Petrobras e Shell foram as maiores compradoras nos dois leilões do pré-sal

Sozinhas ou em parceria cada uma das petroleiras levou três das oito áreas oferecidas nas segunda e terceira rodadas da ANP

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Petrolíferas arremataram seis dos oito blocos ofertados pelo governo
A Petrobras e a Shell, as duas maiores produtoras de petróleo do Brasil, foram também as mais ativas nos dois leilões de áreas do pré-sal realizados na semana passada pelo governo brasileiro. Sozinhas ou em parceria, cada uma levou três das oito áreas oferecidas nas 2ª e 3ª Rodadas de Partilha de Produção. Em uma delas, no bloco Entorno de Sapinhoá, na Bacia de Santos, se uniram para arrematar o bloco que teve o maior ágio do leilão, de 80%.
A alíquota mínima do óleo excedente destinado à União, proposto pelo governo, era de 10,34%. A Petrobras comprou ainda 40% do bloco de Peroba, na Bacia de Santos, e 50% do Alto de Cabo Frio Central, na bacia de Campos. A Shell ficou com 80% de Sul de Gato do Mato, área na Bacia de Santos adjacente a outra já adquirido pela petroleira norte-americana, além de 55% de Alto Cabo Frio Oeste, na mesma bacia.
Ao todo, os blocos arrematados pelas duas companhias garantiram R$ 3,15 bilhões em bônus para o governo, valor pago na proporção da participação adquirida por cada sócio. O presidente da Shell Brasil, André Araújo, festejou a oportunidade de se tornar operador no Brasil, o que não era possível antes das mudanças nas regras do regime de partilha.
No primeiro leilão do pré-sal, do campo de Libra, em 2013, apenas a Petrobras era admitida como operadora - empresa responsável por todas as decisões do desenvolvimento da produção -, o que afastou as grandes petroleiras da disputa e fez com que apenas um consórcio demonstrasse interesse (Petrobras, Total e chinesas). O bloco saiu pelo bônus mínimo de R$ 15 bilhões.
"Nossa atuação foi fruto do planejamento de meses. Levamos vários blocos e estou muito satisfeito", comemorou Araújo, destacando que, com a compra da parte de pré-sal de Gato do Mato, será possível "tirar do freezer" o projeto da empresa localizado no pós-sal da mesma área, com o mesmo nome, adquirido anteriormente pelo regime de concessão.
Apesar de ser a segunda colocada no ranking das maiores produtoras de petróleo feito mensalmente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção da Shell é de aproximadamente 300 mil barris diários - após a compra da BG, em setembro do ano passado -, enquanto a produção da Petrobras ultrapassa os 2 milhões de barris de petróleo diários.
Também satisfeito com o resultado obtido no leilão de ontem, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou que, apesar da crise que a empresa atravessa, não haverá problemas para honrar o pagamento do bônus.
Ele afirmou que os recursos estão contemplados no investimento de US$ 17 bilhões para este ano - os investimentos nos blocos serão feitos ao longo dos próximos anos. "Estamos extremamente satisfeitos e a existência de parceiros tão interessados também atestam a qualidade dos ativos oferecidos", avaliou Parente.
"Esse é um processo em que você tem que ter duas informações fundamentais. A primeira é qual é o máximo que você está disposto a pagar. E essa discussão leva em conta o resultado A segunda informação relevante é o grau de competição nos leilões."

