Estação Ecológica do Taim é uma das principais áreas úmidas do planeta

Estação Ecológica do Taim, localizada nos municípios de Santa Vitória do Palmar e Rio Grande, é um orgulho para os gaúchos e brasileiros há 30 anos

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Capivaras estão entre as várias espécies de mamíferos da estação, no Sul do Estado
Mais de 30 espécies diferentes de mamíferos, mais de 250 espécies de aves - muitas delas migratórias do Hemisfério Norte e Patagônia, Pantanal, Argentina e Chile -, uma flora diversa e uma área ímpar de 33 mil hectares, resultam em um cenário de encher os olhos e tirar o fôlego. Assim é a Estação Ecológica do Taim (Esec), localizada no extremo Sul do Brasil, nos municípios de Santa Vitória do Palmar e Rio Grande, um orgulho para os gaúchos e brasileiros há 30 anos e que, no mês de março, foi reconhecida como uma das áreas úmidas mais importantes do planeta.
O chefe da estação, Henrique Ilha, explica que a classificação foi aprovada junto à Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, conhecida como Convenção Ramsar, considerada a mais relevante para designar áreas úmidas de expressão mundial. Além do Taim, o Parque Nacional de Anavilhanas (AM) e o Parque Nacional do Viruá (RR) também receberam a denominação, aumentando de 13 para 16 o número de áreas reconhecidas no País. A certificação ocorrerá ainda neste ano, em data a ser definida. "Isso garantirá à unidade maior exposição internacional e preferência na aplicação de recursos federais em sua manutenção, de acordo com as diretrizes do Ministério do Meio Ambiente", ressalta o especialista em gestão ambiental.
Mas não foi esta a única boa notícia que o Taim recebeu em 2017. Ainda em março, foi anunciada, pelo governo federal, a ampliação da estação, passando de seus atuais 11 mil hectares de área para 32.800 hectares. A medida aguarda a publicação de decreto, prevista para ao longo de junho. "Com o plano de manejo que deve se iniciar a partir da expansão do local, a lista de espécies deve aumentar e as lacunas de conhecimento serão identificadas", afirma Ilha.
Ele esclarece que a conquista é resultado de cinco anos de negociação, período em que a equipe da unidade e seu conselho consultivo elaboraram a proposta de forma negociada e consensual. Apenas oito mil hectares deverão ser comprados, e o restante é oriundo de áreas da União. Segundo o gestor, "a ampliação trará segurança jurídica aos proprietários e lindeiros envolvidos, deixando um legado de área contínua protegida, em sua grande maioria no banhado do Taim".
Para o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ricardo Soavinski, a ampliação fortalece as ações e instrumentos de gestão. A autarquia é ligada ao Ministério do Meio Ambiente e responsável pela administração do Taim. "A unidade possui uma função muito importante para a manutenção do equilíbrio ecológico da região, como a produção de alimentos, a conservação da biodiversidade, a contenção de enchentes e o controle da poluição", afirma. E reforça: "É uma das zonas mais ricas em aves aquáticas da América do Sul e, por ser um dos poucos remanescentes desse tipo de ecossistema, tem grande valor como patrimônio genético e paisagístico".

Ampla estrutura e parcerias ajudam a combater alguns problemas históricos

De acordo com o chefe da Estação Ecológica do Taim, Henrique Ilha, para manter o pleno funcionamento da estação, há o trabalho de 10 servidores federais e 11 terceirizados, além de estagiários e voluntários sazonais, que atuam em programas de proteção e pesquisa, incluindo a fiscalização, monitoramento e combate a incêndios. Na época de prevenção às queimadas, são mais 12 contratados. Todo este suporte é possível por meio de cinco bases avançadas, alojamentos e equipamentos. "Além disso, realizamos o programa de educação e interpretação ambiental com as escolas da região, temos o museu da unidade e trilhas com guias da comunidade treinados, sempre com o envolvimento das prefeituras locais", conta.
Ele cita as parcerias com Embrapa, Emater, Associações de Moradores, Sindicatos Rurais, Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), alavancando a pecuária sustentável, o arroz orgânico, as essências nativas associadas à silvicultura, o ecoturismo e a pesca sustentável. Sem falar nos programas de gestão da água e da sistematização dos dados para o público, realizados com o apoio da Universidade Federal do RS (Ufrgs), da Diretoria de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). "Ao longo destas três décadas, o Taim torna-se estratégico no resguardo de habitats e condições de sobrevivência para a enorme biodiversidade de nossa costa, além de regular fluxos hídricos e clima. Essa exuberante beleza e facilidade de observação da fauna poderão sensibilizar ainda mais a sociedade na busca de um equilíbrio entre os usos sustentáveis, a conservação e o legado deixado às gerações futuras", enfatiza Ilha.
A unidade ainda enfrente problemas históricos, como o atropelamento de animais na BR-471, a pesca e caça ilegais, a invasão de espécies exóticas, contaminação e desequilíbrio hídrico. "Esses desafios estão sendo equacionados, e a ampliação deve impulsionar soluções mais equilibradas, conservando os serviços ambientais e mantendo as importantes atividades produtivas da região", destaca Ilha.
Ele também aponta o atual contingenciamento de recursos, por parte do governo federal, reflexo da crise vivenciada no País. "Reduzimos algumas atividades, mas existe um bem-querer da sociedade para com a Estação, que trata o Taim como um patrimônio de todos, e não como área do governo, o que tem facilitado a passagem dessa época difícil que o país vem atravessando", confessa.