Organizadas em redes, elas também se capacitam em conjunto. No Estado, há vários grupos engajados em empreendedorismo

Mulheres se unem Rio Grande do Sul afora para impulsionar negócios umas das outras


Organizadas em redes, elas também se capacitam em conjunto. No Estado, há vários grupos engajados em empreendedorismo

A Business Professional Women (BPW) é uma federação internacional criada na Suíça na década de 1930, após a Segunda Guerra Mundial, a fim de oferecer orientação para negócios e empreendedorismo às mulheres que, com os maridos perdidos na guerra, tiveram de assumir os filhos e as contas da casa sozinhas. Com o tempo, se espalhou pelo mundo. Presente em Porto Alegre há duas décadas, retomou atividades em 2015 sob a gestão da presidente Silvana Bastian, 42 anos, e a vice Lessandra Fraga, 43.
A Business Professional Women (BPW) é uma federação internacional criada na Suíça na década de 1930, após a Segunda Guerra Mundial, a fim de oferecer orientação para negócios e empreendedorismo às mulheres que, com os maridos perdidos na guerra, tiveram de assumir os filhos e as contas da casa sozinhas. Com o tempo, se espalhou pelo mundo. Presente em Porto Alegre há duas décadas, retomou atividades em 2015 sob a gestão da presidente Silvana Bastian, 42 anos, e a vice Lessandra Fraga, 43.
Ambas são empresárias, de ramos distintos. Silvana é publicitária e atua como consultora e gestora de projetos na sua uma empresa de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Lessandra é estilista, tem marca própria de roupas sustentáveis, gere uma loja colaborativa e administra um coletivo de moda que, em breve, será um e-commerce. Em comum, elas têm o desejo de impulsionar os seus negócios e os negócios de outras mulheres, com trocas de experiências e conhecimento - as bases da associação. Este fomento é feito através de eventos e projetos desenvolvidos dentro da entidade, que tem cerca de 40 associadas.
Os perfis são vários. Interessadas em empreender, donas de negócios, prestadoras de serviço, funcionárias, executivas das mais diversas áreas de formação e idade - assim como há a ala jovem, que vai até os 35 anos, há espaço para as aposentadas. Isso contribui para o desenvolvimento de um ambiente de compartilhamento de expertises, expansão de redes e inserção de profissionais capacitadas no mercado. O contato com a rede global da BPW possibilita aprimoramento para prestação de serviços internacionais. "Para mim, foi muito mais fácil estabelecer parcerias sob o nome da BPW", avalia Lessandra, sobre a importância de estar ligada a uma rede com um legado já construído - a entidade, de quase 90 anos, é reconhecida com uma cadeira consultiva na Organização das Nações Unidas (ONU).
Todos os meses, elas realizam um evento na livraria Fnac com algum profissional convidado e uma associada, para falar sobre assuntos técnicos, de gestão, finanças pessoais, desenvolvimento humano e por aí vai. Uma incubadora própria também foi montada para impulsionar startups de associadas, que recebem mentorias de outras. A organização tem projetos a nível global, um deles é o Trabalho Igual, Salário Igual, que defende a igualdade de gênero e remuneração dentro das empresas. Silvana entende bem a necessidade de projetos como este. No início do seu negócio, perdia contratos por ser mulher. Até que contratou profissionais homens terceirizados para ficar na linha de frente enquanto ela e a sócia atuavam no background. "Assim, era mais fácil fechar com determinadas empresas", diz. Esta dificuldade, afirma, trouxe novas estratégias.
A maneira de aproveitar todos os benefícios que a rede dispõe, segundo a presidente, é só uma: participar. "Não adianta ser uma associada que só acompanha as coisas virtualmente. O nosso aprendizado vem principalmente da nossa participação e engajamento", afirma Silvana. A mensalidade da associação custa R$ 40,00.

