Governo confirma permanência do horário de verão

Medida começa na metade do próximo mês e termina em 17 de fevereiro de 2018

Por Jefferson Klein

Clima Contrariando as previsões, o clima, no primeiro fim de semana da primavera firmou e o domingo teve a presença de sol e temperaturas amenas.
A acirrada discussão que já começava a surgir em redes sociais e rodas de conversa sobre a manutenção ou não do horário de verão acabou ontem. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, confirmou nesta segunda-feira que a medida será mantida neste ano. Nas regiões que serão abrangidas, os relógios deverão ser adiantados em uma hora a partir do dia 15 de outubro até o dia 17 de fevereiro de 2018.
Na semana passada, depois de reforçar que estudos apontam que o horário de verão não implica grande economia de energia, o governo sinalizou a possibilidade de realizar uma enquete com a sociedade para debater o encerramento ou a continuidade da medida. Porém, nessa segunda-feira, Coelho Filho informou que não haveria tempo hábil para consultar à população e tomar uma decisão válida para agora. A perspectiva é que essa sondagem seja realizada mais adiante, com mais prazo para organizar a sociedade. "Vamos fazer esse levantamento e, dependendo de como for a reação, avaliamos isso mais para frente", afirma o ministro.
Em sua última edição, a medida possibilitou uma redução média de 4,5% na demanda por energia no horário de pico e de 0,5% no consumo, nos estados que participam do horário de verão, o que equivale aproximadamente ao consumo mensal de energia de Brasília, com 2,8 milhões de habitantes. Enquanto o consumo é o uso da energia por um determinado período de tempo mais longo, uma hora ou um mês, por exemplo, a demanda é o consumo em um determinado instante e o seu pico é quando a energia está sendo mais utilizada. A estimativa de economia foi de cerca de R$ 160 milhões, o que representa o custo evitado em despacho de usinas térmicas, para atendimento à ponta de carga no período de vigência.
O horário de verão vigorará no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. A medida é mais eficaz nas regiões mais distantes da linha do Equador, onde há uma diferença mais significativa na luminosidade do dia entre o verão e o inverno. Por isso, os estados do Norte e Nordeste ficam de fora da mudança da hora.
O presidente do Grupo CEEE, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, reconhece os resultados do horário de verão para o País, inclusive para o Estado. De acordo com dados da companhia, os indicadores do horário de verão têm se mantido relativamente estáveis no Rio Grande do Sul. A redução da demanda de energia elétrica no horário de pico noturno no Estado no verão de 2016/2017 foi de 5,1%, contra 4,3% em 2015/2016, 5% em 2014/2015 e 4,9% em 2013/2014. A perspectiva de diminuição de consumo de energia para os gaúchos em função do melhor aproveitamento da luz solar foi de 0,7% em 2016/2017 e de 0,6% em 2015/2016.
Pinheiro Machado considera importante a economia obtida. O dirigente exemplifica que, no caso do Rio Grande do Sul, a ação representa retirar o consumo equivalente ao de um município com cerca de 40 mil habitantes, ou seja, seria como se não fosse preciso fornecer energia para uma cidade como Charqueadas durante toda a vigência do horário de verão. O presidente do Grupo CEEE defende que a manutenção ou não da iniciativa precisa ser uma decisão de gestão, baseada em indicadores técnicos.
Entre as regiões que adotam o horário de verão podem ser citadas a União Europeia, a maior parte das nações que formavam a antiga União Soviética, a América do Norte (Canadá, Estados Unidos e México), entre outros.

