Aneel recebe recurso de térmica de Rio Grande

Agência analisará se mantém ou não decisão de revogar outorga

Por Jefferson Klein

Medida sobre usina Novo Tempo pode criar jurisprudência, diz Troca
O recurso administrativo para reverter a revogação da outorga de autorização da termelétrica a gás natural liquefeito (GNL) prevista para ser erguida em Rio Grande foi entregue nessa quinta-feira na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O projeto, que estava sob responsabilidade da gaúcha Bolognesi e está sendo repassado para a norte-americana New Fortress Energy, está ameaçado de não sair do papel, pois o órgão regulador alegou dificuldades por parte dos empreendedores em cumprir o cronograma da usina. A medida apresentada pelos investidores espera convencer a Aneel do contrário.
Conforme a assessoria de imprensa da agência, não há um prazo definido para a análise do recurso. A questão precisará ser apreciada em uma das reuniões ordinárias de diretoria (que sempre acontecem às terças-feiras) ou extraordinária. Antes disso, será sorteado um relator do processo, que não poderá ser o mesmo que determinou a revogação da outorga no começo deste mês, no caso o diretor Reive Barros dos Santos. Uma fonte que acompanha o processo acredita que o assunto possa ser deliberado antes do final de novembro.
A usina é planejada para uma capacidade instalada de 1.238 MW - o que corresponde em torno de um terço da demanda elétrica do Rio Grande do Sul. O complexo prevê ainda a implantação de um terminal de GNL. Somadas, as estruturas absorveriam um investimento de mais de R$ 3 bilhões. O deputado estadual Adilson Troca (PSDB) destaca que é importante demonstrar para a Aneel que toda a comunidade local quer que a obra siga adiante.
A Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da Assembleia Legislativa, recentemente, recolheu a assinatura dos parlamentares da Casa para ressaltar a relevância do empreendimento para o Estado. De acordo com Troca, mais de 50 deputados firmaram o documento, só não alcançando a totalidade dos 55 membros da Assembleia porque alguns estavam viajando. Esse documento foi encaminhado para o Ministério de Minas e Energia, entre outros destinos.
Troca cita como sinal positivo uma determinação dada recentemente pela Aneel em um caso similar ao da usina de Rio Grande, também envolvendo o grupo Bolognesi. A agência está avaliando a aplicação da pena de revogação da autorização para implantação e exploração da termelétrica Novo Tempo, projeto idêntico em tamanho ao gaúcho. Esse complexo, inicialmente, estava previsto para ser construído em Pernambuco, mas quando a Bolognesi repassou o controle do empreendimento para a Prumo Logística, foi decidido pela montagem da estrutura em São João da Barra, no Rio de Janeiro.
Na terça-feira passada, a Aneel decidiu conceder prazo adicional até o dia 24 de novembro para que a usina Novo Tempo apresente comprovação de estruturação financeira, celebração dos contratos de fornecimento de gás, obtenção dos licenciamentos devidos, celebração dos contratos de fornecimento e serviços, além de emissão de Parecer de Acesso pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) Elétrico, para tentar evitar a revogação da outorga. Para Troca, essa situação cria uma espécie de jurisprudência, fazendo com que a Aneel tenha que analisar mais atentamente o caso da térmica no Rio Grande do Sul.

Obras de transmissão serão discutidas na terça-feira

A termelétrica de Rio Grande não é o único tema relevante que envolve o Estado e que será analisado em breve pela Aneel. Está marcada para a reunião da agência desta terça-feira a avaliação sobre a transferência de uma série de obras da Eletrosul para a Shanghai Electric. As empresas negociam a formação de uma sociedade de propósito específico para a realização dos empreendimentos, sendo que os chineses teriam uma participação de 75% na associação e os brasileiros 25%.
Os projetos contemplam oito linhas de 525 kV; nove linhas de 230 kV; três subestações em 525 kV e cinco subestações em 230 kV. Todos os complexos serão executados em solo gaúcho. As obras totalizam 2,1 mil quilômetros de linhas de transmissão e capacidade de transformação de 4.781 MVA, com investimento total de R$ 3,3 bilhões. Essas estruturas, que ainda não começaram a ser erguidas, deveriam pelo contrato inicial serem terminadas até 6 de março de 2018 (o que não será viável).