Cresce a busca pela eficiência energética

Os aspectos econômicos da busca por sustentabilidade na construção civil deverão ganhar cada vez mais importância nos projetos

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Faria reforça peso da questão econômica nos processos
Os aspectos econômicos da busca por sustentabilidade na construção civil deverão ganhar cada vez mais importância nos projetos - da concepção à operação dos edifícios a ser construídos nas próximos décadas. Sistemas de reaproveitamento da água e de economia e geração de energia elétrica passarão a ser ainda mais presentes nos empreendimentos, levando a um contexto de exploração mais racional dos recursos. Essa perspectiva, carregada de otimismo, é reforçada pelos dados do Green Building Council (GBC), entidade responsável pela emissão de certificações de construções verdes em 165 países do mundo, segundo a qual o Brasil tem destaque nesse cenário global.
Conforme o diretor executivo do GBC Brasil, Felipe Faria, o País ocupa o quarto lugar na escala mundial de projetos registrados para obtenção de certificados - em especial, a Certificação LEED (sigla para Leadership in Energy and Environmental Design, ou Liderança em Energia e Projeto Ambiental). Com 1.280 projetos registrados e 440 certificados, o cenário brasileiro só fica atrás de China, Canadá e Índia. E o País já apresenta destaques em categorias novas, como Casa e Condomínio - referentes à sustentabilidade em empreendimentos residenciais - e Net Zero Energy - voltada aos projetos de autossuficiência em consumo e geração de energia.
Essas duas novas certificações foram lançadas oficialmente no Brasil em agosto, durante a oitava edição da Greenbuilding Brasil Conferência Internacional e Expo, realizada em São Paulo. A busca pela autossuficiência em energia foi um dos destaques do lançamento, com 11 projetos registrados e dois já certificados - um no Mato Grosso, outro no Paraná. Ambos comprovaram que o consumo de energia local da operação anual é zerado por uma combinação de alta eficiência energética e de geração de energia por fontes renováveis. "É um bom número para começo. Se falarmos em prédios autossuficientes, já se pensa em Estados Unidos ou Europa, mas aqui é uma forte tendência", avalia Faria. "O mais importante é que tudo isso tem viés de ganhos econômicos. Isso é o que vai fazer ficar escalonado", diz o diretor executivo.
Faria enfatiza que a questão econômica será cada vez mais determinante na busca pela sustentabilidade, citando estudos que demonstraram a valorização do metro quadrado de construções certificadas em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. "Foi verificado que esses prédios tiveram 7% menos vacância de salas comerciais no Rio, e 9,5% em São Paulo", compara. "O acréscimo de custo (na construção) fica entre 0% e 6%, e o payback de curto prazo das reduções de consumo pode chegar a uma média de 40% na água e de 25% a 30% na energia elétrica", completa Faria. "É muito mais fácil investir em eficiência energética do que aumentar a produção de energia", diz.
Conforme o diretor, a conscientização do público e dos empreendedores quanto à sustentabilidade deixa de considerar apenas o aspecto sócio-ambiental e percebe também as vantagens econômicas. "Isso (a eficiência das edificações) é o agora, já representa uma vantagem competitiva. O mercado da construção é cruel, você passa a ser julgado com valores de 2021, e tudo muda muito rápido. O consumidor se torna mais crítico. Corre-se o risco de concluir em quatro anos algo já ultrapassado, é preciso pensar bem à frente", salienta Faria.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as certificações já fazem parte dos requisitos para a aprovação de novos projetos. Faria acredita que o Brasil não está distante de adotar regras semelhantes, lembrando que já houve projetos de lei em São Paulo prevendo descontos de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para prédios certificados. Embora a proposta não tenha avançado no Legislativo paulistano, outros municípios daquele estado já adotaram o chamado IPTU Verde, mas ainda com imperfeições na fiscalização.

Lojas apostam na certificação LEED para garantir economia de consumo

Entre as construções que obtiveram a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) no Rio Grande do Sul estão a Arena do Grêmio, a loja da rede C&A na Rua dos Andradas, o head office da Coca-Cola Vonpar (em Porto Alegre) e o Shopping São Pelegrino (em Caxias do Sul). Outras edificações estão registradas e aguardam certificação, como é o caso da nova sede administrativa das Lojas Renner, inaugurada em março deste ano na Capital. O prédio, com 32,7 mil metros quadrados, conta com energia 100% renovável, apostando no uso de lâmpadas de LED - que garantem 15% de economia no consumo. Também houve a preocupação com a questão térmica, com o uso de vidro na fachada e de tinta térmica em toda a cobertura do prédio. O sistema de reaproveitamento de água garante a redução do consumo em 55%, e 50% dos materiais utilizados na construção foram extraídos, processados e fabricados localmente.
"Começamos a trabalhar as premissas que julgamos importante para todas as lojas da rede", explica a gerente-geral do departamento de Arquitetura e Engenharia da Renner, Alessandra Shargorodsky. Ela acrescenta que a empresa já tem uma loja certificada, no RioMar Shopping Fortaleza (CE), e espera certificação para outras duas unidades - uma no RioMar Kennedy, também em Fortaleza, e outra na Vila Mariana, em São Paulo.
Um dos recursos explorados na busca pela eficiência energética foi a automatização dos sistemas de energia elétrica e de climatização em 50 das 312 lojas da rede. "Podemos monitorar melhor como os equipamentos estão funcionando", esclarece Alessandra. Outra mudança foi o uso das lâmpadas de LED, presentes em toda a rede. Mas a adoção dessa tecnologia não foi apenas um processo de substituição de redes e luminárias. "Tivemos que passar por vários testes para achar a lâmpada mais eficaz", explica.