Araújo é homenageado por líderes partidários

Ex-deputado faleceu, em Porto Alegre, na madrugada de sábado, aos 79 anos, devido a complicações pulmonares

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Em manifestações de amigos e lideranças, Carlos Araújo foi lembrado como um defensor da democracia
Lideranças de diferentes partidos se manifestaram após a morte do político e advogado trabalhista Carlos Araújo, aos 79 anos, ocorrida no sábado em Porto Alegre. Araújo era ex-marido da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Presente no velório, Dilma intercalou momentos ao lado do caixão e em um espaço restrito. A petista ficou em pé, boa parte do tempo, na companhia da filha que teve com Araújo, a promotora do trabalho Paula Rousseff de Araújo, e do genro, Rafael Covolo.
Em discurso emocionado, ao final da cerimônia, Dilma destacou a coerência política do ex-marido e lembrou da solidariedade de Araújo durante o período em que sofreu o processo de impeachment, no ano passado. "Ele estava estarrecido. Ele foi um lutador contra a ditadura (militar) e contra o poder que emana das elites econômicas, políticas e midiáticas", destacou.
Outras manifestações de políticos ocorreram antes da despedida final a Carlos Araújo. O ex-governador Tarso Genro (PT, 2011-2014) lamentou a perda do amigo, destacando o passado de luta pela democracia do político. "A gente está em uma idade de perder as nossas melhores referências", disse.
O tom de perda de um amigo também caracterizou as palavras do ex-governador Olívio Dutra (PT, 1999-2002), para quem Araújo exercia uma liderança que chamou de "franca e fraterna". Ele lembrou o envolvimento do político nos movimentos sociais e sindicais na década de 1980 e o trabalho de Araújo como deputado estadual. "Era daqueles militantes que não vacila na luta pelos direitos do trabalhador", ressaltou.
O governador José Ivo Sartori (PMDB) se manifestou por nota afirmando que Araújo "se destacava pelo espírito democrático, se relacionando de forma fraternal e sempre respeitando posições diversas". Lembrando a atuação do político na luta pela redemocratização do País, a nota o trata como "referência na defesa das causas sociais" e conclui afirmando que "Carlos Araújo deixa um legado à democracia que permanecerá na memória dos gaúchos".
Também por meio de nota, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre o falecimento. "Carlos Araújo manteve durante toda a sua vida a militância e coerência política, a honestidade e o compromisso com a defesa dos trabalhadores e do Brasil. A democracia brasileira deve muito ao empenho e coragem de Carlos Araújo durante a ditadura militar", diz a nota.
O deputado estadual Ibsen Pinheiro (PMDB) falou do falecimento de Carlos Araújo como uma perda pessoal. "Fomos amigos desde a juventude comunista, nos anos 1950. A diferença nunca impediu a boa convivência. Estivemos no mesmo campo, ainda que em partidos diferentes, e sempre fui testemunha do seu invariável espirito público", destacou Ibsen.
A ex-deputada Dercy Furtado, contemporânea de Araújo no Parlamento gaúcho, colega de partido depois da redemocratização e amiga pessoal do político, lembra dele como "uma pessoa de bem com a vida". "Sofreu muito na ditadura e nunca se queixava. O enfisema pulmonar (do qual resultou sua morte) tem muito a ver com as torturas que sofreu (durante a ditadura militar)", avalia.
Também se manifestou o vice-governador da gestão Alceu Collares (PDT, 1991-1994), João Gilberto Lucas Coelho (na época, PSDB). Hoje afastado da vida pública e sem vínculo partidário, ele lembra de Araújo como "um militante com muito vigor e bastante idealismo. Participou da resistência ao regime militar, sofreu perseguição. Depois, teve trabalho construtivo nas relações políticas no Rio Grande do Sul". O ex-governador Collares também esteve presente no velório.
Carlos Araújo estava internado desde o dia 26 de julho na UTI do Hospital São Francisco, no Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. Ele não resistiu a complicações pulmonares e faleceu na madrugada de sábado. O velório foi realizado à tarde no Salão Júlio de Castilhos, na Assembleia Legislativa, e foi aberto ao público. A cerimônia de cremação foi restrita aos familiares. Além de Paula, ele deixa, de outra relação, os filhos Leandro e Rodrigo.
 

Luta contra ditadura militar e atuação como advogado trabalhista marcam trajetória do político

Nascido em 1938 na cidade serrana de São Francisco de Paula, Carlos Franklin Paixão de Araújo era filho do também advogado trabalhista Afrânio Araújo, de quem herdou o gosto pelo direito e pela política.
Na década de 1950, ingressou na Juventude Comunista e integrou a delegação brasileira para o Festival da Juventude de Moscou em 1957. Anos mais tarde, integrou a organização guerrilheira VAR-Palmares, na qual em 1969 conheceu a futura esposa, Dilma Rousseff, com quem viveu até 2000 e depois seguiu como amigo.
Max, codinome pelo qual era conhecido nos tempos de luta armada, foi preso pela ditadura militar em julho de 1970, meses após a captura de Dilma. Ele deixou a cadeia em 1974, mesmo ano em que perdeu o pai e assumiu o escritório de advocacia que existe até hoje na capital gaúcha.
Na carreira política, era ligado a Leonel Brizola e foi um dos fundadores do PDT, partido pelo qual se elegeu deputado estadual em 1982, sendo reeleito por mais duas legislaturas, e disputou a Prefeitura de Porto Alegre em 1988 e 1992, perdendo em ambas ocasiões para candidatos petistas.
Em 2000, junto com Dilma e outros correligionários, Araújo deixou o PDT e passou a se dedicar ao escritório que mantinha na capital gaúcha. Voltou ao partido em 2013.
Mesmo afastado da vida política, Carlos Araújo não deixou de opinar sobre assuntos políticos contemporâneos. Sobre o processo que levou ao impeachment da amiga e ex-mulher da Presidência, Araújo considerava que houve um "golpe" e que Dilma foi abandonada pelo PT.