Petroleira estatal quer concluir modelo de venda de refinarias até o fim do ano

A Petrobras espera decidir ainda este ano o modelo de venda de participações em suas refinarias, o diretor de Refino e Gás da estatal, Jorge Celestino. O processo faz parte do plano de venda de ativos com o qual a companhia espera arrecadar US$ 21 bilhões até o final do ano que vem.
A venda de participações em refinarias é vista pelo mercado como uma das operações mais complicadas do plano de desinvestimentos da petroleira, já que o mercado tem dúvidas ainda sobre a manutenção da política de preços da empresa após as eleições.
No governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobras chegou a vender à Repsol uma fatia na Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, mas a compradora acabou amargando prejuízos com a política de subsídios aos preços da gasolina.
Celestino não adiantou qual seria o novo modelo, alegando que ainda precisa de aprovações de comitês internos, da diretoria e do conselho de administração da companhia. Inicialmente, a empresa previa a venda de fatias de mercado, atraindo parceiros, por exemplo, para uma região específica.
No momento, a estatal negocia também com a chinesa CNPC uma fatia na refinaria do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). A parceira entraria com os recursos necessários para concluir as obras e ficaria com uma fatia do projeto. Celestino evitou dar prazo para a conclusão das negociações.
As refinarias da Petrobras operam atualmente com 77% de sua capacidade, diante da perda de mercado para a importações de combustíveis por terceiros. Celestino afirmou que a empresa prefere hoje operar com menos capacidade, mas de forma rentável.
Com previsões de crescimento das vendas, porém, o Brasil deve ter grande déficit no suprimento de combustíveis em 2030, afirmou o presidente do Sindicom (Sindicato das Empresas de Combustíveis e Lubrificantes), Leonardo Gadotti.
Ele apresentou estudo em que mostra que, se a economia crescer uma média de 2,5% ao ano, o consumo de derivados crescerá 3,3% ao ano no período. Nesse cenário, o déficit de derivados de petróleo chegaria a 90 mil barris por dia em 2030.
Sem a construção de novas refinarias, afirmou Gadotti, estes produtos terão que ser importados, gerando a necessidade de investimentos em infraestrutura da ordem de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões até 2030.

Produção e custo dos poços já competem com Oriente Médio

Numa curta trajetória de 11 anos, o pré-sal brasileiro superou limitações tecnológicas e hoje é tão competitivo comercialmente quanto o Oriente Médio. Os investimentos em pesquisa afastaram as dúvidas sobre a viabilidade de retirar volumes extraordinários de petróleo debaixo da camada de sal, armazenados a até 7 quilômetros de profundidade. A visão hoje é de que, além de viável, esse é um dos melhores negócios do mundo. O presidente da Shell Brasil, André Araújo, chegou a dizer que "o pré-sal é onde todo mundo quer estar". Hoje, as áreas de pré-sal já são viáveis economicamente com o preço do barril de petróleo variando entre US$ 30 a US$ 40. No Oriente Médio, a faixa de equilíbrio vai de US$ 20 a US$ 40.
Um único poço de pré-sal é capaz de produzir até 40 mil barris por dia, volume equivalente ao de campos inteiros de pós-sal, que contam com diversos poços. Assim, a região atingiu uma marca de produtividade 30% superior à projetada na sua descoberta, em 2006, destaca Helder Queiroz, professor de Economia da Energia da UFRJ e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Hoje, 1,5 milhão de barris são retirados do pré-sal diariamente, mais da metade da produção nacional. É de olho nesse nível de produtividade que 14 das grandes petroleiras do mundo participaram, na sexta-feira passada, do leilão de oito áreas do pré-sal entre Espírito Santo e Santa Catarina. A licitação foi dividida em duas - na segunda rodada foram vendidas áreas onde é certa a existência de petróleo, por serem continuações de reservatórios já definidos.
Na terceira rodada foram oferecidas áreas que prometem, mas sobre as quais pouco se conhece. A primeira rodada de licitações de pré-sal aconteceu em 2016, quando a Petrobras, ao lado de cinco sócias - Shell, Total, CNPC e CNOOC - adquiriram Libra, na Bacia de Santos. Quando o pré-sal foi descoberto, há pouco mais de uma década, o cenário de preço do petróleo era o melhor já experimentado pela indústria e os custos para ultrapassar a camada de sal não assustavam tanto.
A partir de 2014, quando o petróleo despencou, a viabilidade do pré-sal passou a ser questionada. Foi preciso investir em tecnologias e ampliar a eficiência dos projetos. Assim, em pouco mais de uma década os poços de pré-sal ficaram mais produtivos - apesar dos desvios bilionários revelados pela Operação Lava Jato. O custo médio de extração de petróleo caiu de US$ 9,1 por barril de óleo equivalente (boe), em 2014, para menos de US$ 7/boe ao fim do primeiro semestre.
"É caro (produzir no pré-sal), mas tem a vantagem da produtividade. Como é produzido muito mais em cada poço, o projeto tem um equilíbrio", afirma o secretário executivo de Exploração e Produção do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que representa as grandes petroleiras. Para o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, a região é "extraordinária" em razão do grande volume de reserva e da alta produtividade.
No início do mês, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, foi a Nova Iorque dizer a investidores que as oportunidades no Brasil são tão boas quanto nos principais países produtores - Estados Unidos, China, Rússia ou nos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Parente afirma que a estatal consegue ganhar dinheiro com o pré-sal mesmo com o preço do petróleo baixo, na casa dos US$ 30, como estava no pior momento da crise, em 2014. Hoje, está na casa dos US$ 50.

