Setor externo tem superávit de US$ 1,397 bilhões

Resultado das transações correntes foi o melhor para março desde 2005 e o primeiro positivo no mês desde 2007

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Após o déficit de US$ 935 milhões em fevereiro, o resultado das transações correntes ficou positivo em US$ 1,397 bilhão em março, conforme divulgação feita ontem pelo Banco Central (BC). Este total representa o primeiro superávit para o mês desde março de 2007, quando somou US$ 185,5 milhões. Também foi o melhor resultado para meses de março desde 2005 (US$ 1,716 bilhão),
O BC projetava para março um déficit em conta de US$ 1,5 bilhão. A estimativa da instituição é que o rombo externo de 2017 seja de US$ 30 bilhões.
A balança comercial registrou saldo positivo de US$ 6,935 bilhões em março, enquanto a conta de serviços ficou negativa em US$ 2,523 bilhões. A conta de renda primária também ficou deficitária em US$ 3,194 bilhões. No caso da conta financeira, o resultado ficou no azul em US$ 1,795 bilhão.
No acumulado do ano até março, o rombo nas contas externas soma US$ 4,624 bilhões. Já nos últimos 12 meses até março deste ano, o saldo das transações correntes está negativo em US$ 20,557 bilhões, o que representa 1,10% do Produto Interno Bruto (PIB).
A remessa de lucros e dividendos de companhias instaladas no Brasil para suas matrizes foi de US$ 1,874 bilhão em março, informou o BC. A saída líquida representa um volume maior do que os US$ 1,412 bilhão que foram enviados em igual mês do ano passado, já descontados os ingressos.
No acumulado de janeiro a março deste ano, a saída líquida de recursos via remessa de lucros e dividendos alcançou US$ 5,199 bilhões. O total é superior ao registrado em igual período do ano passado, quando as remessas foram de US$ 4,191 bilhões. A expectativa do BC é que a remessa de lucros e dividendos deste ano some US$ 26,5 bilhões.
O Banco Central informou também que as despesas com juros externos somaram US$ 1,335 bilhão em março, ante US$ 1,047 bilhão em igual mês do ano passado. No acumulado do ano, essas despesas alcançaram US$ 6,463 bilhões, valor maior que os US$ 5,773 bilhões de igual período do ano passado. Para este ano, o BC projeta pagamento de juros no valor de US$ 21,4 bilhões.
A conta de viagens internacionais voltou a registrar déficit em março, informou o Banco Central. No mês passado, quando o dólar subiu pouco mais de 2% ante o real, a diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que os estrangeiros desembolsaram no Brasil foi de um saldo negativo de US$ 880 milhões. Em igual mês de 2015, o déficit nessa conta era de US$ 694 milhões.
O desempenho da conta de viagens internacionais foi determinado por despesas de brasileiros no exterior, que somaram US$ 1,530 bilhão em março. Já o gasto dos estrangeiros em passeio pelo Brasil ficou em US$ 650 milhões no mês passado.
No acumulado do ano até março, o saldo líquido dessa conta está negativo em US$ 2,623 bilhões. Em igual período do ano passado, esse valor era de US$ 1,126 bilhão. Para 2017, o BC estima um déficit de US$ 12,5 bilhões para esta rubrica, mais que os US$ 8,473 bilhões de déficit registrados em 2016.

