Camila teve experiência profissional na Capital, mas preferiu voltar à propriedade da família, em Pejuçara

Amor pelo campo une gerações em muitas propriedades no Rio Grande do Sul


Camila teve experiência profissional na Capital, mas preferiu voltar à propriedade da família, em Pejuçara

"A cidade não janta se o campo não planta. Acho curioso que muita gente não tem noção disso", exclama Camila Telles, 24 anos. Criada no campo, um dia terá sob sua responsabilidade uma propriedade de 660 hectares em Pejuçara, município a 395 km de Porto Alegre, que emprega outras três famílias. Diferentemente de muitas pessoas da mesma idade que não sabem para onde vão suas carreiras, Camila e tantos outros jovens herdeiros de propriedades rurais no Rio Grande do Sul já têm em mente o caminho a ser trilhado. "O agro é uma certeza para mim. O meu papel agora é aprender muito."
"A cidade não janta se o campo não planta. Acho curioso que muita gente não tem noção disso", exclama Camila Telles, 24 anos. Criada no campo, um dia terá sob sua responsabilidade uma propriedade de 660 hectares em Pejuçara, município a 395 km de Porto Alegre, que emprega outras três famílias. Diferentemente de muitas pessoas da mesma idade que não sabem para onde vão suas carreiras, Camila e tantos outros jovens herdeiros de propriedades rurais no Rio Grande do Sul já têm em mente o caminho a ser trilhado. "O agro é uma certeza para mim. O meu papel agora é aprender muito."
Segundo ela, a sucessão é um processo construído junto aos pais, "absorvendo a experiência deles", acerta. Quem toca a propriedade no dia a dia é a mãe, enquanto o pai é coordenador da Divisão Técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS). "Tenho em casa um exemplo de empreendedora e produtora rural, então é muito reforçador", ilustra. Para iniciar este processo, atualmente ela e a irmã cuidam de 20 cabeças de gado, atividade recente na propriedade.
Mas não pense que Camila é veterinária ou agrônoma. Na hora de decidir uma graduação, ela não se identificou com as áreas técnicas e optou por estudar Relações Públicas. Desde que se formou, o desafio tem sido unir o campo e a Comunicação. "Tenho muito amor pelo campo e pela minha área. Por isso, decidi empreender em algo que unisse as duas coisas", diz. Assim, iniciou recentemente a Favo, agência de comunicação focada apenas em agronegócio. "Usamos todas as estratégias de marketing digital, branding, em prol da valorização do setor", explica. Além deste projeto, há o GeraçãoAgro, rede que busca unir jovens que estejam empreendendo em suas fazendas - e que recentemente virou blog no site do Canal Rural e será tema de websérie.
Isso tudo a fez voltar a morar "lá fora", seis anos depois de ter saído para estudar na Capital, e a começar a preparar o terreno para dar continuidade ao negócio familiar. Enquanto o processo deslancha de forma natural, ela não para de ter ideias.
Recentemente, começou, junto da mãe, estufas de hidroponia para alimentos orgânicos. Mais adiante pretende reativar a produção de laticínios. Tudo, claro, com o fim de virar marca a ser consumida nas mesas da cidade.

