Da porteira para dentro, o Brasil não deve nada a nenhum outro País na adoção de tecnologias capazes de aumentar a produtividade no campo. O uso de máquinas agrícolas associadas a ferramentas de Internet das Coisas (IoT), Big Data, mobilidade e cloud tem permitido que os produtores antecipem cenários que vão desde os estoques de insumos usados diariamente até o risco de algum equipamento falhar.
A convergência que houve nos últimos anos entre a disseminação do conceito de agricultura precisão e a incorporação da Tecnologia da Informação (TI) é o que explica esse grande furor em torno das novas tecnologias, afirma o coordenador do Núcleo de Agronegócios da ESPM-Sul, Ernani Carvalho da Costa Neto. "A tecnologia é uma dos grandes responsáveis pelo aumento da produtividade no campo nos último anos no Brasil", avalia.
O uso de sensores nas máquinas agrícolas permite a captura de diversos dados no ambiente, no caso, no campo. Podem ser desde termômetros para controle de umidade até lentes que geram imagens. "Ao capturar e processar estes dados, os produtores têm conseguido gerar métricas que permitem a interpretação e a tomada de decisões estratégicas", acrescenta Neto.
Recentemente, a Stara, empresa de Não-Me-Toque (RS), esteve na Alemanha para o lançamento do Connag, um software desenvolvido em coinovação com o SAP Labs Latin America, instalado no Tecnosinos, em São Leopoldo. O projeto realizado pelas duas empresas virou um produto mundial.
O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Stara, Cristiano Buss, explica que um dos grandes problemas nas fazendas hoje em dia, em se tratando do gerenciamento do processo de plantação e colheita, é o uso de máquinas de marcas diferentes - e que não se conversam. Falta informação unificada para que o produtor possa tomar as decisões. "O produto funciona como uma espécie de hub, que se conecta com diferentes marcas e cria um banco de dados único", relata.
Um produtor que está com cinco plantadeiras em campo, por exemplo, vai conseguir gerenciar remotamente a quantidade de sementes e adubo colocados. Conforme vai plantando, a máquina informa as quantidades usadas, os litros de diesel consumidos e as horas de trabalho na lavoura. Tudo isso é controlado por telemetria e, na medida em que o software estiver conectado com o ERP, será possível controlar o estoque e compras em tempo real. "Criamos essa automação porque sabemos que seria muito difícil para o produtor operacionalizar isso no dia a dia se tivesse que colocar pessoas coletando essas informações", relata.
A mesma proatividade será possível para evitar possíveis paradas dos equipamentos por questões técnicas. Se os sensores detectarem a saturação do filtro de ar do motor, por exemplo, a área de manutenção saberá antes que o problema ocorra. O Connag está disponível em todos os equipamentos da Stara que usam o Topper 5500, computador de bordo com telemetria.
Empresa aposta na conectividade para apoiar produtor em todas as etapas da lavoura
Piloto automático em pulverizador explora ao máximo a área sem gerar danos às plantas
VALTRA/DIVULGAÇÃO/JCConectividade é a palavra-chave para a Valtra na adoção de tecnologias nos seus produtos, estratégia que está amparada em três pilares que formam o ciclo de agricultura de precisão: coleta de dados, análise das informações e intervenções.
"A conectividade aproxima o produtor do que está acontecendo em todas as etapas da sua produção e permite o cruzamento de todas as informações disponíveis de máquina, como solo, planta e clima, tornando a tomada de decisões mais rápida e eficiente", relata o coordenador de marketing de produto Fuse da AGCO, para a Valtra, Gerson Filippini Filho. A AGCO, empresa que controla a marca Valtra, criou o departamento Fuse justamente para desenvolver e implementar inovações na área de agricultura de precisão.
O primeiro pilar visa coletar informações da cultura em todas as etapas em campo, máquinas, equipamentos e demais tecnologias aplicadas. A segunda envolve a compilação destas informações, proporcionando a tomada de decisões baseadas nas análises e conclusões formadas. Já a terceira etapa é buscar a aplicação do conhecimento acumulado através do uso das ferramentas desenvolvidas para realizar as intervenções.
"A conectividade englobada dentro da agricultura de precisão oferece maior controle aos produtores rurais, que passam a ter mais informações e tecnologias para reduzir o impacto das máquinas, aumentar a produtividade e, consequentemente, reduzir custos", ressalta.
O executivo exemplifica citando o sistema de piloto automático Auto-Guide 3000 no pulverizador BS3120H HiTech, que permite ao produtor explorar ao máximo a área produtiva sem comprometer o desenvolvimento da planta. Isso impacta na produtividade, pois evita a sobreposição na aplicação de insumos. Com isso, há diminuição dos custos, menor consumo de combustível e menor compactação do solo, propiciando a diminuição de etapas posteriores de produção.
Outro exemplo de tecnologia embarcada está na colheitadeira de cana Valtra BE1035e, que já sai de fábrica com o sistema de telemetria que possibilita o monitoramento a distância. Com este dispositivo, chamado de AgCommand, é possível monitorar a máquina em tempo real, desde o momento em que está na fábrica, passando pela concessionária Valtra e até mesmo do cliente. "Isso possibilita agilizar a manutenção preventiva, repondo peças ou fazendo ajustes ao detectar essa necessidade, evitando longas paradas para manutenções", relata Filippini Filho.
A funcionalidade também permite que parâmetros operacionais da máquina sejam monitorados em tempo real, propiciando intervenções e orientações para o operador a utilize do modo mais adequado em cada situação. Assim, se o operador estiver colhendo com a velocidade fora da faixa recomendada, o cliente sobre como fazer o ajuste de forma a obter melhor performance.