Blockchain pode revolucionar forma de fazer transações pela internet

Tecnologia permite que negócios ocorram sem um intermediário, como um pagamento sem um banco

Por Patricia Knebel

Volume de bitcoins negociados no País saltou de R$ 210 mil para R$ 113 milhões por dia
O mercado espera para o dia 1 de agosto uma provável ativação de software no Bitcoin, o que significa a possibilidade de a moeda digital mais famosa e usada no mundo se dividir em duas. “Isso pode afetar a confiança de muitos em criptomoedas e pode haver até mesmo um impacto nos investimentos em blockchain”, aponta o diretor de Pesquisas do Gartner, Rajesh Kandaswamy.
O tema ainda é bastante restrito aos círculos de tecnologia, e muitas vezes difícil de entender. Ainda não se sabe exatamente o impacto disso, mas esse episódio aproveita para colocar nos holofotes uma nova tecnologia tida como altamente promissora pelo mercado mundial: o blockchain.
O Blockchain é um conjunto de blocos encadeados e conectados um a um, seguindo uma lógica matemática. Os dados ali colocados, por empresas ou instituições públicas, nunca poderão ser apagados. A tecnologia nasceu junto com o Bitcoin e é a base tecnológica para o funcionamento de qualquer criptomoeda – atualmente existem mais de 700 catalogadas no mundo. Mas, a potencial de aplicação é imenso, e o seu impacto vem sendo comparado ao do surgimento da internet.
O segredo está no uso inovador de tecnologias existentes para autorizar a realização de diversas transações, independente de uma autoridade central. Assim, se alguém fizer uma transação da sua carteira de bitcoin para outra pessoa, isso fica registrado. É possível, por exemplo, criar uma rede blockchain entre os cartórios brasileiros, com controles de acesso. Se um cidadão estiver comprando um imóvel e registrar isso no blockchain, toda transação ficará registrada e não poderá nunca ser apagada, bem como dados do proprietário e a situação do imóvel, inclusive com a situação de IPTU e outras certidões.
Recentemente, uma rede supermercadista global fez uma experiência para rastrear a produção de carne suínas compradas da China. Isso permitiu estar em contato com toda a cadeia para saber exatamente a procedência das carnes. Se a companhia identificar que houve algum problema em uma região, consegue saber para onde foi o lote e isolar o produto.
Muitas empresas já fazem essa rastreabilidade mas, ao usar blockchain, fica impossível apagar registros. “O blockchain funciona como um grande repositório de dados, mas com absoluta segurança e controle de acesso. Uma das grandes vantagens é a transparência”, explica o gerente de Tecnologia de Segurança da Informação e Comunicação do CPqD, José Reynaldo Formigoni Filho.
O valor de negócios agregados pelo Bbockchain vai chegar a mais de US$ 176 bilhões em 2025, e ultrapassará os US$ 3,1 trilhões até 2030. A aposta é do Gartner que, assim como diversas outras instituições, vê essa tecnologia altamente estratégica para o mercado global. “O potencial é imenso, pois permitirá a evolução de muitos produtos, serviços e empresas inovadores”, aponta o diretor de Pesquisas do Gartner, Rajesh Kandaswamy.
Ele explica que todo esse frisson é explicado porque o blockchain permite que uma transação ocorra sem um intermediário, como um pagamento sem um banco. Para isso ser possível, usar uma rede de computadores que concordam com a transação. “Tudo é armazenado em uma cadeia de blocos de uma forma que não é possível mudar qualquer um dos blocos anteriores sem invalidar qualquer coisa que segue depois. Isso garante que os registros não sejam corruptíveis e possam ser rastreados”, explica.
Tecnicamente, os registros são distribuídos pela rede. Se isso é criado dentro do ambiente corporativo, é possível criar mecanismos de limitação de acesso. Quando algo é escrito nessa grande base de dados, a publicação só é aprovada se um grupo mínimo de nós entrar em acordo e dizer que é valido. “A forma como isso acontece é de regra de consenso (não de uma pessoa, mas de diversos algoritmos). Depois que a escrita é autorizada, nunca mais é possível apagar”, relata Formigoni Filho.
Outra área que altamente potencial para o uso de blockchain é no setor público, como para garantir eleições de forma mais segura, já que impossibilitaria dois votos pela mesma pessoa e também garantia a imutabilidade dos registros das zonas eleitorais. Outra aplicação é para fazer a gestão de identidade digital de pessoas. Isso porque, permite o registro de todo histórico da vida de um cidadão nesta rede distribuída, como na área de saúde ou educação. “O Brasil ainda está longe, mas o potencial de aplicação na área pública é fantástica”, avalia.

