'Brasil pode tirar proveito da globalização'

Em Davos, ministro da Fazenda disse que classe média brasileira voltará a crescer após a conclusão das reformas

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Meirelles e Goldfajn falaram sobre o momento econômico do País
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acredita que o Brasil poderá tirar proveito da globalização depois que fizer suas reformas e ampliar sua produtividade. Ao lado do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, ele avaliou que o País está num estágio diferente perante países avançados e não consegue aproveitar tanto o ganho de uma integração global.
Meirelles comentou que a classe média dos países mais ricos está incomodada em relação à percepção de que não estão dividindo os ganhos da globalização. "No Brasil, agora o desafio é fazer as reformas. O mais importante para o Brasil agora é criar empregos", afirmou. No debate mais cedo, Meirelles, avaliou que a globalização é um fenômeno que, para o mundo como um todo, trouxe benefícios, tirando mais gente da pobreza e levando para a classe média.
"Evidentemente que a globalização trouxe pessoas da classe baixa para a classe média. Isso é extremamente positivo", considerou, acrescentando que este é um debate que gira mais em torno das economias desenvolvidas. Durante sua fala, ele citou que, nos últimos 25 anos, a classe média dobrou no Brasil. Disse também que, nos últimos anos, o País passou por uma recessão, mas que agora voltará a crescer. O ministro da Fazenda brasileiro avaliou também que a globalização tem gerado vencedores e perdedores. Para muitos especialistas, é o movimento dos perdedores que vem gerando inquietação da classe média.
O assunto foi colocado em pauta depois de algumas surpresas, principalmente políticas, vistas no ano passado e que foram basicamente capitaneadas pela classe média. A decisão pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), a vitória do republicano Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a vitória do não na Itália num referendo que propunha a maior reforma constitucional do país nos últimos 70 anos e a ascensão do populismo em várias regiões do globo.
O ministro das Finanças italiano, Pier Carlo Padoan, resumiu, durante sua fala no painel, o que foi visto nos últimos meses: "A classe média está desiludida com o futuro, não enxerga a possibilidade de um mercado de trabalho para todos, para seus filhos, e optou por dizer não às propostas sugeridas por seus líderes". Padoan, inclusive, era um dos mais cotados para ser o primeiro-ministro italiano depois que Matteo Renzi renunciou ao cargo ao perder no referendo de dezembro.
Para Meirelles, é preciso deixar clara a diferença entre problemas que surgem de algumas reações à globalização versus reações mais populistas que se aproveitam da situação. Ele citou como exemplo o que ocorreu depois da Primeira Guerra Mundial, quando a Europa passava por um período de consequências negativas e movimentos populistas se aproveitaram da situação para emergirem.
Questionado sobre se os Bancos Centrais do mundo podem ser considerados também culpados pela crise da classe média atual, com a disponibilidade de recursos muito baratos, Meirelles disse que "são". Ele lembrou que essas instituições percorrem diferentes caminhos ao longo do tempo e considerou que a situação atual pode ser avaliada como "calma". "Os BCs agora não têm que lidar com crise de liquidez e de crédito, mas com inflação baixa", considerou.

Brasileiros defendem regime de câmbio flutuante como linha de defesa da economia

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, defenderam, em Davos, o regime de câmbio flutuante no País. "Temos um regime de câmbio flutuante no Brasil", afirmou Goldfajn. "O câmbio flutuante é amortecedor e a primeira linha de defesa da economia", continuou.
O presidente do BC lembrou que, desde as eleições norte-americanas, a moeda brasileira se depreciou e agora está em um processo de reversão. Ele citou também que a força do dólar vem da percepção de crescimento dos Estados Unidos, com a perspectiva de que o aumento da questão fiscal pode gerar um crescimento maior da economia.
Meirelles, por sua vez, disse que o regime de câmbio flutuante é o melhor para o Brasil. Ele comentou, porém, que os fatores domésticos estão se sobrepondo às questões internacionais e que isso tem ajudado na tendência do câmbio. "Estamos em uma situação específica hoje que (o câmbio) não nos preocupa", comentou.
Segundo Goldfajn, o início do aperto monetário nos EUA faz parte de um processo normal. Em dezembro de 2016, o Federal Reserve, o BC americano, aumentou, depois de muita sinalização, sua taxa de juros pela primeira vez e anunciou que mais três altas estavam previstas para este ano. "Este é um processo normal, deve ser gradual e isso é um bom sinal", avaliou.
Goldfajn afirmou que o BC tem usado leilões de swap cambial para manter a liquidez no mercado doméstico e citou que o nível das reservas internacionais é elevado. Já Meirelles enfatizou que o governo não vê uma fuga de capitais que o obrigue a usar as reservas para segurar a cotação do câmbio. Além disso, disse que o balanço de pagamentos doméstico "vai bem". O ministro relatou ainda que, nos encontros durante o Fórum Econômico Mundial, as empresas dizem que vão investir "substancialmente mais" no Brasil.
Goldfajn disse que uma redução de 0,75 ponto na taxa básica é o "novo ritmo" de condução da política monetária brasileira. Segundo ele, o governo tomou essa decisão porque a inflação perdeu fôlego e as expectativas do mercado estão ancoradas. Isso, no entanto, pode ser revisto a qualquer momento. "Entramos num novo ritmo. O 0,75 ponto é o nosso novo ritmo. Mas, como se sabe, um novo ritmo pode mudar e, se mudar, é por causa de expectativas de inflação, as nossas expectativas, e não apenas as do mercado, do nível de atividade e de fatores de risco, externos e domésticos. Tudo isso será levado em consideração", afirmou.