Profissionais mostram como inovaram dentro de diferentes órgãos governamentais

É possível empreender no setor público, sim


Profissionais mostram como inovaram dentro de diferentes órgãos governamentais

Paulo Renato Ardenghi Rizzardi, 35 anos, é advogado, trabalha na Secretaria de Educação de Porto Alegre e foi o mentor do Projeto Usina Criativa. A intenção da iniciativa é trazer ferramentas e métodos novos para serem aplicados em salas de aula.
Paulo Renato Ardenghi Rizzardi, 35 anos, é advogado, trabalha na Secretaria de Educação de Porto Alegre e foi o mentor do Projeto Usina Criativa. A intenção da iniciativa é trazer ferramentas e métodos novos para serem aplicados em salas de aula.
Você não leu errado. Paulo é advogado. "Meu papel aqui seria recortar, colar, fazer convênios, fazer parecer. Mas sempre acreditei que eu poderia contribuir muito mais com os processos de Educação", avalia, apontando que, para isso, fez duas especializações e mestrado em Antropologia.
O caminho não foi fácil, mas valeu a pena. "Acho que o intraempreendedor tem que saber que não vai ser tudo às mil maravilhas, vai demorar mais, mas tu vais conseguir. Tem sempre alguém que vai te estender a mão." Intraempreendedor, aliás, é aquele que cria soluções dentro de organizações, mesmo sem ser dono do negócio.
Foi em meio a um curso na Perestroika - Escola de Atividades Criativas que Paulo percebeu a existência de alunos que contavam as horas para a próxima aula e saiam potencializados de suas salas. "O que é um fato inédito na minha história. Nas aulas de Direito, eu ficava torcendo para acabar. E, mesmo a aula que eu gostava, não era uma coisa que me fizesse ficar até depois", compara.
Conversando com gestores da Perestroika, descobriu que aquela "mágica", na verdade, não é por acaso. Envolve todo um método e um estudo de aprimoramento dos cursos.
O aluno, nesse caso, pertence ao espaço, caracterizado por conter menos regras do que a escola tradicional. As aulas de lá, segundo Paulo, seguem a jornada de herói - ao estilo filme de Hollywood. Tem uma espécie de drama, suspense, até encontrar o ponto alto da "trama" com o aluno cheio de ideias na ida para casa. "Achei aquilo tudo fantástico e pensei: por que não fazer isso no setor público? Por que não fazer isso numa escola pública?".
Com essa ideia, iniciou o Off the wall, em 2014. "Uma escola sem muros. Comecei a escrever o projeto para as crianças", relata. Uma questão, no entanto, o fez repensar o público-alvo. "Talvez, o primeiro movimento teria de ser feito com os professores. Porque nessa lógica, na nossa compreensão, o elemento chave era o professor", explica. E aí começou a nascer o Usina como é hoje. O nome mudou porque Paulo quis levar o curso para dentro da Usina do Gasômetro. "Eu acreditava e continuo acreditando que a gente precisa utilizar os espaços públicos históricos para pensar o futuro", esclarece. No Gasômetro, foi montada uma sala de aula temporária com materiais reaproveitados, trabalhados pelo artista plástico Cusco Rebel e uma turma de alunos da Perestroika.
O Usina Criativa selecionou 30 professores, dos quais 28 finalizaram o curso. "Criamos o perfil do professor que está disposto a inovar em sala de aula", salienta.
Os profissionais desenvolveram 12 projetos inéditos - que impactaram em cerca de 750 alunos - e foram aplicados em escolas de Ensino Fundamental de Porto Alegre. Uma segunda edição do programa ainda não foi realizada, mas protótipos desenvolvidos na primeira etapa continuam sendo executados na cidade.