O que é o Blockchain (cadeia de blocos)

É um conjunto de blocos encadeados e conectados um a um seguindo uma lógica matemática, ou seja, não são independentes. Também é chamado de ledger, ou livro de registros digital, no qual, uma vez validado um registro, este nunca mais poderá ser apagado.
Toda operação ou transação dentro do ledger é protegida por tecnologias criptográficas de assinatura digital, inclusive para identificar os nós emissores e receptores das transações. Quando um nó deseja adicionar ao ledger um fato novo, é necessário um consenso entre todos ou alguns nós previamente determinados da rede para decidir se o fato vai poder ser registrado.
Fonte: CPqD

Banrisul avança em projetos

O pontapé inicial no uso do blockchain foi dado pelo setor financeiro, então é natural que sejam os bancos os players que mais estão investindo e evoluindo nessas iniciativas. O Banrisul está imerso nesses projetos e atua tanto internamente como no Comitê de Blockchain criado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), um grupo de trabalho para discutir os efeitos destas tecnologias no mercado financeiro e as suas aplicações para melhorar produtos e serviços bancários. O grupo de trabalho é formado por diversas instituições, como Banco Central, Banco do Brasil e Itaú Unibanco.
"Estamos trabalhando com afinco com essa tecnologia, porque temos a visão que é uma das mais disruptivas dos próximos anos. É praticamente uma nova internet, porém mais segura", aponta o diretor de TI do Banrisul, Jorge Krug.
Hoje, quando uma pessoa vai em um ATM, ela coloca a sua senha (ou seja, se autentica no sistema) e retira o dinheiro. Automaticamente, o valor sai da base do banco, que dá a baixa na conta. Quando se entra no mundo de blockchain, o banco continua sendo o autorizador e responsável da guarda destes dados, mas como parte de um dos elos destes blocos. A informação sigilosa deixar de estar armazenada em um ponto fixo e passa a estar em diversos nós. "É uma autorização matemática, dada em algum ponto da cadeia de nós e que fica registrada de forma criptografada em uma espécie de livro-ponto, que não pode ser alterado jamais", explica Krug.
Segundo ele, a fase ainda é de estudos e de escolha dos modelos a serem adotados e que estão sendo ofertados por empresas de tecnologia, como Hyper Ledger, Corda, Chain e Ethereum. O que diferencia um do outro é a forma de implementação dos nós e autorização do que pode ser publicado. "O Banrisul está mais focado agora no Hyper Ledger, que é da IBM, mas vamos abrir outras frentes e testar novas tecnologias", conta.
O blockchain é uma tecnologia promissora, mas ainda precisa evoluir - e muito. Existem alguns desafios. Um deles é que a segurança não pode ser garantida 100%. Além disso, é preciso poder computacional significativo para verificar e confirmar cada bloco de transações. Pelo desenho desse processo, podem ocorrer no máximo sete transações por segundo, e cada bloco requer 10 minutos para confirmação.
A maioria dos esforços de empresas são experiências e ensaios. A expectativa do Gartner é que a adoção leve de 5 a 15 anos. "Essa tecnologia ainda é imatura e precisa se desenvolver para satisfazer às necessidades das empresas, em grande escala, com desempenho e interoperabilidade", relata o diretor de Pesquisas do Gartner, Rajesh Kandaswamy.