Havana é preparada para tributos à Fidel Castro

Líder que comandou a revolução comunista na ilha, morreu na sexta-feira, aos 90 anos

Por

(FILES) This file photo taken on July 26, 2006 shows Cuban President Fidel Castro taking part in the city of Holguin, 700Km from Havana, during the inaguration of an electricity generating plant, as part of the ceremony marking the 53rd anniversary of the assault on the Moncada barracks by rebels led by Castro. Cuban revolutionary icon Fidel Castro died late on November 25, 2016 in Havana, his brother announced on national television. / AFP PHOTO / ADALBERTO ROQUE
A capital de Cuba, Havana, está sendo preparada para dois dias de tributos à Fidel Castro. O governo declarou nove dias de luto oficial pela morte do líder cubano, aos 90 anos, ocorrida na noite de sexta-feira. Ontem, trabalhadores limpavam e montavam cercas na Praça da Revolução, para onde o corpo de Fidel Castro será levado hoje.
Fidel Alejandro Castro Ruz morreu em Havana, cidade que tomou em 1959, aos 32 anos. Alvo de dezenas de atentados e de frequentes rumores sobre sua saúde, o líder cubano teve a morte anunciada por um dos combatentes que o acompanharam, seu irmão mais novo Raul Castro, atual presidente cubano. "Às 22h29 de sexta-feira, morreu o comandante e chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro", disse Raúl, cujo período na presidência da ilha está previsto para terminar em 2018.
A morte do "comandante" provocou reações antagônicas, compatíveis com a controvérsia que marcou sua trajetória. Enquanto em Miami dissidentes celebravam e previam uma aceleração no processo de abertura econômica e redução na repressão política, dentro da ilha, boa parte da geração que apoiou a derrocada de Fulgêncio Batista lamentou e aderiu ao luto de nove dias.
O período se encerrará com o funeral, em 4 de dezembro. Fidel deixou o poder em 2006, após sobreviver a uma enfermidade intestinal. O líder comunista morreu no mesmo dia em que o barco Granma saiu em 1957 do México com o grupo de guerrilheiros, entre eles o médico Ernesto Che Guevara, para dar início à revolução. Fidel exerceu o poder na ilha até o dia 31 de julho de 2006, quando o transmitiu ao seu irmão.
Em fevereiro de 2008, Fidel renunciou definitivamente à presidência de Cuba e quase três anos depois, em abril de 2011, desligou-se definitivamente da liderança do Partido Comunista. Ele chegou a ser o governante em exercício por mais tempo no mundo. Sob seu comando, nasceram 70% dos 11 milhões de cubanos.
Ao instalar um regime comunista a 150 quilômetros dos EUA, o líder cubano despertou amor e ódio. Foi considerado por alguns um símbolo da soberania latino-americana e de justiça social. Por outros, um ditador megalomaníaco e cruel.
O triunfo da revolução inspirou movimentos guerrilheiros semelhantes em todo o mundo, incluindo o brasileiro. Fidel enfrentou 11 presidentes americanos, a Invasão da Baía dos Porcos pela CIA em 1961, a Crise dos Mísseis, e o embargo econômico. Sobreviveu também à queda do Muro de Berlim e à desintegração da União Soviética.

Morte aumenta incertezas sobre reaproximação com os EUA

A morte de Fidel Castro, somada a recente eleição de Donald Trump para a presidência dos estados Unidos, aumentou o ar de incertezas sobre o futuro da reaproximação entre Cuba e EUA. Apesar de todas as etapas de retomada diplomática terem sido cumpridas entre o castrismo e o governo de Barack Obama, a eleição do republicano à Casa Branca provoca temores de que o degelo seja desfeito pelo presidente eleito.
No sábado, Trump não sinalizou se romperá com Havana, mas foi muito duro quanto a Fidel. "Hoje, o mundo marca a morte de um ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas. Seu legado é um de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação dos direitos humanos fundamentais", disse em comunicado. "Nosso governo fará de tudo que puder para garantir que o povo cubano possa finalmente começar sua jornada rumo à prosperidade e à liberdade."
O tom de Trump foi muito distinto daquele do atual chefe de Estado norte-americano, Barack Obama, que se mostrou mais cordial. "A História registrará e julgará o enorme impacto de sua personalidade singular no povo e no mundo em volta dele. Durante minha presidência, trabalhamos duro para deixar o passado para trás, perseguindo um futuro no qual a relação seja definida não por nossas diferenças, mas pelo que compartilhamos como vizinhos e amigos."

Para Itamaraty, Fidel foi "uma das lideranças políticas mais emblemáticas do século XX"

Assinada pelo chanceler José Serra, o Ministério das Relações Exteriores divulgou no sábado nota sobre a morte do ex-presidente de Cuba. O texto diz que "o governo brasileiro tomou conhecimento com pesar da morte do líder cubano Fidel Castro."
A nota prossegue afirmando que "como dirigente máximo de seu país por cinco décadas, marcou profundamente a política cubana e o cenário internacional. Entra para a história como uma das lideranças políticas mais emblemáticas do século XX. Não é possível entender a história de nosso continente sem referência a Fidel, suas ideias e ações à frente da revolução cubana e do governo de seu país".
O presidente da República, Michel Temer, divulgou nota na manhã de sábado."Fidel Castro foi um líder de convicções. Marcou a segunda metade do século 20 com a defesa firme das ideias em que acreditava", afirmou Temer em nota. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Fidel foi "o maior de todos os latino-americanos". "Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei", disse Lula em nota publicada em sua página no Facebook.
A ex-presidente Dilma Rousseff disse que a morte do líder da revolução "é motivo de luto e dor". "Fidel foi um dos mais importantes políticos contemporâneos e um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte", disse a ex-presidente.

Líderes da América Latina comentam morte

O falecimento do ex-presidente cubano gerou forte reação por parte dos líderes latino-americanos. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, lamentou a morte de um líder que lutou pela "dignidade e justiça social em Cuba e na América Latina". O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que ficou "afligido com a partida do irmão comandante Fidel", em declaração à rede de televisão Telesur via telefone. O presidente boliviano disse que a maior homenagem a Fidel "é a unidade dos povos do mundo, é nunca esquecer sua resistência ao modelo imperialista e ao modelo capitalista".
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro afirmou que cabe agora a todos os "revolucionários do mundo continuar o caminho" de Fidel, que ele chamou de "gigante da humanidade". No Twitter, o presidente colombiano Juan Manuel Santos lamentou a morte do líder e prestou solidariedade a Raúl Castro e ao povo cubano. "Fidel Castro reconheceu ao final da vida que a luta armada não era o caminho. Contribuiu assim para o fim do conflito colombiano", disse.
Na Argentina, a ministra das Relações Exteriores, Suzana Malcorra, disse que a morte de Fidel Castro fecha "um importante capítulo da história latino-americana". Na opinião dela, Fidel entregou o poder ao irmão, Raúl, porque sabia que era hora de fazer mudanças em Cuba.
O presidente do México por sua vez, Enrique Peña Nieto, lamentou a morte do líder da Revolução Cubana. "Fidel Castro foi um amigo do México, promotor de uma relação bilateral baseada no respeito, diálogo e solidariedade".