O processo de sucessão é uma corrida de bastão

Juliana Krupp, instrutora do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Rio Grande do Sul (Senar-RS), compara o processo de sucessão de propriedades rurais com uma modalidade olímpica. "Não é a entrega do negócio, é como uma corrida de bastão. Um vai correndo e passa para o outro. Porém, não significa que quem passou o bastão fica de fora", diz ela.
E é justamente esse o receio de muitos produtores que temem, inclusive, ficar sem nada depois que transferirem as responsabilidades para os filhos ou herdeiros. O tema faz parte dos treinamentos de gestão promovidos pela Senar em todo o Rio Grande do Sul - demandados nos sindicatos das cidades por quem se interessa em aprimorar rotinas administrativas.
Juliana destaca, ainda, que nem sempre o sucessor é o filho ou filha. Pode ser outra pessoa da família ou até de fora dela. "O importante é que seja alguém que entenda de gestão e do negócio", salienta.
O diálogo em família, para a instrutora, é um fator determinante para o sucesso do processo. Isto porque muitos jovens chegam cheios de ideias novas e tecnológicas, enquanto os pais querem continuar fazendo o que sempre fizeram. "Os mais velhos devem compreender que os mais novos estão ali para ajudar e não para atrapalhar ou se meter na vida da propriedade", aconselha.
Juliana diz que o tempo médio do processo de sucessão leva 40 anos nas propriedades rurais, uma vez que ele inicia, normalmente, quando os interessados em assumir a lida têm cerca de 30 anos. E esse tempo é fundamental. "Quando isso não acontece, ocorrem as brigas pela herança e repartição da terra. Herdeiros todos somos, mas sucessores não."

Agroindústria familiar: onde todo mundo pega junto

Direto de Nova Roma do Sul, nordeste do Estado, os Sucos del Nino trazem o trabalho conjunto de uma família em seu sabor. Junto da esposa Vania, o produtor Vitorino Comin, 49 anos, iniciou o negócio. E como é comum no interior, os três filhos desde cedo ajudam na produção.
Mas a ideia inicial, aliás, não era produzir sucos. O casal vendia diferentes tipos de frutas para comércios e vizinhos da região. Entre as qualidades estava a uva. "Eu dizia para eles (clientes) comprarem uma caixinha de uva para fazer suco e eles diziam 'bah, gringo, tem que trazer o suco pronto!'", lembra Vitorino, o "Nino" que dá nome à marca.
Um pouco pela insistência do fregueses, outro tanto por avistar uma boa oportunidade para complementar a renda, o casal iniciou a produção de forma artesanal em 2008. "Começou a dar certo", comemora ele. Com o aumento dos pedidos e dos interessados no produto, cerca de 70% da uva cultivada nos seus 15 hectares de terra vai para os sucos, que não têm conservantes e que hoje são o carro-chefe da agroindústria familiar dos Comin.
Além do casal, os três filhos auxiliam nas vendas e na fabricação. A primogênita, Graziela Comin, 25, há três anos se dedica à comercialização. Mas desde os 10 ajudava na produção, antigamente feita em panelas. Agora, modernizada, a fabriqueta também conta com a ajuda dos dois irmãos dela, de 16 anos. Embora com funções definidas, "todo mundo faz um pouco de tudo", complementa ela.
Ela e o pai, presentes este ano pela primeira vez na Expointer, contam que os produtos da família chegam a todas as regiões do Estado através da venda direta. As embalagens que variam de 500 ml a 2 litros, são postas no caminhão e comercializadas a partir de R$ 5,00, em mercadinhos, padarias, lancherias e fruteiras. 1 litro sai por R$ 9,00, 1,5 litros correspondem a R$ 12,50 e 2 litros por R$ 16,00.
Trabalhando com as panelas de segunda à sábado para conseguir dar conta da demanda, o caminho foi modernizar. Hoje tudo é feito em dois pavilhões que ocupam pouco mais de 100 m² da propriedade. Com orientação de um enólogo, são produzidos entre 40 e 50 mil litros por ano. A tecnologia adquirida há cerca de dois anos permite que esse número quadriplique. Como está, a produção contempla a venda para os clientes durante todo o ano.

Bastidores

Uma das primeiras ações de Camila, assim que voltou a morar no Interior, foi instalar internet na fazenda.

BOM SABER

Ocorreu na última sexta-feira, na Casa JC na Expointer, o Happy Hour Empreendedor, promovido pela AJE Porto Alegre e GeraçãoE. Entre os temas, falou-se muito sobre sucessão no campo. Participaram Luciana Bueno, do Sebrae, Yara Suñé, professora da ESPM e produtora rural, e Luis Fernando Pires, presidente da Comissão Jovem da Farsul. #offline