Para evitar corrupção, Departamento de Esgotos Pluviais exigirá GPS em equipes e fotos dos trabalhos

Alvo de investigação da Polícia Civil, DEP passa por readequação de contratos

Por Isabella Sander

Ramiro Rosário tem buscado maior controle na execução de serviços
Há um ano, uma denúncia de superfaturamento de terceirizadas que efetuavam limpeza de bocas de lobo em Porto Alegre tornou o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) o centro de trabalhos de investigação por parte da Procuradoria-Geral do Município (PGM) e da Polícia Civil. Ficou evidenciada a falta de fiscalização. Para evitar mais casos de corrupção, a prefeitura desenvolveu novos modelos de contrato, que exigem GPS nos líderes das equipes contratadas, publicação de fotos "antes e depois" dos serviços, ponto biométrico para os trabalhadores e ganho por produtividade.
Segundo o secretário municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário, para evitar que esse tipo de irregularidade ocorra novamente, a pasta inovou na forma de contratação de terceirizadas, não só pelo DEP, como em toda a Secretaria de Serviços Urbanos (Surb). "Temos buscado incluir a exigência de GPS, para sabermos onde estão as equipes, o que fizeram e o tempo que levou cada limpeza", relata. O acompanhamento do trabalho se dará através de um sistema desenvolvido pela Procempa (Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre) e passará a operar quando os novos contratos entrarem em vigor.
Nesse mesmo sistema, serão publicadas pelas equipes fotos "antes e depois" dos serviços realizados. "Isso aumenta a capacidade dos nossos técnicos de apurar se estamos pagando um trabalho que está sendo cumprido e qual a qualidade desse serviço", destaca Rosário. Outra ferramenta de controle será o ponto biométrico, a fim de saber a que horas os funcionários se apresentaram e quantos foram trabalhar.
O ganho por produtividade será implantado com o propósito de estabelecer uma meta para cada equipe contratada, que, se não atingida, reduzirá o lucro da empresa licitada. "Fizemos um estudo para definir um número mínimo de bocas de lobo a serem limpas. Se a empresa não atingir o mínimo razoável, passa a receber menos, proporcionalmente", explica o secretário.
Dois contratos nesses moldes estão próximos de entrar em vigor. Um deles é o das equipes de operários que farão a limpeza das bocas de lobo, pequenos reparos pluviais e consertos de tampas de bueiros quebradas. "É a alma do departamento", resume Rosário.
A licitação para esse contrato já foi feita, mas a prestadora do serviço anterior, Cootravipa, que teve seu contrato rescindido, entrou com processo judicial impugnando o processo licitatório. O DEP, então, fez um contrato emergencial já incluindo as novas ferramentas de controle, com validade de até 180 dias, enquanto a situação judicial não se resolve. Duas empresas manifestaram interesse. A vitoriosa desistiu e quem assumirá será a segunda colocada, MG-Service Terceirização, na primeira quinzena de agosto.
O segundo contrato é relativo ao trabalho de dragagem de arroios, com validade de um ano. A empresa será responsável por retirar areia, lodo e materiais sólidos do leito das ruas, prevenindo alagamentos e transbordamento de arroios. O processo licitatório já foi concluído. A vencedora foi a empresa Maraskin Projetos, Construções e Incorporações. A previsão é que a licitada comece a atuar também na primeira quinzena de agosto.

PGM pretende tornar Cootravipa inapta a participar de futuras licitações

Depois de denúncia envolvendo a JD Construções, antiga responsável pela limpeza de bocas de lobo nas ruas e avenidas de Porto Alegre, a Cootravipa acabou assumindo o serviço. Porém, foi encontrado superfaturamento também em relação à cooperativa, fazendo com que a prefeitura rescindisse os contratos com a prestadora. Agora, a Cootravipa é alvo de processo administrativo da PGM, que visa torná-la inapta para futuras licitações. A procuradoria investiga internamente a prefeitura em relação ao superfaturamento de mais de R$ 10 milhões em contratos do DEP com a cooperativa e outras empresas terceirizadas, desde 2011. Em paralelo a isso, a Polícia Civil realiza investigação criminal.
No mês passado, a PGM obteve a suspensão da liminar concedida pelo 11º Grupo Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) à Cootravipa, a qual determinava o pagamento de 70% dos valores cobrados pela cooperativa por serviço prestados ao DEP. A decisão suspendeu parcialmente a medida cautelar expedida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que retinha totalmente os pagamentos realizados.
Os quatro contratos, mantidos pelo departamento junto à Cootravipa para execução de manutenção corretiva, foram extintos. Em relação à JD Construções, primeiro alvo da investigação, foram recuperados através de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) cerca de
R$ 3,5 milhões.
Sobre a JB Comércios e Serviços Ambientais, foi instaurada sindicância. Para as empresas REF Manutenções e Locações Ltda. e Imbil Indústria e Manutenção de Bombas Ltda., foram ajuizadas ações de improbidade. A 1ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre determinou a indisponibilidade dos ativos financeiros de Francisco Mellos (ex-diretor adjunto do DEP), Paulo Guilherme Silva Barcellos da Silva (ex-diretor de Conservação; fiscal de contrato), da REF e da Imbil até o limite de R$ 3.220.908,18, bem como a restrição dos veículos dos ex-diretores e das empresas. A empresa Grimon apresentou laudo comprovando não haver problemas de estrutura.