Mudança nas regras da mineração oneram setor do carvão

Pelo marco regulatório, royalty do mineral fica inalterado, mas incidência no faturamento bruto eleva contribuição

Por Jefferson Klein

Nova forma de compensação financeira vai impactar atividade
As alterações que o governo federal fez na regulamentação do setor de mineração terão reflexos em uma das principais riquezas energéticas do Rio Grande do Sul: o carvão. Apesar de o insumo não estar entre os minerais que sofreram incrementos nos percentuais dos royalties pagos (continua no patamar de 2%), o fato de a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) passar a incidir sobre o faturamento bruto e não mais sobre o líquido, como era até então, irá onerar o segmento.
O presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan, afirma que os impactos vão variar de caso a caso. Porém, o dirigente cita que, para uma mina subterrânea de Santa Catarina, o aumento será de 16,2%. Em geral, Zancan calcula que a elevação será algo entre 15% e 18%. Os efeitos deverão ser maiores nos minerais que também tiveram aumentos nos royalties, como o nióbio, o ouro e o diamante.
O dirigente destaca que há pontos positivos e outros negativos dentro das medidas adotadas. Como avanço, indica a desburocratização do setor e uma maior agilidade aos processos. Já do lado das críticas, está justamente o aumento dos encargos. O sócio na área de Mineração do TozziniFreire Advogados Luiz Fernando Visconti concorda que as ações estipuladas pelo governo para a área de mineração podem ser vistas como um copo "meio cheio ou meio vazio". Visconti recorda que a mineração no mundo e no País vem sofrendo problemas nos últimos anos como as reduções dos preços das commodities e do ritmo de compras da China. Dentro desse cenário, era necessário tomar uma decisão para tentar reanimar o setor.
Entre os tópicos a serem elogiados, o integrante do TozziniFreire cita a criação da Agência Nacional de Mineração (ANM), que aproveitará a estrutura do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Visconti enfatiza que segmentos como o de energia e petróleo já têm seus órgãos reguladores (Aneel e ANP), e faltava uma entidade dessa natureza e autônoma para a mineração. Em contrapartida, ele admite que haverá um acréscimo de custos no setor ao substituir o faturamento líquido pelo bruto como base de cálculo para os royalties que precisam ser pagos para União, estados e municípios onde estão localizadas as jazidas.
O secretário gaúcho de Minas e Energia, Artur Lemos Júnior, argumenta que as mudanças podem não agradar a todos. "Mas era importante trazer para a discussão o segmento", defende. O dirigente recorda que a mineração representa uma participação no PIB (4%) aquém do seu potencial. Enfatiza também que os minerais de uso imediato na construção civil tiveram os royalties diminuídos de 2% para 1,5%. Lemos ressalta que, apesar de o carvão ser o carro-chefe dos minérios no Estado, o Rio Grande do Sul conta ainda com itens como pedras preciosas, rochas, titânio e água mineral. O secretário acredita que será muito difícil reverter essa questão da Cfem incidir sobre o faturamento bruto, pois o assunto foi amplamente debatido.
Se as novas regras podem trazer custos extras para as empresas que exploram o carvão, os municípios que possuem jazidas do mineral terão um incremento de recursos. O prefeito de Candiota, Adriano Castro Dos Santos (PT), atesta essa perspectiva e salienta a importância da atividade para a região. Mais da metade da receita da cidade é oriunda da extração de carvão e da geração de energia a partir desse combustível. Em agosto, a previsão de arrecadação com ICMS do município é de aproximadamente R$ 1 milhão, e essas duas áreas correspondem a cerca de R$ 580 mil desse total.

Interesse por Candiota dependerá de política setorial

Sobre o adiamento de licitação para mineração de carvão de uma jazida da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), em Candiota, anunciado recentemente pelo governo federal, o presidente da ABCM, Fernando Zancan, diz que o interesse por esse ativo dependerá se será implementada ou não uma política nacional para o carvão. A postergação da iniciativa foi porque não foi contratada a elaboração de estudos econômicos, técnicos e ambientais para levar adiante o processo licitatório.
Segundo a assessoria de imprensa da empresa vinculada ao Ministério de Minas e Energia, antes do final deste mês serão lançados os editais para a contratação de companhias para fazer esses levantamentos. A previsão é que em dezembro seja lançada a licitação quanto à jazida e que o leilão ocorra na primeira metade de 2018. No total, a disputa abrangerá cinco blocos que somam uma área de mais de 96 mil hectares e, conforme a assessoria da CPRM, já foi demonstrado interesse da iniciativa privada na jazida.