Governo arrecada R$ 6,15 bilhões com arremate de áreas

Com a venda de 6 das 8 áreas ofertadas, o governo federal arrecadou R$ 6,15 bilhões com as duas rodadas de licitação do pré-sal realizadas na sexta- feira da semana passada. O valor representa 79% da receita total esperada inicialmente. Governo e Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) classificaram o resultado como "estrondoso sucesso", alegando que os ganhos para o País com a exploração das áreas será maior do que o estimado.
Isso porque houve grande competição por alguns dos blocos - nesses leilões, venceram os consórcios que se comprometeram a entregar o maior volume do petróleo produzido para a União, depois de descontados os gastos necessários para a operação dos projetos.
Na segunda rodada de licitações, o percentual mínimo médio ficou em 52,8% e na terceira, aumentou para 58,5%. São valores maiores do que os 41,65% do primeiro leilão do pré-sal, realizado em 2013, quando foi vendida a área de Libra.
"O bônus é importante sim, mas o ganho que virá com o petróleo no futuro é muito mais", afirmou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. "O aumento dos percentuais mínimos terá impacto brutal na arrecadação futura", reforçou o diretor-geral da ANP, Décio Oddone. O dinheiro dos bônus será depositado em dezembro, ajudando o governo a reduzir o deficit fiscal de 2017.
O maior ágio foi pago por um consórcio liderado pela Petrobras para a área Entorno de Sapinhoá: 873,89%. Ao lado de Shell e Repsol Sinopec, a estatal se dispôs a entregar 80% do óleo excedente para o governo. O segundo maior ágio, de 454,07%, também foi dado por consórcio liderado pela Petrobras, com a chinesa CNPC e a britânica BP, para a área de Peroba, a mais disputada do leilão.
As empresas já detém a concessão de Sapinhoá, hoje o segundo maior campo de petróleo do País, e apostaram alto para não perderem a parte da jazida que foi oferecida neste leilão. Nas duas áreas com ágio recorde, a Petrobras havia exercido o direito de preferência previsto em lei e, mesmo se perdesse as disputas, poderia optar por ter 30% do consórcio vencedor.
"Não podíamos nos dar ao luxo de perder as áreas", afirmou o presidente da estatal, Pedro Parente, em entrevista após o leilão. "Como vimos grandes empresas participando, fomos ao limite do que considerávamos rentável". Segundo ele, a empresa precisa assegurar novas reservas para manter, no futuro, sua relação entre reservas e produção.
Parente disse ainda que os recursos gastos com os bônus e os investimentos previstos nas áreas não terão impacto relevante sobre o plano de negócios das companhias. A empresa que teve a maior participação foi a Shell, que disputou as seis das oito áreas que tiveram ofertas, a maior parte delas, porém, com percentuais de óleo baixos.
Levou três, uma em parceria com a Petrobras, uma com a Total e outra com as chinesas CNOOC e a Qatar Petroleum. A Shell é hoje a maior petroleira privada com operações no País. "É lógico que queríamos ter levado todas, mas estamos felizes com o que ganhamos", comemorou o presidente da companhia no Brasil, André Araújo.
Pela primeira vez, a companhia vai operar área do pré-sal no Brasil, destacou Araújo, o que era um dos objetivos para este leilão. Com a Total, a Shell levou a área de Sul de Gato do Mato, parte de uma descoberta que as empresas já detém na Bacia de Campos e que estava com investimentos congelados à espera do leilão. "Agora, vamos retirar o projeto do freezer", comentou o executivo.
O leilão foi marcado por incertezas sobre sua realização. Logo pela manhã, o juiz Ricardo Sales, da 3ª Vara Cível da Justiça Federal de Manaus, concedeu uma liminar suspendendo o certame. Ele argumentou que os valores cobrados pelas áreas que estavam sendo oferecidas eram baixos e que a lei que pôs fim à exclusividade da Petrobras no pré-sal apresenta "vício constitucional". A suspensão foi obtida em ação conjunta entre o PT, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e sindicatos, que entraram com pedidos em diversos Estados.
A Advocacia Geral da União (AGU) recorreu e obteve vitória no TRF1, que autorizou a realização dos leilões, conforme o planejamento do governo federal.