Temer discutiu a posse na PGR, diz Dodge

Em encontro noturno no Palácio do Jaubru, fora da agenda do presidente, subprocuradora acertou data da cerimônia

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Raquel Dodge será responsável pelas investigações na Lava Jato
A subprocuradora da República Raquel Dodge, sucessora de Rodrigo Janot no comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmou que se reuniu com o presidente Michel Temer (PMDB) na noite desta terça-feira para discutir a agenda de sua posse no cargo, em setembro.
"O presidente indagava sobre a data e o horário possível para a minha posse, pois precisa viajar para os Estados Unidos no dia 18 de setembro, segunda-feira, para fazer a abertura da Assembleia Geral da ONU no dia 19. O mandato do PGR termina no dia 17, domingo", disse Dodge. "Por esta razão, a posse será de manhã, em vez do final da tarde", afirmou.
Dodge esteve no Palácio do Jaburu por volta das 22h de terça-feira, segundo imagens registradas por um cinegrafista da TV Globo.
O encontro não constava da agenda oficial de Temer. O Palácio do Planalto confirmou a informação de Dodge sobre o motivo da conversa.
O encontro de Temer com Dodge ocorreu no mesmo dia em que a defesa do presidente entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) de suspeição de Janot nas investigações. Os advogados do peemedebista alegam que o procurador-geral atua para perseguir pessoalmente o presidente.
A reportagem questionou o Planalto sobre a razão de o encontro ocorrer fora da agenda oficial, mas não teve resposta até o fechamento desta edição.
Dodge foi indicada por Temer para assumir o cargo de procuradora-geral da República. Seu nome foi aprovado pelo Senado. Ela foi a segunda colocada na lista tríplice em eleição realizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República.
Caberá a Dodge comandar todo o trabalho da PGR, incluindo as investigações da Lava Jato. O presidente Temer foi denunciado por Janot por corrupção passiva, sob acusação de ser o beneficiário de uma mala de R$ 500 mil da JBS entregue a seu ex-assessor Rodrigo da Rocha Loures (PMDB). A Câmara barrou o andamento da denúncia na semana passada.
Temer é alvo de mais duas investigações na PGR: uma por obstrução de Justiça e outra por organização criminosa. A expectativa é que ele seja denunciado até o fim do mandato de Janot.
Neste domingo, Temer recebeu, também fora da agenda oficial, o ministro do STF Gilmar Mendes. O escândalo da JBS tem como ponto central um encontro de Temer com Joesley Batista, delator e sócio da JBS, no dia 7 de março no Jaburu. A conversa ocorrida no fim da noite daquele dia não foi divulgada na agenda oficial do presidente.

Procurador Rodrigo Janot critica encontros fora da agenda

Os encontros noturnos e fora da agenda do presidente Michel Temer (PMDB) no Palácio do Jaburu "revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados".
A afirmação é do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na denúncia em que acusou o presidente de corrupção passiva, por ser supostamente o destinatário final de uma mala com R$ 500 mil e uma promessa de outros R$ 38 milhões em propinas da JBS.
No dia 2 de agosto, a Câmara dos Deputados decidiu não dar autorização para que o caso fosse encaminhado ao STF.
As circunstâncias do encontro - o horário e a ausência de registro oficial - são as mesmas em que o presidente recebeu, às 22h de terça-feira, Raquel Dodge, subprocuradora da República e sua sucessora na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Na denúncia, Janot discorre especificamente sobre a conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista. Em 7 de março deste ano ("é possível afirmar que a sequência de eventos ocorreu entre as 22h31min e as 23h16min"), o sócio do grupo JBS visitou o Jaburu e gravou o diálogo com o presidente.
Tratou-se, disse o procurador-geral, de uma "reunião clandestina". Janot escreve que, apesar de Temer confirmar que ouviu Joesley à noite, como o faz com "muitos empresários, políticos, trabalhadores, intelectuais e pessoas de diversos setores da sociedade brasileira", o peemedebista não apontou no inquérito quem seriam seus convidados.
Ainda de acordo com a denúncia, o horário do encontro foi definido por Temer. "Ele prefere te atender à noite no Jaburu, mais tarde, sei lá, a partir das 22h, 23h", disse Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente, a Batista, também em conversa obtida pela PGR.
Loures ficou conhecido como o "deputado da mala" por ter sido filmado transportando os R$ 500 mil, entregues a ele em uma pizzaria.
Para seguir adiante, a denúncia de Janot precisaria ser avaliada pelo STF com o aval da Câmara. Em agosto, a maioria dos deputados votou para barrar o prosseguimento da acusação. Nesta semana, o Planalto subiu o tom contra o procurador-geral. Na terça-feira, a defesa do presidente pediu que Janot seja impedido de investigar o presidente.
Na segunda-feira, Gilmar Mendes, afirmou que Janot é "o procurador mais desqualificado que já passou pela Procuradoria". Na véspera, desejou ao procurador "boa viagem" e jantou com Michel Temer - também fora da agenda.