Europeus querem suspender compras de carnes do Brasil

Políticos e produtores pressionam autoridades a rever importações

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Queda nas vendas externas de carnes não trouxe grandes prejuízos
Partidos políticos e produtores europeus pedem o fechamento das fronteiras do bloco à carne brasileira, elevando a pressão para que a Comissão Europeia adote uma medida temporária contra o produto nacional depois da revelação da fraude no setor de carnes. O apelo vem de setores e países com uma tradição protecionista e que, por anos, vem solicitando que Bruxelas derrube um acordo com o Brasil no setor de carnes.
Parlamentares e produtores de países como a Áustria, França, Polônia e Irlanda passaram o fim de semana em contato para tentar estudar a forma de incrementar o lobby e pressionar as autoridades europeias a rever seus planos de autorização de importação da carne nacional. Bruxelas, porém, informou que não existiu qualquer caso de fraude registrada no comércio com o Brasil desde 2015.
Ainda assim, na Irlanda, o partido Sinn Féin foi um dos que apelaram publicamente neste domingo para o fim das importações de carnes brasileiras. O representante do partido para temas agrícolas, o deputado Martin Kenny, alertou que o caso brasileiro revela "as condições contra as quais os fazendeiros europeus precisam competir". "O Brasil é um dos grandes concorrentes da Irlanda pelo mercado europeu de carnes. Mas agora vemos a dimensão do escândalo", disse, apontando para "aditivos perigosos sendo colocados em carne de frango e carne contaminada com salmonela exportadas para a Europa".
De acordo com o partido de oposição, o ministro da Agricultura da Irlanda, Michael Creed, precisa "imediatamente buscar uma suspensão da importação de carne do Brasil para a Europa". "A situação é intolerável. O governo precisa agir", disse.
Entre os produtores, o caso também está sendo usado para justificar novas barreiras. "Vemos outro escândalo acontecendo fora das cercas da fazenda, não dentro, e mostra que precisamos ter um controle maior", disse Edmund Phelan, presidente da ICSA, a entidade que reúne os criadores de gado da Irlanda, um dos maiores fornecedores para o mercado europeu.
Na Bélgica, a Agência Federal para a Segurança da Cadeia Alimentar se apressou a tentar dar garantias aos consumidores locais de que os controles impostos pelos europeus e o volume de importação limitariam qualquer risco. "A exportação para a Europa se limita a poucas empresas e deve seguir padrões estritos", disse Philippe Houdart, porta-voz da Agência. "Trata-se de uma regra diferente daquela que existe no mercado brasileiro", insistiu.
Segundo Houdart, o controle feito pelos brasileiros "são submetidos a auditorias" por parte dos europeus. Uma vez no território europeu, o carregamento passa por um novo controle. Mas ele admite que, "se problemas emergirem, seria provavelmente na carne de frango congelada, destinada a um tratamento posterior".
O uso da fraude como argumento para fechar as fronteiras não ocorre por acaso. Estudos da própria União Europeia (UE) estimam que as exportações do Mercosul para a Europa poderiam aumentar em € 14 bilhões em 10 anos, graças a um acordo comercial entre as duas regiões.
A estimativa aponta que, até 2025, os europeus ampliariam em € 29 bilhões suas compras de produtos agrícolas de países envolvidos em acordos comerciais com Bruxelas. Metade viria do Mercosul. No total, isso representaria um salto em 24% nas exportações do Cone Sul para o mercado europeu.
Os ganhos do bloco sul-americano com um acordo, na estimativa dos próprios europeus, seriam quase três vezes maiores do que os americanos poderiam obter no setor agrícola com um eventual tratado de comércio com a UE. Segundo as estimativas oficiais de Bruxelas, os exportadores dos EUA registrariam um incremento em € 4,8 bilhões em vendas até 2025.
Um dos principais ganhos viria do setor de carnes. No segmento de produtos bovinos, o estudo da UE estima que "mais de 80% do aumento de importações viria do Mercosul". "A balança de comércio se deteriorará profundamente", admitiu a Comissão Europeia. O aumento em vendas para o bloco do Cone Sul seria de pelo menos € 1,4 bilhão. Outros € 900 milhões ainda seriam gerados no aumento de espaço para a carne suína e frangos do Mercosul no mercado europeu.

Operação da Polícia Federal derruba ações de empresas de alimentos e Bovespa cai 2,39%

A operação da Polícia Federal em empresas do setor alimentício foi o principal fato gerador da queda de 2,39% do Índice Bovespa, que terminou a sexta-feira em 64.209 pontos. O volume de negócios somou R$ 12,3 bilhões. Já o dólar à vista terminou com baixa de 0,67%, a R$ 3,0987, encerrando a semana com perda de 1,44%, após três ganhos semanais consecutivos.
A Operação Carne Fraca atingiu diretamente as ações da JBS e da BRF e teve efeitos secundários nos papéis do setor financeiro, em parte responsável pelo financiamento das empresas investigadas por irregularidades e pagamento de propinas. A notícia pegou investidores de surpresa e gerou um movimento de zeragem de posições, que aprofundou o viés de baixa.
As ações ordinárias do frigorífico JBS terminaram o dia em queda de 10,59%, liderando as perdas do Ibovespa. Em seguida vieram os papéis da BRF, com recuo de 7,25%. Outras ações do setor de carnes também foram afetadas. Marfrig ON teve baixa de 2,10% e Minerva ON perdeu 2,04%.
O risco de imagem dos produtos das companhias e o efeito financeiro sobre elas foram os principais motivos que levaram os investidores a vender as ações das empresas. As notícias podem comprometer as ofertas de ações planejadas pelas duas empresas.
Para a BRF, as investigações chegam em meio a um cenário adverso. A companhia divulgou no dia 24 de fevereiro que fechou 2016 com prejuízo de R$ 372 milhões, o primeiro desde a fusão entre Sadia e Perdigão formada em 2009. Dois importantes executivos - José Alexandre Borges, vice-presidente de finanças; e Rodrigo Vieira, vice-presidente de marketing, deixaram a empresa no dia 2 de março.
Desde 2013 a companhia iniciou um plano agressivo de internacionalização quando Abílio Diniz assumiu a gestão. Agora, o empresário lidera desde fevereiro um comitê para discutir planos de reestruturação para BRF a ser apresentado nos próximos 90 dias.
A Operação de ontem da Polícia Federal (PF) poderá, no entanto, afetar outro plano da companhia, o lançamento de ações da One Foods, empresa criada no início do ano para atuar no mercado muçulmano. A ideia era fazer uma captação de US$ 1,5 bilhão, seja por meio de oferta pública de ações (IPO, em inglês), ou investimento privado. O problema é que a imprensa internacional destacou fortemente a operação da PF, o que pode afastar investidores até que haja maiores esclarecimentos ou desdobramentos das investigações.
A questão também é delicada para o JBS, que planeja fazer IPO fora do País da JBS Foods, que engloba a Seara, justamente um dos alvos da operação. Assim como a BRF, a JBS está envolta em um cenário negativo. Seus controladores, os irmãos Joesley e Wesley Batista tiveram seus nomes envolvidos em diversas operações policiais nos últimos meses em denúncias de corrupção que envolvem outras empresas do grupo, como a Eldorado Celulose. Financeiramente, a JBS apresentou melhores resultados que sua concorrente BRF. Mesmo assim, o lucro teve uma queda de quase 85% no ano passado.