Ambiente que fortalece vínculos

Foi a partir de uma reunião de amigas que queriam promover encontros com conteúdo que a Confraria do Batom nasceu, em 2009. Com pilares que abordam sensualidade, beleza, bem-estar e independência financeira, a confraria já recebeu mais de 3 mil mulheres em seus eventos. "Nosso papel é proporcionar este ambiente para as pessoas se conhecerem, estabelecerem laços de confiança, conhecerem as necessidades e descobrirem como podem se ajudar", resume Iva Cardinal, 42 anos, fundadora da iniciativa.
Entre as ações está o Vai Lá e Faz Networking, evento que reúne a apresentação de 30 a 50 pitches de dois minutos, somente de empresas comandadas por mulheres. "Temos uma metodologia própria para que este networking seja realmente efetivo", conta. Do evento, cada pessoa sai com uma caderneta com todos os cartões de visita das expositoras e algumas propostas para serem executadas em até 30 dias, como encontros entre pequenos grupos afins em algum parceiro da Confraria, e o Desafio 5x1, que incentiva as participantes a consumirem, fazerem parcerias ou indicarem produtos e serviços de cinco confrades. "Todas as ações pré, durante e pós-evento são pensadas para este fim", ressalta Iva. Além disso, as conexões vão além dos negócios. "Tem muita gente que se conhece na confraria e vira amiga de infância", exemplifica.
Iva, além de cabeça da Confraria do Batom, tem a própria empresa de consultoria em estratégia e internacionalização, outra de mentorias em empreendedorismo e é mãe de dois filhos pequenos. Não é moleza dar conta de tudo. "A primeira coisa fundamental é gostar do que está fazendo, seja cozinhar para a família ou viajar a trabalho. A segunda é que durmo pouco", conta, em meio a risadas.
Um dos principais pontos que a Confraria enfatiza é justamente essa troca entre as confrades, impulsionando que consumam umas das outras. "A maioria são pequenos negócios, então estimulamos dar preferência para comprar ou contratar o serviço de alguém da Confraria." Aos poucos, os eventos vão se espalhando pelo Estado, através de parcerias locais. Já ocorreram edições variadas em Novo Hamburgo, Esteio, Estrela, Lajeado, Gramado, Canela e Carazinho.
Há mais de uma modalidade para participar da confraria. Além dos eventos abertos, é possível ser integrante "de carteirinha", a R$ 29,90 por mês, com acesso a descontos em mais de 30 empresas parceiras e nas programações realizadas na cidade.
Outra maneira é o Business Club, que oferece 14 benefícios, entre poder pegar emprestado os livros de uma vasta biblioteca e ter acesso a palestras exclusivas e gratuitas sobre negócios, a R$ 90,00 por mês.

BOM SABER

O evento Vai Lá e Faz Networking da Confraria do Batom acontece até quatro vezes por ano em Porto Alegre. Para participar como ouvinte custa R$ 60,00 e R$ 250,00 para submeter o pitch para apresentação, que passa por pré-seleção.

Pelotas como polo de empreendedorismo feminino

"Em 2015, eu estava trabalhando em um lugar que gostava muito, uma instituição de ensino aqui de Pelotas. Era uma realização", conta a empreendedora Renata Louzada, 38 anos. Ela tem dois filhos, uma de 15 e um de oito anos. Na época, o mais novo foi diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Como trabalhava de oito a 12 horas por dia e não tinha com quem deixar o menino, teve de fazer escolhas.
"Eu pensava: 'vou largar minha carreira que eu corri tanto atrás?' Mas meu filho estava precisando de mim, era mais importante", sublinha. Para poder dar atenção maior a ele, Renata freou sua vida profissional. "Aí, decidi empreender." Neste ínterim, começou a escrever um blog sobre dilemas profissionais ligados ao empreendedorismo feminino, o que levou muitas mulheres da região de Pelotas, onde vive, a se identificarem e a interagirem com os textos. "Entendi que o meu propósito era fazer algo que fosse bom para mim e para outras mulheres", conta. A partir disso, buscou parcerias para ajudar a formar o que hoje é a rede de Mulheres Empreendedoras do Sul, projeto atuante em outras cidades também, como Rio Grande e Bagé. A atividade preencheu a vida de Renata, que trocou a área de Letras para virar coach de empreendedorismo. "Hoje, trabalho só com isso. A dedicação é exclusiva para o nosso negócio. Não é fácil reverter em dinheiro, mas consigo me manter."
Ampliando cada vez mais sua presença na internet, a rede se sustenta através de cursos on-line e eventos de assuntos diversos, como vendas, gestão financeira, que acontecem prioritariamente em estabelecimentos geridos por mulheres. Já foram impactadas cerca de 5 mil. Há também um grupo no Facebook com cerca de 1,5 mil participantes, e, recentemente, foi lançado um guia em forma de aplicativo que indica estabelecimentos capitaneados por empreendedoras. "É um guia para que as pessoas possam encontrar e contratar serviços de mulheres", esmiúça. Muitas empresárias, segundo Renata, se encorajam a partir dos eventos, mudam sua perspectiva e posicionamento, fecham e criam novos negócios. E qual o maior impacto de tudo isso? "É para que, no futuro, minha filha tenha mais possibilidades e mais chances do que eu."