Aplicação automática pode ajudar a poupar

Opção normalmente está no contrato de prestação de serviços bancários

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Ver o dinheiro render sem precisar escolher a aplicação financeira, abrir conta em corretora sem se preocupar com taxas e custos é uma proposta tentadora para a maioria dos investidores. Esse é o apelo das aplicações automáticas feitas com recursos deixados em contas-correntes em grandes bancos do País.
A rentabilidade deixa a desejar, mas até mesmo o pequeno ganho obtido com as aplicações automáticas pode ser o suficiente para despertar no cliente o hábito de guardar dinheiro. Essa aplicação normalmente está incluída no contrato de prestação de serviços bancários. Ou seja, o cliente precisa autorizar a transação.
Depois disso não tem mistério. Todo dinheiro que o cliente deixar na conta-corrente será aplicado em um produto com liquidez diária.
As alternativas mais comuns são a poupança, com aniversários diferentes, dependendo do fluxo de entrada e saída do dinheiro; os fundos de investimento; e os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Alguns fatores, entretanto, acabam afetando a compreensão sobre o que é o produto. A começar pela contratação, que não é suficientemente clara, afirma César Caselani, professor da escola de administração da FGV (Fundação Getulio Vargas). "Acaba ficando naquelas letrinhas miúdas", ressalta.
A facilidade tem seu preço. E ele se traduz em rentabilidade bem abaixo da oferecida por outros produtos na renda fixa. "Se for um CDB, o percentual do CDI é menor que o oferecido pelo mesmo banco a investidores. Nos fundos de investimento, a taxa de administração é maior, o que diminui o valor final. Vai render bem pouco", diz Michael Viriato, professor do laboratório de finanças do Insper. Para ele, a aplicação automática pode deixar o cliente acomodado. "Por outro lado, é melhor do que nada."
Mas esse gostinho de rentabilidade pode despertar no investidor a vontade de conseguir ganhos maiores, avalia Karoline Roma, planejadora da associação Planejar. "Encarar a aplicação automática como investimento é errado. É um péssimo negócio para quem quer guardar dinheiro. Mas ela gera vontade de ir atrás de mais informação financeira", afirma.
Para Viriato, o cliente não pode se conformar com o ganho oferecido pela aplicação. "Para quem quer investir, há opções como Tesouro Direto ou CDB de banco menor, que rende mais. Ele tem que começar a pesquisar", diz.

Bancos cortam terminais próprios e ampliam rede 24h

Na busca por mais eficiência, bancos decidiram reduzir o número de terminais de autoatendimento próprios e passaram a adotar, cada vez mais, caixas eletrônicos compartilhados com concorrentes sob o guarda-chuva do Banco24Horas, da Tecban. Para o cliente, isso pode se traduzir em oferta de serviços limitada e problemas.
A tendência não é recente. O acordo entre as maiores instituições do País para ampliar o compartilhamento de caixas sob a rede 24Horas é de julho de 2014. Desde então, o número de terminais da rede aumentou 25,7%, passando de 16,7 mil para mais de 21 mil.
Na outra ponta, os caixas próprios vêm minguando ano após ano - com exceção do Bradesco, que incorporou, em 2015, o HSBC e toda a estrutura do banco, ampliando seus terminais. Antes da aquisição, o banco vinha reduzindo os terminais.
Se para os bancos as mudanças fazem sentido, ao reduzir os custos operacionais e de manutenção com uma rede própria, para muitos clientes o terminal 24 horas deixa a desejar. É o caso da empresária Flávia Quirino Anastácio, 30. Grávida de sete meses, ela tentou sacar R$ 1.500 no terminal compartilhado. Após receber a mensagem "limite excedido", pensou em fracionar a retirada. Conseguiu pegar R$ 1.000, mas não os R$ 500 adicionais.
Ao checar o extrato mais tarde, viu que o banco considerou que ela havia sacado R$ 1.500. "Liguei primeiro no meu banco, que pediu que eu entrasse em contato com a Tecban. A empresa diz que não há irregularidade. Procurei várias vezes, mas é sempre a mesma resposta", afirma a empresária, que ainda busca resolver o problema.
Outros usuários dos caixas compartilhados também reclamam de falta de cédulas e de manutenção. Nos terminais 24 horas, só há notas de R$ 20,00 e de R$ 50,00. O número de operações disponíveis nesses terminais também é menor do que nos caixas dos bancos.
Um exemplo é a contratação de empréstimo, que não pode ser feita no Banco24Horas. Depósitos e emissão de cheques tampouco estão disponíveis nesses terminais.
Se o cliente precisar fazer alguma operação não disponibilizada no terminal 24 horas, o banco deve oferecer esse serviço de alguma forma, afirma Livia Coelho, advogada da Proteste, associação de defesa do consumidor.
Procurada, a Tecban diz que são "ocorrências pontuais, que são sempre tratadas, caso a caso, com o cliente". "A empresa busca o aprimoramento contínuo dos serviços e da eficiência operacional, a fim de garantir uma excelente experiência do consumidor", afirmou.
A Febraban, entidade que reúne os bancos, diz, em nota, que "a redução do número de ATMs (caixas) não representa queda do nível de serviço oferecido" e que o principal canal usado para transações é o mobile banking (34% do total em 2016). Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander responderam que a rede 24 horas amplia a cobertura e que, se somada à rede própria, o total é maior ou igual ao período pré-2014.

Conta-corrente também é vantajosa para instituições

Se o cliente pode ter um dinheirinho a mais sem fazer esforço, o banco também sai ganhando com a história, afirma Karoline Roma, planejadora financeira da associação Planejar. Isso porque dinheiro parado na conta acaba virando um problema para a instituição, que deixa de ganhar em cima desse valor.
"O banco obedece a leis do Banco Central de compulsório (parte do dinheiro captado em depósito à vista, a prazo ou na poupança e que não é remunerado). Na conta-corrente, o percentual do compulsório é maior", afirma a planejadora.
Pelas normas do Banco Central, o percentual de compulsório no caso da conta-corrente é de 45%. Já no depósito a prazo, como nos CDBs, a parcela cai para 36%. "Quando o banco oferece uma aplicação automática e coloca esse dinheiro em um CDB, ele passa a ter acesso a um valor maior para emprestar", resume Roma.
Ou seja, a aplicação é uma forma de o banco captar pagando menos. "A instituição ganha uma taxa menor, porque repassa um percentual menor do CDI ao cliente. É um recurso barato."