Perspectiva de safra recorde embala Expodireto Cotrijal

Feira vai até sexta-feira, com previsão de alta de mais de 15% na receita de vendas, chegando a R$ 1,7 bilhão

Por Patrícia Comunello

Estandes da Emater e da Embrapa foram paradas obrigatórias de Sartori e Mânica
O primeiro dia da 18ª Expodireto registrou movimento intenso de agricultores, que vieram do entorno de Não-Me-Toque, sede do evento. O presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, abriu a edição ontem, apontando que será marcada pela maior safra de grãos da história do Rio Grande do Sul. "É a feira da esperança e da oportunidade", emendou Mânica, citando que vê sinais de recuperação da economia, com inflação e juros em queda. A feira vai até sexta-feira, com previsão de crescimento de mais de 15% na receita de vendas, chegando a R$ 1,7 bilhão, e atração de 250 mil visitantes.
"O Rio Grande vive momento importante de produção. Teremos, com certeza, a maior e melhor safra da história", reforçou o dirigente da cooperativa que promove o evento. O presidente da Cotrijal destacou a inovação e a novidade em tecnologia como o melhor do evento. "A cada 14 meses, há mais de 100% de melhorias, inovações e lançamentos no processo produtivo. No parque estão todas as inovações", dimensionou Mânica. Mesmo o recuo de preços da soja, não implica que não pode haver recuperação. O prognóstico positivo sobre os negócios, segundo ele, é efeito de produtores capitalizados, oferta de financiamentos e da necessidade do produtor.
O governador José Ivo Sartori (PMDB) destacou o peso do agronegócio, com 44% de geração de valor do PIB gaúcho, e concluiu que a condição de supersafra dá sustentabilidade a quem está no campo. "Aquilo que teve de decréscimo na área industrial, principalmente a metalúrgica, é superado pela sequência de evolução das safras, que deve permitir mais crescimento na indústria de máquinas", contrastou. Na feira, Sartori fez uma minimaratona, conferindo estandes, como o da Embrapa e o da Emater, que montou um circuito ambiental com a história da chegada da soja ao campo gaúcho. Uma das atrações é uma cidade e uma propriedade em miniatura, que atraiu a atenção do governador e sua comitiva.
Um dos temas que deve pautar toda a feira é a proposta de reforma da Previdência, que foi citada por todas as autoridades na abertura. Na sexta-feira, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado terá audiência pública no parque.
Mânica citou que a reforma é necessária, mas foi cauteloso sobre os impacto para os agricultores. "Será ponto importante para fazer os ajustes necessários para que não se retirem direitos do produtor. Ele é responsável por produzir alimentos. Mantenha o homem no campo, e as cidades sobreviverão; retire o homem do campo, e as cidades desaparecerão."
O prefeito de Não-Me-Toque, Armando Roos, reagiu a informações que atribuem ao setor parte da culpa pelo déficit. "Dizer que produtor não contribui e ajuda a quebrar a Previdência é desinformação. É o único que não sonega, pois desconta 2,3% na venda. Não tem como sonegar, é obrigado a emitir a nota", frisou Roos. 
O presidente da Assembleia Legislativa, Edegar Pretto (PT), oriundo do movimento sem-terra e agricultura familiar, declarou que é contra a reforma da Previdência, "pois retira direitos sagrados e conquistas da Constituição de 1988". "Estamos em crise, mas é o momento de apontar caminhos e usar a criatividade", sugeriu Pretto.

Na terra da soja, crédito para nogueiras

Soja e milho dominam a cena na Expodireto, mas culturas que despontam como apostas de produção ganharam espaço nas primeiras liberações de crédito na largada do evento. Foi o caso do projeto Brasil Paralelo Trinta, que terá R$ 870 mil para implantar mais 54 hectares de nogueira pecã em Encruzilhada do Sul.
No estande do BRDE, no Parque da Cotrijal, os sócios do projeto Breno Murer Zaffari e Luiz Antônio Fioravanso informaram que o recurso é parte de um aporte total de R$ 5 milhões em 102 hectares, que já tem 48 sendo cultivados.
Segundo a dupla, o projeto começou em 2015 e será gradativamente implantado. A produção ocorre após cinco anos ou seis anos de plantio, com produção anual. O negócio uniu Zaffari, que é comerciante em Porto Alegre, e Fioravanso, que é do meio rural. Em 2018, a dupla também já planeja entrar com o cultivo de oliveiras. "Esse mercado é dominado por importação. Do consumo, 94% vêm de fora", dizem os empreendedores.
O governador José Ivo Sartori, que visitou o parque ontem, falou, mais de uma vez, na intenção de impulsionar o cultivo de nozes e ainda de lentilha. "Israel tem muito interesse em comprar o produto", argumentou Sartori.
No BRDE, também foram liberados recursos para a cooperativa Tritícola de Sarandi (Cotrisal), que terá R$ 5,2 milhões para aumento de capacidade de armazenagem. Mais R$ 29,8 milhões podem ser liberados até o fim do ano. O grupo familiar Stefanello, em São Luiz Gonzaga, contratou R$ 2,9 milhões para sistemas de irrigação.

Parque recebe 26 mil visitantes no primeiro dia

A organização da Expodireto estimou um público de 26 mil pessoas no primeiro dia do evento, 13% acima do número registrado em 2016. A feira tem uma característica bem diferente da Expointer, que ocorre no fim de agosto, em Esteio: o público - quase a totalidade de produtores - não paga ingresso. No parque da Cotrijal, os estandes são de máquinas e insumos. Alguns restaurantes com espaço para refeições em grande volume. O primeiro dia trouxe famílias de Não-Me-Toque e Victor Graeff. Muitas mulheres acompanham os maridos, caso de Denise Cristiane Lamb, que saiu com uma grande orquídea. "Viemos para ver os estandes da agricultura familiar", disse Denise.
O marido, Volmir Paulo Lamb, disse que tirou um dia de folga da lavoura de milho e que deve voltar mais uma ou duas vezes. "Nos outros dias, ele vem sozinho", comentou a mulher. Lamb voltará para buscar tecnologias. "Tudo que a gente quer acha aqui", triunfou o agricultor com propriedade em Não-Me-Toque. Ele sabe dos lançamentos que as fabricantes estão prometendo. "E tem financiamento e linha de crédito para tudo que é lado", observou Lamb sobre a fonte para atender ao desejo de maquinário. A família Schossler veio em peso. Loivo, a mulher Ieda e a nora Marise. O agricultor está de olho nos insumos e nas promoções de sementes com desconto. "Depois daqui, todo mundo vai para a Festa da Cuca e Linguiça, em Victor Graeff", brincou Schossler, fazendo propaganda da sua cidade, distante 13 quilômetros do parque.