Pacote prevê medidas que dificultam aposentadoria de BMs

Mudanças devem atingir licenças, tempo obrigatório de serviço e idades para reserva compulsória e reconvocação

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Proposta prevê a retirada de policiais militares da guarda externa de presídios no Rio Grande do Sul
Boa parte das medidas que constam no pacote de reestruturação proposto pelo governo gaúcho são voltadas para um alvo específico: diminuir o ritmo crescente de aposentadorias na Brigada Militar (BM). Com parcelamento de salários, suspensão de promoções e limitação de horas extras, a quantidade de policiais militares passando para a reserva disparou nos últimos dois anos - e é contra esse déficit, e a consequente diminuição do efetivo nas ruas, que o Executivo estadual concentra boa parte do seu poder de fogo.
Uma das medidas propostas pelo pacote do governo de José Ivo Sartori é uma mudança no Estatuto da Brigada Militar, referente à licença especial de três meses concedida a cada cinco anos trabalhados, semelhante à licença-prêmio do funcionalismo civil. Caso não seja gozado, esse período vai sendo acumulado (um processo chamado tempo ficto) e acaba muitas vezes abreviando o período de aposentadoria. Pela proposta, a licença se transforma em licença-capacitação, sem possibilidade de acumulação, o que eliminaria o tempo ficto para fins de aposentadoria. Na prática, os soldados cumprirão integralmente o tempo de serviço, sem abatimentos a partir de licenças acumuladas.
Outra mudança é a obrigatoriedade de pelo menos 25 anos de serviço público militar efetivo para o preenchimento dos 30 anos necessários para a reserva - ou seja, o brigadiano pode somar para a aposentadoria no máximo cinco anos de atividade pública ou privada fora da corporação. Mudam as idades limites para reserva compulsória remunerada, hoje dividas em seis faixas entre 55 e 59 anos e que passam a ser de 65 anos para oficiais e de 60, para praças. A idade limite para reconvocar o efetivo também aumenta, passando de 64 para 70 anos, para oficiais, e de 56 para 65, em caso de praças.
Segundo dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, divulgados em julho deste ano pelo Jornal do Comércio, ocorreram 2,8 mil aposentadorias na BM em 17 meses, entre o começo de 2015 e os primeiros cinco meses de 2016. O chamamento de 1,4 mil brigadianos aprovados em concurso, anunciado na metade do ano, supriria apenas metade desse déficit. A estimativa, a partir da manutenção dos índices verificados, era de até 2.186 aposentadorias em 2016, contra 1.264 verificadas em todo o ano de 2014. No ano passado, os dados oficiais apontam 1.888 policiais militares gaúchos que foram para a reserva.
A disparada nas aposentadorias, verificada nos últimos dois anos, coincide com a suspensão da Gratificação Especial de Retorno à Atividade, concedida entre 2013 e 2014, que incentivava a permanência opcional por mais cinco anos de profissionais que já tinham concluído 25 anos de trabalho na BM e, portanto, podiam solicitar encaminhamento para a reserva. A suspensão de promoções, que geralmente ocorriam duas vezes ao ano, também coincide com o aumento de pedidos de aposentadoria. Entre as medidas propostas pelo Executivo, está o fim da promoção de soldados e sargentos a um grau superior quando da aposentadoria, medida que historicamente engrossa os rendimentos na passagem para a reserva.
 

Guarda de presídios pode deixar de ser tarefa da Brigada

Para tentar ter mais policiais nas ruas, o governo estadual pretende mexer também na guarda externa dos presídios. Hoje, a Constituição do Estado prevê que a sentinela das guaridas fique a cargo da BM, dispositivo que o pacote apresentado na segunda-feira pretende suprimir. Se aprovada a proposta, "amplia-se a possibilidade de execução desse serviço e libera-se, gradativamente, a Brigada Militar para o desempenho de sua missão constitucional típica". Uma possibilidade é de municipalização desse serviço, que ficaria a cargo das guardas municipais das cidades onde os presídios estão sediados.
A cedência de servidores da segurança para outros órgãos também deve ser limitada, caso o pacote seja aprovado na Assembleia Legislativa. Apenas a Casa Militar, o Departamento Estadual de Trânsito e órgãos vinculados às secretarias de Segurança e da Justiça e Direitos Humanos poderiam receber policiais militares, com prazo de um ano, prorrogável uma única vez por igual período.
Hoje organizada em dez departamentos e 34 divisões, a Secretaria de Segurança Pública passaria a ter cinco departamentos e 20 divisões, o que pretensamente devolveria os servidores de estruturas extintas a suas atividades-fim. As alterações propostas também atingem a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe). A ideia é suprimir os plantões de 24 horas, que hoje podem totalizar 160 horas mensais para cada funcionário. A remuneração dos servidores da segurança, garante o governo, não sofrerá mudanças negativas: o reajuste a policiais militares e agentes da Polícia Civil, aprovado em 2014, deve ser mantido, e a indenização por invalidez ou morte em serviço passa de R$ 25 mil para R$ 50 mil.

MPF e MP pedem adequação de Presídio Central e novo presídio federal

O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF-RS) e o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) ajuizaram uma ação civil pública contra a União e o governo do Estado para ambos cumprirem uma medida cautelar proferida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Cidh) da Organização dos Estados Americanos, que determina e implementação de medidas para cessar as violações de direitos humanos que ocorrem no Presídio Central de Porto Alegre. Os órgãos de controle pedem adequação do espaço e construção de um presídio federal no Rio Grande do Sul.
A ação foi assinada pelo procurador da República Fabiano de Moraes e pelos promotores de Justiça Luciano Pretto e José Eduardo Corsini. Em 2013, a Cidh proferiu uma medida cautelar que pede que o governo federal tome providências para garantir os direitos das pessoas que cumprem pena privativa de liberdade no Central, onde sofrem com a superlotação do local, expostas a um "contexto de permanente risco à vida e à integridade pessoal dos internos, às precárias condições estruturais, bem como à falta de segurança de diversas áreas daquele estabelecimento penal".
No entender do procurador e dos promotores, tal situação somente poderá ser contida com a construção de um presídio federal de segurança máxima no Estado, para que seja possível o cumprimento do regime disciplinar diferenciado pelos principais líderes das facções criminais existentes na casa prisional.
Moraes, Pretto e Corsini vistoriaram o Central em julho com a finalidade de colher informações e depoimentos para inquérito aberto pelo MPF-RS para apurar a não aplicação de recursos federais repassados pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) para execução de obras no sistema prisional do estado, em prejuízo dos direitos fundamentais dos presos. Na ocasião, o procurador verificou que o Central apresenta uma superlotação de mais de 100% - aproximadamente cinco mil pessoas estão confinadas em um espaço planejado para duas mil.