Deputados apresentam 146 emendas à reforma

Parlamentares de todas as vertentes políticas sugeriram mudanças

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Arthur Maia (PPS-BA) afirmou que, do jeito que está, texto não passa
Apesar dos apelos do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para que os deputados da base do governo não alterem os principais artigos do texto original da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 287, da reforma da Previdência, parlamentares de todas as vertentes políticas apresentaram sugestões de mudanças na comissão especial que analisa a matéria.
O prazo para emendas acabou ontem, e houve 146 propostas de mudança, inclusão ou retirada de artigos da reforma. O relator da PEC na comissão, Arthur Maia (PPS-BA), já afirmou que, "do jeito que está, a reforma não passa" na Câmara.
A PEC estipula a idade mínima de 65 para a aposentadoria de todos os trabalhadores, mas diversos deputados apresentaram outras fórmulas. Uma das alternativas propostas é de 65 anos para homens e 60 anos para mulheres. Uma emenda ainda possibilita homens de 60 anos se aposentarem, desde que tenham contribuído por 35 anos, e mulheres de 55 anos que tenham pago a Previdência por 30 anos.
O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), por exemplo, propôs a aposentadoria aos 58 anos para mulheres e aos 60 anos para homens. O parlamentar ainda deseja alterar a regra de transição, que na PEC vale para mulheres a partir de 45 anos e homens a partir de 50 anos. Essa emenda cria uma contribuição adicional de 30% do tempo que falta para a aposentadoria, para todos os trabalhadores, independentemente da idade.
Uma outra emenda, de iniciativa de Domingos Neto (PSD-CE), propõe que a idade mínima de corte para o regime de transição seja igualada em 45 anos, valendo tanto para homens quanto para mulheres, "por ser mais justo do que a proposta do governo de 50 anos para homens e 45 anos para mulheres".
E, enquanto as regras da PEC forçam o trabalhador a contribuir por 49 anos para receber 100% do benefício ao se aposentar, vários deputados tentam mudar a regra para uma fórmula que garanta 60% mais 1% a cada ano trabalhado. Dessa maneira, a remuneração máxima seria alcançada com 40 anos de trabalho.
Também há emendas com regras especiais para profissões de risco, como policiais, e para atividades que tragam risco à saúde ou à integridade física dos segurados, como mineradores com trabalho permanente no subsolo. Vários parlamentares propõem ainda regras especiais para a aposentadoria de professores, por exemplo, aos 55 anos para homens e 50 anos para mulheres.
Diversas emendas apresentadas defendem a manutenção das regras atuais - de contribuição e de idade - para a aposentadoria rural, com o argumento de que a PEC, ao igualar a Previdência do campo com a urbana, ignora as diferenças sociais entre esses grupos de trabalhadores.
Vários parlamentares também pedem que o piso do pagamento de pensão por morte não possa ser inferior a um salário-mínimo, ou ainda que seja equivalente a 100% do valor da aposentadoria do segurado, e não 50% do valor da aposentadoria do segurado mais 10% para cada dependente, como está na PEC.
Muitas das emendas pedem que o Benefício da Prestação Continuada (BPC), pago a portadores de deficiências e idosos de baixa renda, também seja mantido em pelo menos um salário-mínimo, ao contrário da proposta de reforma, que estipula uma remuneração menor que o piso. A mudança de idade mínima de 65 anos para 70 anos no caso do BPC para idosos também é rechaçada por esses deputados.
 

Governo dá bronca em relator e endurece discurso

Em estratégia para evitar mudanças na proposta original, o governo Michel Temer (PMDB) cobrou ontem que o relator da reforma previdenciária, Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), evite se posicionar publicamente contra a iniciativa enviada pelo Palácio do Planalto.
Durante reunião com a base aliada, realizada pela manhã no Palácio do Planalto, foi repassada a orientação que os parlamentares governistas não podem "falar de maneira negativa" do texto governamental e que é necessário unificar o discurso "para evitar ruídos" na discussão da proposta.
O discurso foi feito pelo líder do governo no Congresso Nacional, André Moura (PSC-SE), e chancelado pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A bronca não foi nominal, mas, segundo auxilares presidenciais, foi direcionada ao relator.
Na semana passada, Arthur Maia admitiu que o texto não será aprovado pelo Congresso Nacional da forma original, o que irritou o presidente. A cobrança também foi direcionada ao líder da maioria, Lelo Coimbra (PMDB-ES), que assinou ao menos 25 emendas que alteraram a proposta.
Segundo relatos, o relator do projeto reagiu e lembrou que, apesar de ter comparecido à primeira audiência da comissão da proposta, Padilha foi embora do encontro logo depois de sua apresentação e não ouviu os questionamentos feitos pelos parlamentares, o que ficou a cargo do secretário de Previdência, Marcelo Caetano.