O crescimento da população da terceira idade no RS faz a economia girar em vários setores. Conheça empreendimentos criados especialmente para o nicho

Negócios apostam no público acima dos 50 anos


O crescimento da população da terceira idade no RS faz a economia girar em vários setores. Conheça empreendimentos criados especialmente para o nicho

Quando começou, a Master English, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, era uma escola de inglês focada em preparação para exames de proficiência, negócios, conversação; e tinha turmas regulares de todas as idades. Os sócios e professores do idioma Rafael Meireles e Maurício Luce, ambos de 41 anos, decidiram abrir o negócio próprio para ter autonomia em colocar em prática princípios pedagógicos que acreditavam. Até que, há cerca de cinco anos, experimentaram criar uma turma para pessoas acima dos 50. "Minha mãe deu a ideia de fazer um curso só para ela e as amigas", conta Maurício. E a sugestão mudou o rumo das coisas.
Quando começou, a Master English, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, era uma escola de inglês focada em preparação para exames de proficiência, negócios, conversação; e tinha turmas regulares de todas as idades. Os sócios e professores do idioma Rafael Meireles e Maurício Luce, ambos de 41 anos, decidiram abrir o negócio próprio para ter autonomia em colocar em prática princípios pedagógicos que acreditavam. Até que, há cerca de cinco anos, experimentaram criar uma turma para pessoas acima dos 50. "Minha mãe deu a ideia de fazer um curso só para ela e as amigas", conta Maurício. E a sugestão mudou o rumo das coisas.
Com o tempo e a demanda crescente, o perfil tomou gradualmente toda a escola, hoje com oito salas de aula, 14 professores, 60 turmas e cerca de 500 alunos na "melhor idade". "O tipo de cobrança que eles têm é diferente. Em geral, as pessoas querem aprender a falar inglês para viajar. É outro ritmo e outro objetivo", elucida Karen Villanova, 33, coordenadora da escola. Segundo ela, a aula acaba sendo, além do local de ensino, um meio de socialização e troca.
Pouco tempo atrás, o negócio foi rebatizado, marcando de vez a nova fase, para Master English - Inglês depois dos 50. Na medida em que a escola optou pela faixa etária, os assuntos de aula também mudaram. Ao longo do tempo, o trio formatou uma metodologia própria, que levou à criação de materiais didáticos focados no público sênior, implementados neste ano. Boa parte dos exercícios aborda temáticas familiares, de viagem, cultura, sugestões de filmes, atores e atrizes que marcaram época, interesses que conversam com o cotidiano e bagagem vivencial dos alunos.
"Eles têm outras experiências de vida. Havia um descompasso dos materiais já existentes", pontua Rafael, que é formado em Letras e leciona há 22 anos. "O nosso material acaba sendo mais eficaz na prática e no estudo do aluno em casa", completa Karen, que entrou na empresa justamente no momento de transição.
Maurício - que, além de professor de inglês, é formado em Administração - conta que apostar no público maduro foi um caminho natural. "Havíamos encontrado algo interessante e com um feedback maravilhoso", justifica.
O engajamento dos alunos também gerou atividades extracurriculares, como excursões - duas para Londes, uma para Nova Iorque e, recentemente, a ida em grupo ao show de Paul McCartney, na capital gaúcha.

