Banrisul deve vender ações até 14 de dezembro

Presidente Michel Temer editará, nos próximos dias, decreto permitindo venda de papéis do banco para estrangeiros

Por Thiago Copetti

Instituição financeira fará road show internacional para investidores
Depois de reunião no Ministério da Fazenda, o vice-governador do Rio Grande do Sul, José Paulo Cairoli, afirmou ontem que a venda de ações do Banrisul deverá ser concluída até 14 de dezembro. Cairoli disse que o presidente da República, Michel Temer, editará, nos próximos dias, um decreto permitindo a venda de ações do banco para estrangeiros. "Usaremos o recurso para colocar os salários (do funcionalismo) em dia", afirmou o vice-governador.
Apesar de a venda a estrangeiros depender da autorização prévia do Conselho Monetário Nacional (CMN), o que ocorreu na segunda-feira, o governo gaúcho nem considerava a hipótese de não poder realizar o negócio. O foco nos fundos de investimento internacionais para a venda das ações está no horizonte do governador José Ivo Sartori desde o anúncio de que o Estado colocaria no mercado 49% ações ordinárias do banco, no início do outubro.
"Não temos dúvidas quanto a isso (autorização de Temer à venda). A assinatura pode sair a qualquer momento. Inclusive hoje (ontem, terça-feira). Prova de que a operação é tranquila é que conseguimos até mesmo uma reunião extraordinária do CMN para aprová-la", afirmou o secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes.
O processo de venda das ações do banco segue, até o momento, o previsto pelo governo no anúncio feito no dia 4 de outubro, de acordo com chefe da Casa Civil do governo gaúcho, Fábio Branco. Ele afirma ser o decreto de Temer apenas uma etapa "burocrática" do processo. A meta de encerrar o processo ainda em dezembro segue vigente, mas a data de início de uma das etapas mais importantes ainda não está definida.
Ainda não está certo quando tem início o road show internacional (fase em que o banco é apresentado a interessados estrangeiros pela própria diretoria e por instituições contratadas). A data depende basicamente da agenda oferecida pelos grandes investidores, e não seria definida pela própria instituição, de acordo com assessoria de imprensa do Banrisul. O certo é que será feito em breve um road show para investidores em países como Estados Unidos, Inglaterra e da Ásia. Um dos pontos mais polêmicos em relação ao negócio, a venda do controle acionário, de acordo com o vice-governador, está descartado.
"Não se fala mais (em venda do controle do banco por parte do Estado). A decisão já está tomada. Estamos vendendo o que é possível vender, mantendo o controle do Estado", disse Cairoli.
O que ainda não é fato, porém, é o nível de interesse dos investidores no assunto. Tanto que, desde o anúncio da venda (no dia 4/10), o preço das ações oscilou bastante - e para baixo. De cerca de R$ 17,00 no início de outubro, a cotação das ações BRSR6 - as mais negociadas, e cujo preço deve balizar o negócio - vem em queda quase constante (salvo pequenas recuperações pontuais) e ontem estava em R$ 14,20 - uma queda de cerca de 16% em apenas dois meses.
 

AGU tentará conciliação para que Estado possa aderir à recuperação fiscal

Se a venda do Banrisul segue o organograma previsto pelo governo gaúcho, o mesmo não se pode dizer da adesão ao Plano de Recuperação Fiscal dos Estados. Apesar de, no primeiro semestre e até mesmo no início do segundo, o clima parecia ser favorável ao fechamento do acordo, no caminho algo se interpôs nas negociações e azedou a aparente sintonia inicial entre o governo de José Ivo Sartori e o Tesouro Nacional (STN).
Depois de elogios feitos nas primeiras visitas dos técnicos do STN às medidas de controle e redução de gastos de Sartori, o processo passou a andar a passos lentos até emperrar e parar na câmara de arbitragem com mediação da Advocacia-Geral da União (AGU). Marcada para ter início nesta quinta-feira, a primeira reunião de arbitragem busca um consenso para duas visões divergentes sobre o mesmo tema: o percentual de gastos do governo gaúcho com pessoal, mais juros e amortizações.
Os técnicos do Tesouro vetaram a proposta de Sartori para fechar um acordo por entender que os gastos não chegam aos 70% da receita líquida, uma das exigências para aderir ao plano. A secretaria estadual da Fazenda se esforça para mostrar que sim, gasta mais do que 70% com este item, agora com apoio da Procuradoria-Geral do Estado na mesa de negociações. "Vale lembrar que não há divergência sobre o cálculo e os valores. A divergência é apenas no conceito do que é ou não gasto com pessoal", defende o secretário da Fazenda, Giovani Feltes.
Em Brasília para a primeira rodada de negócios com a STN, o procurador-geral do Estado, Euzébio Ruschel, está otimista com um acordo e com a conciliação da AGU. "O problema é que existem duas regras e definições para a mesma questão. Enquanto a Lei de Responsabilidade Fiscal prevê determinados itens para o cálculo do que é gasto com pessoal, o Plano de Recuperação Fiscal aprovado pela União tem outras referências", diz Ruschel.