Porto recebe queixas sobre falta de agilidade

Companhias que transportam cargas pela hidrovia até Rio Grande criticam condições insatisfatórias de terminais

Por Jefferson Klein

Equipamentos da Tergrasa estão em utilização há aproximadamente 40 anos
Mais rapidez no carregamento e descarregamento de barcaças em Rio Grande é uma das reivindicações das empresas que chegam ao porto gaúcho através da hidrovia. As principais reclamações consistem nas poucas opções para atracamento e nos equipamentos antigos utilizados nas operações, particularmente, no terminal Tergrasa.
As navegações Taquara e Guarita, que atuam em parceria, estão entre as companhias que frisam a necessidade de um aprimoramento da estrutura para receber as embarcações. O diretor-presidente da Navegação Taquara e vice-presidente de Logística do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), Frank Woodhead, ressalta que o terminal Tergrasa é resultado de uma concessão pública e está atuando com equipamentos, como guindastes, com 40 anos de atividade.
O dirigente sugere que a concessão deveria ser vinculada à modernização das infraestruturas portuárias. "Quem não tem competência, que não se instale, se não tem competência para administrar corretamente um terminal público, que ceda o lugar para outro", defende. O empresário afirma que há embarcações que ficam esperando em Rio Grande mais de uma semana para fazer o carregamento ou descarregamento. Woodhead informa que a Navegação Taquara está operando com 34% de ociosidade em sua frota de embarcações e um dos motivos é justamente a lentidão das operações em Rio Grande.
O diretor da Navegação Aliança, Ático Scherer, também atesta que existem, no porto rio-grandino, equipamentos portuários funcionando há mais de quatro décadas, que poderiam ser substituídos por aparelhos modernos. "Sempre é possível melhorar", sustenta. O executivo julga que dificilmente seria viável a relicitação da concessão de um terminal, porém a cobrança de desempenho precisa ser feita.
Anualmente, segundo Scherer, o total movimentado pelas empresas de navegação na hidrovia gaúcha é de aproximadamente 6 milhões de toneladas, sendo que a carga mais abundante é a soja, com cerca de 2,5 milhões de toneladas. Para 2017, o diretor estima que esse volume deverá aumentar em até 20%, com produtos como a própria soja, celulose, madeira etc. Entre as ações que contribuirão para alavancar o transporte fluvial no Estado está o fato que será a primeira vez que a planta de celulose da CMPC, em Guaíba, irá produzir com sua capacidade já ampliada durante um ano inteiro.
 

Aproveitamento de áreas em São José do Norte é analisado para aumentar opções de operação

A queixa das companhias de navegação interior que os terminais priorizam os navios de maior porte, que vêm do oceano, em relação às barcaças, de menor tamanho, que alcançam o porto pela hidrovia, é um assunto que está na mesa do diretor-superintendente do porto do Rio Grande, Janir Branco. Segundo o dirigente, está sendo estudada uma alternativa para atenuar os problemas e uma hipótese avaliada é o aproveitamento de áreas em São José do Norte (município vizinho a Rio Grande, localizado do outro lado da Lagoa dos Patos).
Branco revela que a Superintendência está tratando com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) que, por sua vez, está identificando lotes para fazer arrendamentos no local e implantar novas estruturas portuárias. Porém, essa solução demandará mais tempo. Em curto prazo, o dirigente salienta que já conversou com a direção da Cooperativa Central Gaúcha (CCGL), operadora dos terminais Termasa e Tergrasa, sobre a situação atual, mas adianta que a questão demanda planejamento e investimento e ainda não houve uma resposta sobre o tema.
O diretor técnico substituto do porto do Rio Grande, Luiz Henrique Dumont, considera justa a reivindicação das empresas de navegação, entretanto também diz que é compreensível as dificuldades dos terminais. Dumont destaca que a implantação de uma estrutura para o recebimento de barcaças (um cais fora do berço de atracações dos grandes navios) significa um investimento elevado. Uma medida que está sendo analisada para auxiliar o trabalho no porto é a criação de espaços de fundeio para as embarcações poderem esperar o momento de carregar ou descarregar em lugares mais seguros.
Conforme o diretor, podem receber barcaças em Rio Grande terminais como o Tergrasa, Termasa (que não tem operado atualmente), Bianchini, Bunge, Tecon e Yara. Dumont comenta que a Superintendência tem a capacidade de fazer a relicitação de terminais, especialmente os arrendados. Mas, hoje, o diretor não vê razões suficientes para motivar uma iniciativa dessa natureza.
O gerente-geral dos terminais Termasa e Tergrasa, José Antônio Mattos da Silva, admite que os equipamentos do Tergrasa são antigos, porém atribui a ociosidade na navegação interior mais a fatores como a concorrência com o frete rodoviário. "Se tivesse um volume (de cargas) que justificasse um investimento, obviamente seria feito, o problema é que a maioria dos clientes trabalha com a soja dois meses no ano", comenta. Silva reforça que os equipamentos estão parados hoje não por causa da idade, e sim porque não tem demanda (cenário que se verifica desde julho).
Futuramente, a CCGL pretende investir cerca de R$ 390 milhões na expansão da capacidade do complexo portuário Termasa e Tergrasa. Não há um cronograma definido para fazer o aporte, porém Silva adianta que as melhorias beneficiarão, de uma maneira geral, o transporte de carga que chega e sai dos terminais.