos no comércio", conta Starosta, que justifica o descompasso pelo fato de haver uma cultura poupadora maior no Rio Grande do Sul do que no resto do Brasil - o que teria prejudicado mais o varejo gaúcho durante a fase em que a poupança estava atrativa, mas agora o ajuda.
A retomada no segmento também foi sentida nos indicadores de emprego. Segundo os cálculos da FCDL, o varejo gaúcho emprega, atualmente, 522,5 mil pessoas, alta de 1,05% em relação a 2016. Na prática, isso significa 5,4 mil novos postos de trabalho. Além disso, a massa salarial mensal também registrou expansão, de R$ 866,8 milhões, em 2016, para R$ 918,8 milhões neste ano, crescimento de 6%. "É outra grande notícia, porque, com as pessoas ganhando mais, todo o ciclo produtivo é acionado, estimulando a indústria e o próprio varejo", continua Koch.
O que ainda não sentiu recuperação foi o número de lojas. Os estabelecimentos comerciais, que chegaram ao ápice de 104 mil pontos em 2013 e 2014, são agora 99.307 no Estado. O número é quase igual ao do fim de 2016, quando eram 99.328. O presidente da entidade imagina que a abertura de novos pontos nos próximos dias faça com que o total encerre 2017 acima do visto no ano passado. "A expectativa também é de crescimento mais acelerado para 2018, com vários projetos conhecidos de expansão de redes", justifica Koch. O dirigente conta, por exemplo, com a entrada da rede catarinense Havan no Estado.

Lojistas do Rio Grande do Sul projetam 2018 com crescimento que pode chegar a 5%

Projetando a continuidade na queda dos juros - a estimativa da entidade é que a taxa Selic feche 2018 em 6% -, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado (FCDL-RS) conta com um novo crescimento no setor para o ano que vem. Em todo o País, a entidade espera que as vendas no varejo cresçam de 3,5% a 5%. "Temos de positivo a inflação sob controle, os juros baixos e o fato de que, em ano eleitoral, historicamente, não há aumento de impostos", comenta o presidente da entidade, Vitor Koch. A perspectiva de melhoria nas exportações do agronegócio também auxilia no otimismo do setor.
O dirigente critica, entretanto, a morosidade do sistema bancário em transferir a queda nos juros básicos para os seus produtos. "Não adianta só baixar a Selic com um sistema com cinco bancos que formam um oligopólio e não diminuem os juros", reclamou, embora admitindo que, mesmo em queda, a inadimplência continua alta, fator que, além de preocupar o próprio varejo, embasaria a decisão dos bancos.
Outro fator que preocupa os lojistas segue sendo o imposto de fronteira, especialmente em relação às pequenas e médias empresas. "Essas lojas precisam buscar os produtos fora do Estado para poder competir em preço com as grandes redes, e aí são tarifados já na entrada", afirma Koch.
Para minimizar esses problemas, a entidade toca, junto a outras instituições, um projeto de câmaras setoriais de negociação entre lojistas e indústrias do Rio Grande do Sul. A intenção é juntar os varejistas para que consigam comprar em grande escala dentro do Estado, reduzindo o preço dos produtos. A primeira câmara será instalada no segmento do vestuário, tradicionalmente um dos que mais sofre com a fuga de capital gaúcho para indústrias de Santa Catarina e São Paulo. "É uma grande oportunidade de incentivar a indústria local, gerando emprego e renda", comenta.