Porto Alegre mais digital: uma startup dentro do governo municipal

Assessor de Comunicação na administração municipal de Porto Alegre até maio de 2016, Thiago Ribeiro, 37 anos, é formado em Jornalismo e hoje é head de Comunicação da 4All. Foi ele quem fundou o POA Digital, em 2013, após ter contato com um projeto semelhante em Nova Iorque, um ano antes. "A ideia era tornar a cidade mais inteligente, conectada e empreendedora", explica Thiago.
Ele vê o intraempreendedorismo como algo fundamental. "É uma postura pró-ativa, independentemente de setor público ou privado", avalia. Dentro da prefeitura da Capital ele inverteu a máxima que percorre os corredores das administrações de que "aquilo que não está escrito não pode ser feito". "Eu acho o contrário. Se não está escrito é que deve ser feito", reforça. Thiago ainda se refere ao empreendedorismo como "o grande caminho" e aposta na ampliação de projetos como o POA Digital. "Precisamos construir uma cidade aberta", continua.
Para a execução de seu projeto pessoal, ele bateu diretamente à porta do então prefeito José Fortunati. Em novembro de 2013, os primeiros passos estavam sendo dados. O objetivo era ter "uma startup dentro do governo", segundo Thiago. Por isso, levar em consideração os processos aplicados em uma, como o MVP (Menor Produto Viável) e o modelo enxuto, eram primordiais. "Como desenvolver serviços sem gastar os recursos públicos?", se questionava. A preocupação com a escassez financeira não impediu os bons resultados. "É do cidadão desenvolvido para o cidadão", completa.
Diretamente do Núcleo de Comunicação e Criatividade, ligado ao gabinete do prefeito, o portal promove a integração entre secretarias, empresas e departamentos municipais estimulando a adoção de iniciativas inovadoras no âmbito do município. A ligação ao gabinete e todos os jogos de interesses que podem decorrer desse fato não atrapalharam. "O objetivo não era divulgar o prefeito. E ele entendeu isso", assegura Thiago.
 GeraçãoE Equipe do Poa Digital Crédito Roberta Fofonka
Equipe do POA Digital liderada por Thiago, em março de 2016 | Foto: Roberta Fofonka/Especial/JC
A ferramenta também permite a colaboração entre empresas, startups, investidores, eventos, cursos, notícias, vídeos, workspaces, aceleradoras, incubadoras, recursos, universidades e organizações. "Geramos negócios", destaca Thiago.
Dentro do portal, são encontradas mais de 300 iniciativas mapeadas nesse ecossistema empreendedor da Capital. É um ambiente que permite a identificação quantitativa e qualitativa do setor, além de qualificar a comunicação, o relacionamento e o compartilhamento de ideias.
Na medida em que atingiu seus objetivos, o POA Digital também conquistou o reconhecimento dentro da administração. "As pessoas diziam que isso não parece prefeitura", lembra o fundador. Fora dela também. "Conquistamos ao menos um prêmio por ano", aponta, lembrando com carinho o reconhecimento vindo da Organização das Nações Unidas (ONU). Com a saída de Thiago, hoje o POA Digital é comandado por outra equipe.

Incentivo à inovação na Procergs

Deborah Pilla Villela é diretora vice-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs). Formada em análise de sistemas, ela foi Secretária Municipal de Inovação e atualmente também é a apresentadora do programa de rádio web, Hashtag Inovação. Gravado todas as quartas-feiras, vai ao ar na terça-feira seguinte.
Deborah conta que a atração, iniciada no fim de 2016, tem como foco a tecnologia, inovação e empreendedorismo. A rádio faz parte do Plano Estratégico de Inovação (PEI) do governo do Estado, que visa aplicar inovação aos processo de governo visando transformar o serviço público e beneficiando o cidadão. "São várias atividades e ações que estão sendo feitas. A rádio é apenas uma delas", assegura.
Disponível para mais de 350 transmissoras do Estado, o Hashtag Inovação conta sempre com três convidados - de diferentes áreas, não apenas tecnologia. "Procuramos ter alguém da área pública, da área privada, da universidade e alguém da área social. Porque aí a gente consegue um programa diverso, que possa misturar", ressalta ela.
Até agora foram mais de 10 programas e mais de 30 convidados para os debates.
Apesar do formato "mesa redonda" com especialistas, Deborah garante que é uma conversa leve, na qual ela, como apresentadora, se preocupa em destrinchar os termos mais técnicos que possam aparecer. "Claro que buscamos, junto com os convidados, traduzir as palavras mais técnicas porque o público não é específico. E a ideia é justamente essa, que não seja só o público de tecnologia", aponta.
A ideia partiu de um conjunto de colaboradores. "É uma parceria da Secretaria de Comunicação e da Procergs. Quem coordena é a Sabrina Thomazi e o Rodrigo Bandarra", destaca.
A escolha dos convidados se dá pela tônica do programa. "O que a gente quer aqui é achar soluções, inspirar e mostrar o que está sendo feito no governo também", esclarece. O programa em si, depende dos participantes, segundo Deborah. "São pessoas escolhidas a dedo e que podem fazer a diferença na vida dos ouvintes, podem inspirar. Extraímos dos convidados o que eles têm de mais novo. Então, ele (o programa) não é só para dentro do governo, mas a ideia é que ele tenha um papel para fora também."