Apart hotel da Capital destina 20% dos quartos a quem tem mais de 60 anos

Ideia do Clube 60 é proporcionar convívio, lazer e mordomia

O Bela Vista Service Residence, apart hotel que funciona há 12 anos na rua Lucas de Oliveira, em Porto Alegre, destinou 20% de seus 70 apartamentos para receber especialmente um perfil de público que cresce no Brasil, o de idosos (e em busca de moradia com conforto). Frequentado por executivos e estrangeiros, o local quer que a iniciativa, chamada de Clube 60, proporcione convívio.
Parceiros na empreitada, Mara Pacheco, 61 anos, diretora do flat, e Thiago Lopes, 37, dono da clínica Altos do Bela Vista, reforçam que a ideia não é transformar o espaço em um hotel geriátrico, pelo contrário. Quem opta por viver ali deve ser uma pessoa independente, ativa, saudável; e terá uma série de atividades a seu dispor, como serviço de secretariado, translado, entre outros. Em outras palavras, é para quem quer tempo para si na terceira idade.
"Sempre se falou em melhor idade, mas nunca se praticou. Queremos proporcionar isso. Aqui, ninguém se preocupa com a rotina da casa", clareia Thiago. Para o futuro, o objetivo é fazer parcerias com demais hotéis pelo Brasil, e permitir que os membros possam circular, viver uma temporada em Porto Alegre e outra em alguma cidade de sua preferência.
Ter uma parcela da vacância garantida todo mês foi a estratégia de Mara nestes tempos de aumento da concorrência no ramo hoteleiro, com hostels a Airbnb integrando o mercado. "Dezembro, janeiro e fevereiro são meses complicados. Em busca de estabilidade, sempre trabalhamos com mensalistas. E foi deles que vimos a necessidade de criarmos novas oportunidades", diz ela.
O preço para morar no flat fica entre R$ 5,5 mil e R$ 12 mil, conforme o pacote contratado. Há a liberdade, ainda, para reformas nos apartamentos, decoração própria ou união de mais de uma unidade.
Atualmente, o Clube 60 tem sete hóspedes. "Nosso maior concorrente é a casa da pessoa, pelo apego e vínculo emocional", ressalta Thiago. Mara acrescenta que alguns clientes ficam receosos, por exemplo, de trocar um imóvel de 250 m² por um ambiente de 32 m², referente à área privativa no Clube 60, dividida em quarto, sala, cozinha e banheiro.
A verdade, diz ela, é que o idoso terá muito mais do que isso nas áreas comuns. Piscina, academia, bistrô e cobertura estão entre os atrativos.

Em 30 anos, Rio Grande do Sul terá 120% mais idosos

Em 2010, a população de 60 anos de idade ou mais no Rio Grande do Sul era de 1,4 milhão de pessoas. Nesta mesma época, o número de indivíduos entre zero e 29 anos era de pouco mais de 5 milhões, segundo a Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE).
O que está acontecendo agora, no Rio Grande do Sul especialmente, é que estas proporções estão se invertendo de forma progressiva. Em 2040, teremos 18,3% menos da faixa etária jovem e, em contrapartida, o número de idosos crescerá 120%. O que isso tem a ver com os seus negócios? Tudo.
"É mais fácil pegar uma fatia maior de um bolo que está crescendo do que de um bolo que está diminuindo, certo?", ilustra o economista da Fecomércio Lucas Schifino, 30.
Ele explica que este movimento de envelhecimento da população impacta o Brasil como um todo, mas no RS destaca-se a rapidez com que a transição demográfica está ocorrendo.
"Em 30 anos, teremos uma Porto Alegre inteira de idosos a mais no Estado", explica, referente a um acréscimo de 1,7 milhão de pessoas. Em 2040, serão 3,1 milhões de pessoas acima dos 60, e 4,1 milhões delas até 29 anos. "Quem vende para o público jovem deve estar ciente de que o mercado irá encolher", avisa.
Em contrapartida, os produtos e serviços voltados para idosos terão ampla gama de oportunidades, como farmácias, turismo, fraldas geriátricas - para citar os exemplos mais óbvios. Mas o diferencial do que está por vir é que abre-se um leque de opções de negócios ainda por serem criados, "e quem tiver este pioneirismo tem chances de abraçar maiores porções de mercado e obter vantagem competitiva", pontua o economista.
Como a população está vivendo por mais tempo, o perfil de consumo desta faixa etária também deverá mudar. Um aspecto que impacta essa questão é o poder de compra dessa parte da população daqui a alguns anos, uma vez que o número de pessoas aposentadas corresponderá a mais da metade do de produtivas, ao menos no Rio Grande do Sul. Daí, as discussões sobre as reformas previdenciárias e o aumento do tempo de serviço.
"O dinheiro que as pessoas recebem do governo como aposentadoria vem de outra pessoa que está ativa trabalhando. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) simplesmente faz este repasse da poupança de um para a aposentadoria de outro", explica.
Com pessoas de mais idade entrando na força de trabalho, empresas também terão de absorver o novo perfil de funcionários. "Que terá outras prioridades, talvez trabalhe menos horas, com horários flexíveis", sugere. Do ponto de vista geracional, ele entende que a reforma da Previdência vem para ampliar o leque de pessoas ativas no País. Caso contrário, "a gente corre o risco de formar um contingente gigantesco de idosos pobres".