Adaptação pode levar de uma a duas semanas, dizem especialistas em sono

Mesmo contando com apoiadores e críticos, um impacto que praticamente atinge a toda população com a implantação do horário de verão é a necessidade de um tempo para as pessoas se adequarem. Conforme especialistas, esse período pode variar de uma a duas semanas.
O psiquiatra do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul da Pucrs, Pedro Antônio Schmidt do Prado Lima, comenta que a realização do horário de verão acaba por mudar um pouco o dia a dia dos indivíduos. "Somos muito adaptados ao ciclo solar e, no momento que muda o horário, tem que haver um reajuste do relógio biológico", argumenta. O psiquiatra compara a situação a uma viagem em que há uma alteração de fuso horário. Lima argumenta que os maiores reflexos no comportamento é quando sucede o contrário, ou seja, a redução da duração da luz solar no dia. Isso pode afetar psicologicamente as pessoas, principalmente, alguém que sofre com depressão.
O especialista em sono e neurologista do Hospital São José do complexo Santa Casa, Fernando Gustavo Stelzer, também compara a situação a uma viagem com fuso horário, com o chamado "jet lag". Com a maior luminosidade nos dias, o médico detalha que muita gente começa a espontaneamente a acordar mais cedo. Contudo, o neurologista acrescenta que várias pessoas conseguem levantar antes do normal, mas não conseguem dormir mais cedo. Esse cenário pode gerar problemas de sono, mau humor e dificuldade de concentração, até se adaptar.
Stelzer recomenda que para fazer uma transição mais tranquila a pessoa fique mais exposta à luz solar, especialmente pela manhã. Atividade física e evitar tomar bebidas estimulantes antes de dormir, como cafés e energéticos, que possam espantar o sono, também ajudam. O médico adverte que pessoas mais idosas, normalmente, preferem dormir e levantar mais cedo e apresentam um sistema nervoso menos flexível, com mais dificuldades para assimilar a mudança.

CEEE diz que o Estado está em situação confortável quanto ao fornecimento

Se não existem mais dúvidas quanto à realização do horário de verão 2017/2018, a questão agora é como será a qualidade do abastecimento de energia durante essa estação. O presidente do Grupo CEEE, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, frisa que, segundo relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) Elétrico, o Rio Grande do Sul encontra-se hoje em uma situação confortável, em especial a Região Metropolitana de Porto Alegre. Devido a recentes obras, essa área fortaleceu sua rede de energia.
O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Edilson Deitos, recorda que no verão os picos de energia no Estado são registrados entre meio-dia e 15h. Conforme o dirigente, esse cenário deve-se às altas temperaturas e ao "novo vilão" do consumo, que é o ar-condicionado. "No passado, tínhamos o chuveiro e hoje é o ar-condicionado que mais puxa o consumo de energia elétrica", destaca.
Sobre o horário de verão, o empresário acrescenta que sem a iniciativa a perspectiva seria de um maior acionamento das termelétricas, que implicam um maior impacto ambiental. Deitos também salienta que, como gestor, toda economia é bem-vinda, mesmo que pequena. O empresário destaca ainda que o comércio, bares e restaurantes têm mais movimento com o horário de verão.

A origem do Horário de Verão

Não existe um consenso sobre a origem do horário de verão, mas alguns estudos afirmam que a primeira pessoa a propor sua adoção foi Benjamim Franklin, em 1784, nos Estados Unidos, quando percebeu que o sol nascia antes das pessoas se levantarem, durante alguns meses do ano. Ele pensou, então, que se os relógios fossem adiantados em uma hora, naquele período, poderiam aproveitar melhor a luz do dia, ao entardecer, e economizar velas, já que naquele tempo ainda não existia luz elétrica.
No Brasil, a iniciativa foi instituída pela primeira vez no verão de 1931/1932, pelo então presidente Getúlio Vargas. Sua versão de estreia durou quase meio ano, vigorando de 3 de outubro de 1931 até 31 de março de 1932. No verão seguinte, foi reeditada a medida com o mesmo tempo de duração. Posteriormente, a adoção da medida foi retomada em períodos não consecutivos, nos anos de 1949 até 1953, de 1963 até 1968, e nos tempos atuais a partir de 1985. O período de vigência é variável, mas em média a duração da aplicação da medida no Brasil tem sido de 120 dias, nos últimos 20 anos.
Fonte: Ministério de Minas e Energia