Ministros decidirão hoje sobre a delação da JBS

Plenário da Suprema Corte discutiu os limites da atuação do relator

Por

Fachin defende que homologação de acordos seja feita pelo relator
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) devem decidir, nesta quinta-feira, sobre a homologação da delação da JBS. O julgamento de ontem foi suspenso e será retomado hoje.
O plenário do Supremo discute os limites da atuação do relator da Operação Lava Jato no STF, Edson Fachin, e se ele é o responsável pela delação da JBS. Primeiro a votar, Fachin defendeu que a homologação de acordos de delação premiada seja feita monocraticamente pelo relator.
Alexandre de Moraes seguiu o voto do colega. Celso de Mello, Marco Aurélio e Luiz Fux sinalizaram que concordam com a tese de Fachin. Depois do voto de Moraes, a sessão foi suspensa por causa do horário.
A discussão envolvendo a JBS partiu de um pedido do governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), que questiona se cabia a Fachin homologar a delação. Azambuja foi citado na delação da JBS numa questão envolvendo impostos estaduais e alegou que a relatoria não deveria ter ficado automaticamente com Fachin, porque o caso não tem relação com a Lava Jato.
Moraes argumentou que validar o acordo de colaboração é um ato processual e não significa que as informações relatadas sejam verídicas. Decano da corte, Celso de Mello interferiu durante o voto de Moraes para defender os acordos de delação premiada. Ele citou precedente da corte, que em 2015 já decidiu sobre o assunto.
Segundo ele, alterar os acordos depois de assinados pode criar um clima "indesejável" de insegurança jurídica. Para o decano, ao homologar colaboração, o relator deve analisar se os requisitos para o acordo foram cumpridos.
Fachin defendeu que a homologação de acordos de delação premiada, como o dos donos do frigorífico, seja feita monocraticamente pelo relator, argumentando que a homologação (validação) de uma delação é uma análise meramente formal de um acerto feito entre um criminoso confesso e o Ministério Público.
O juiz, ao homologar o acordo, não emite juízo de valor sobre o que foi delatado, afirmou Fachin. Portanto cabe ao ministro-relator efetuar a homologação e, ao plenário, julgar a eficácia do acordo somente ao final dos processos.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também defendeu a homologação da delação da JBS pelo ministro Edson Fachin. Fachin e Janot usaram um julgamento do STF em 2015 sobre homologação de delação premiada para justificar as razões para manter a relatoria com o ministro e o respeito ao acordo de colaboração.
 

Para Janot, decisão pode afetar investigações de crimes

No julgamento que poderá mudar a forma como são feitos os acordos de delação premiada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu a manutenção das regras atuais. Assim, segundo ele, um acordo pode ser homologado por um único ministro do STF e, após a homologação, não cabe fazer uma revisão dos termos acordados entre delatores e Ministério Público.
De acordo com Janot, a decisão tomada pelo STF vai afetar outras delações envolvendo não apenas políticos, mas também crimes como tráfico de armas e terrorismo.
"Permitir a revisão completa terá consequências, sim, em outros acordos de delação premiada. A mensagem será: ao acordar, o Ministério Público pode, mas não muito; ao acordar, o Ministério Público promete, mas não sabe se vai poder cumprir", afirmou Janot.
O caso concreto em julgamento é a delação de executivos do frigorífico JBS, que, entre outras consequências, levou à abertura de um inquérito no STF contra o presidente Michel Temer (PMDB).
Janot destacou que este não é o momento de questionar a delação, uma vez que cabe apenas analisar se a colaboração foi voluntária, além de alguns aspectos formais. Tudo isso, disse ele, já foi checado por Fachin.
De acordo com Janot, a eficácia na produção de provas é verificada quando houver decisão judicial nas frentes de investigação abertas com a delação.
Segundo Janot, decisões tomadas por único ministro conferem maior racionalidade, segurança, celeridade e controle de sigilo.
Ele lembrou decisão tomada pelo STF em agosto de 2015, por unanimidade, quando foi definido que um único ministro pode homologar uma delação. O debate foi feito ao se analisar questionamento à delação de Alberto Yousseff.
Segundo Janot, não poderia ser outro o entendimento da corte, uma vez que as delações são formas de obter provas, como a quebra de sigilo telefônico. E quebra de sigilo, destacou, é medida que pode ser autorizada apenas por um ministro.