Desempenho da balança comercial justifica números

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou ontem que o superávit em conta corrente de março, de US$ 1,397 bilhão, foi "muito bom diante das expectativas". Ele lembrou que o BC projetava, há cerca de 30 dias, déficit em conta de US$ 1,5 bilhão em março.
"O desempenho da balança comercial justifica o superávit em conta em março", afirmou Maciel, durante entrevista coletiva. Segundo ele, as exportações de soja foram destaque na balança comercial, com 16% de crescimento em relação a março do ano passado. "O minério de ferro é destaque também das exportações, já que os termos de troca estão favoráveis", citou.
Ele informou que a instituição projeta superávit de US$ 1,4 bilhão para abril nas transações correntes brasileiras. "A balança comercial, até a terceira semana de abril, aponta superávit de US$ 5,2 bilhões", citou Maciel, ao justificar a perspectiva de que a conta corrente também seja superavitária neste mês.
O chefe do Departamento Econômico comentou que, com os resultados da balança comercial neste início de 2017, a projeção do BC, de superávit de US$ 51 bilhões para o ano, está ficando conservadora. Ao mesmo tempo, Maciel afirmou que ainda é cedo para falar algo com maior precisão a respeito de possíveis mudanças na projeção. "Tivemos US$ 6 milhões de incremento da balança comercial no primeiro trimestre", citou Maciel. "As exportações cresceram 25%, e as importações avançaram 12% no período", destacou.
A melhora da perspectiva da atividade econômica e o câmbio mais favorável têm incentivado o turismo de brasileiros no exterior. Maciel nota que a tendência continua em abril. No mês até o dia 20, a conta de viagens internacionais registra rombo de US$ 710 milhões. Mantida a tendência, o déficit de abril terá crescido 63% na comparação com o igual mês do ano passado.
Dados preliminares do BC indicam que o gasto de brasileiros no exterior somou US$ 1,023 bilhão no mês até o último dia 20. Ao mesmo tempo, estrangeiros em viagem ao Brasil deixaram no País o equivalente a US$ 313 milhões.
Segundo Túlio Maciel, o aumento do déficit em viagens internacionais era esperado diante da melhora da perspectiva da atividade econômica e com o câmbio mais favorável para o brasileiro - com valorização e estabilização do real na comparação com o dólar. Maciel chamou atenção que esse cenário fez com que a conta de viagens acumulasse déficit de US$ 2,623 bilhões nos três primeiros meses de 2017, valor 132% maior que o observado em igual período do ano passado.
 

Banco Central projeta que Investimento Direto no País chegue a US$ 4,8 bilhões em abril

O BC projeta ingresso de Investimento Direto no País (IDP) de US$ 4,8 bilhões no mês de abril. O dado foi apresentado ontem pelo chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel. No mês até o dia 20, o dado preliminar indica entrada de US$ 3,7 bilhões.
Ao apresentar os números, o técnico do BC ressaltou o forte ingresso de recursos e notou que nunca foi tão grande a folga gerada pelo ingresso de IDP em relação à necessidade de financiamento gerado pelo déficit em transações correntes. "Seguimos com valores elevados e, nos últimos 12 meses, tivemos ingresso de US$ 85,939 bilhões. Esse valor é quatro vezes maior que o déficit em transações correntes de US$ 20,557 bilhões", disse Maciel. "Nunca tivemos uma diferença positiva tão grande entre o IDP e o déficit em transações correntes", completou.
Maciel ressaltou que o IDP é a fonte de financiamento externo de melhor qualidade, já que indica perspectiva de permanência mais longa dos recursos externos. "Isso gera renda, emprego, impostos e, claro, lucros e dividendos", disse, ao comentar que o quadro é explicado pela melhora da perspectiva econômica no Brasil.
Em março, o IDP somou US$ 7,109 bilhões. No primeiro trimestre do ano, o investimento direto foi de US$ 23,943 bilhões, o que representa um incremento de cerca de 40% em relação ao ano passado.
Considerando apenas os investimentos voltados para participação no capital - ou seja, compra de fatias de empresas no País - a entrada de IDP no setor de eletricidade, gás e outras utilidades foi de US$ 5,524 bilhões no primeiro trimestre. Maciel citou a saída mais significativa de recursos do País por meio da venda de ações por estrangeiros. Conforme o BC, o investimento em ações no Brasil foi negativo em US$ 2,271 bilhões em março. Ele minimizou, no entanto, o movimento, "tendo em vista os volumes". Chamou atenção para o fato de, no acumulado de janeiro a março, o investimento em ações ser negativo em apenas US$ 657 milhões.