Governo gaúcho quer entregar proposta à União 'o quanto antes'

Secretário da Fazenda afirma que já trabalha em cima de demandas impostas pelo governo federal

Por Thiago Copetti

Se for preciso, Feltes não descarta possibilidade de privatizar ou federalizar instituições
Enquanto o Rio de Janeiro se movimenta nos diversos caminhos que levam ao poder federal, em Brasília, negociando a dívida do estado fluminense com a União, no Rio Grande do Sul, os trabalhos também estão acelerados, mas dentro das salas da Secretaria Estadual da Fazenda, sob a batuta do secretário Giovani Feltes.
"Desde que fomos a Brasília, no final do ano passado, o trabalho interno nunca parou. Na segunda-feira mesmo, recebemos mais algumas demandas do Ministério da Fazenda sobre as quais estamos debruçados desde então", explica Feltes.
Questionado sobre quando o Estado encaminhará seus pleitos ao governo federal, como fez o Rio (estado em situação financeira mais complicada, hoje, no Brasil), Feltes diz que será feito "o quanto antes". Antes, porém, afirma o secretário, é preciso chegar a análise final que aponte exatamente que medidas podem ajudar o Rio Grande do Sul a chegar ao equilíbrio fiscal e em quanto tempo. "Temos todo o interesse de resolver essa situação o quanto antes. Assim que chegarmos nessa equação exata, de quanto é necessário e até quando, vamos avançar mais uma etapa", diz Feltes, entre uma reunião e outra com técnicos da secretaria e outros servidores.
Ao analisar o caso do Rio de Janeiro, Feltes diz que prefere falar apenas sobre bases concretas, que ainda não foram oficializadas. O que não quer dizer que o modelo de recuperação fiscal obtido pelo Rio não poderá ser levado em conta para a formatação gaúcha. "Hoje mesmo (ontem), devo ligar ao governador Pezão para entender melhor o que se conseguiu e o que se fez até agora por lá", revela Feltes.
A possibilidade de privatizar ou federalizar alguma instituição no Rio Grande do Sul, assim como está concordando em fazer o Rio com a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) - não é descartada por aqui. Isso porque, ressalta o secretário, o tema não é tabu para o governo estadual. Tanto que, no pacote de modernização do Estado, enviado pelo governador José Ivo Sartori à Assembleia Legislativa, o Executivo busca eliminar a necessidade de plebiscito para privatizar ou federalizar a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), a Sulgás e a Companhia Riograndense de Mineração (CRM).
"Já fizemos isso com a Cesa (Companhia Estadual de Silos e Armazéns), por exemplo. Queremos primeiro eliminar a necessidade de plebiscito para então trabalharmos com três possibilidades: privatizar, federalizar ou deixar como está. Mas não descartamos incluir alguma proposta concreta de privatização ou federalização de uma destas empresas (CEEE, Sulgás ou CRM) na proposta à União", declara Feltes.
 

Acordo entre Rio de Janeiro e governo federal é adiado para a próxima semana

O acordo do governo do Rio com a União foi adiado para o fim da próxima semana, segundo anunciaram ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o governador Luiz Fernando Pezão. No início da semana, ao divulgar a intenção de fazer um acordo, a equipe econômica pretendia submetê-lo ao presidente Michel Temer e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Após a reunião com Pezão, Meirelles argumentou que as equipes ainda vão trabalhar no "detalhamento" do acordo, que ele classificou como "viável". "Até agora, estávamos discutindo a possibilidade, a viabilidade de um acordo. Vamos trabalhar no detalhamento, que deve demandar mais uma semana de trabalho." O ministro disse que as contrapartidas ainda estão em discussão e não detalhou pontos da negociação.
"Não temos ainda definido o acordo em detalhes, o que já definimos é que existe um amplo campo de redução de despesas do estado do Rio de Janeiro, de reestruturação das dívidas e de possível concessão de novos empréstimos", afirmou. Meirelles disse que o governo federal não concederá novos empréstimos ao Rio, mas declarou que "é possível que se estruture operações com entidades financeiras". Questionado sobre se essas operações poderiam ser com o Banco do Brasil, ele respondeu: "Vamos analisar".
O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, participou da reunião. Apesar de dizer que o banco está "participando ativamente" da discussão, Meirelles não deu detalhes. "O Banco do Brasil está participando ativamente das negociações e vai participar dentro das possibilidades de uma organização financeira que atende a todas as normas prudenciais e está atuando com toda a responsabilidade", afirmou.
O ministro confirmou que o acordo abrange, "a princípio", a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), mas destacou que as medidas envolvem decisões do Rio, inclusive da Assembleia Legislativa. Na reunião de segunda-feira, Meirelles deixou claro que o Rio só teria aval da União para tomar novos empréstimos se aceitar privatizar a Cedae. Questionado sobre a redução da jornada de trabalho com redução de salário dos servidores, Pezão lembrou que o assunto está em discussão no Judiciário. "Isso são medidas que estão sendo discutidas dentro do STF há 16 anos, desde quando veio a Lei de Responsabilidade Fiscal. A gente depende de ser julgado dentro do STF", disse.
O argumento para que isso seja feito é o fato de a própria Lei de Responsabilidade Fiscal exigir um limite de 60% da receita de gastos com pessoal. O estado informa que gastou 41,77% da sua receita com pessoal em 2015, mas o Tesouro considera que esse percentual só foi alcançado graças a manobras contábeis.
Pela contabilidade considerada correta pelo órgão, o estado gastou 62,8% da sua receita com pessoal em 2015, de acordo com relatório do Tesouro publicado em outubro do ano passado.