Parlamento da Venezuela comemora 'derrota' do governo em votação sobre Constituinte

ONU pede investigação independente sobre 10 mortes durante protestos no fim de semana

Por

Julio Borges (c) disse que governo 'débil' inventou 8 milhões de votos
O Parlamento da Venezuela, de maioria opositora, comemorou ontem o que considerou como uma derrota do governo de Nicolás Maduro nas eleições da Assembleia Nacional Constituinte realizadas no domingo. Segundo o Legislativo, os resultados foram inventados. "A realidade política é que o povo venezuelano derrotou o governo de maneira contundente", disse o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges. Para ele, a derrota deve dar "mais força e determinação" aos venezuelanos para "continuar na luta".
Borges deu as declarações a jornalistas na sede do Palácio Legislativo, onde os opositores chegaram cedo para resguardar o recinto, perante a possibilidade de que fosse tomado pelo oficialismo para instalar a Constituinte. Logo após a chegada dos parlamentares, um grupo de coletivos ligados ao governo rodeou o Parlamento e impediu a entrada de fotógrafos e de outros jornalistas.
Borges disse que "este passo final" do governo de ter avançado com a Constituinte para mudar a Carta Magna, apesar da rejeição da oposição e do chavismo crítico, mostra que se trata de "um governo tão desesperado, tão débil que tem que inventar 8 milhões de votos que não existem".
Já o deputado Henry Ramos Allup disse esperar que "não pretendam dissolver um poder eleito legitimamente", como é a Assembleia Nacional. No entanto, poucos minutos após o anúncio dos resultados, Maduro assegurou que o Parlamento devia ser "revisado", e a imunidade de alguns deputados, suspensa.
A Constituinte foi votada no domingo em meio a grandes protestos, reprimidos pelas forças de segurança, deixando um saldo de pelo menos 10 mortos, segundo dados do Ministério Público. A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a violência e as mortes durante a eleição na Venezuela. Em comunicado publicado, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pediu que se abram "investigações independentes" para determinar as circunstâncias das mortes. O apelo foi feito dias depois de a Organização dos Estados Americanos (OEA) indicar que está coletando material para denunciar a Venezuela por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional.
"Lamentamos que pelo menos 10 pessoas tenham morrido na Venezuela no fim de semana, enquanto ocorriam protestos sobre a eleição para a Assembleia Constituinte", declarou Elizabeth Throssell, porta-voz das Nações Unidas para Direitos Humanos. "Pedimos investigações imediatas, efetivas e independentes, e pedimos que o governo coopere plenamente com essas investigações", insistiu.
Também ontem, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou sanções contra o governo venezuelano. "As eleições ilegítimas de domingo confirmam que Maduro é um ditador que ignora a vontade do povo venezuelano", disse o secretário do Tesouro, Steven T. Mnuchin.

Maduro diz que Constituinte começa a operar em uma semana

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou ontem que a nova Assembleia Constituinte do país começará a operar dentro de uma semana. Maduro disse que usaria os poderes da Assembleia para impedir que os candidatos da oposição vencessem as eleições governamentais em dezembro, a menos que haja uma coordenação entre situação e oposição para negociar o fim das hostilidades que geraram quatro meses de protestos e ao menos 125 mortos e quase 2 mil feridos.
Mais de 8 milhões de venezuelanos votaram no domingo segundo o órgão eleitoral do país. O número representa 41,53% do total de eleitores do país e é muito mais do que foi estimado pela coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática), que previa apenas 2,48 milhões de pessoas votando, 12% dos 19,8 milhões dos eleitores.
"Em extraordinária participação, 41,53% dos eleitores votaram", anunciou a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena. O presidente Nicolás Maduro comemorou a marca em discurso na Praça Bolívar, no centro de Caracas. "Teremos Assembleia Constituinte. Essa é a maior votação da revolução bolivariana em toda sua história eleitoral", disse. O líder da oposição, Henrique Capriles, pediu aos venezuelanos que continuem a protestar contra a Assembleia, com os críticos temendo que Maduro ganhe ainda mais poder após a votação.