Pessoas que têm na ligação com o divino o refúgio e a inspiração para suas carreiras

Como a espiritualidade influencia empreendedores nos seus negócios


Pessoas que têm na ligação com o divino o refúgio e a inspiração para suas carreiras

Não raro, ao entrarmos em empresas, nos deparamos com imagens ou símbolos de adoração divina em algum cantinho. No entanto, nos negócios, pouca gente toca no assunto da espiritualidade. Ainda que, nos bastidores, a crença, por vezes, permeie todo o universo organizacional e seja considerada, por muitas pessoas, a parte essencial de sustentação de seus resultados.
Não raro, ao entrarmos em empresas, nos deparamos com imagens ou símbolos de adoração divina em algum cantinho. No entanto, nos negócios, pouca gente toca no assunto da espiritualidade. Ainda que, nos bastidores, a crença, por vezes, permeie todo o universo organizacional e seja considerada, por muitas pessoas, a parte essencial de sustentação de seus resultados.
Helen Gonçalves, ou Yalorixá Helen de Oyá, convive com a religião de matriz africana Nação Ijexá-Jeje desde criança. "Cresci com a fé nos orixás", conta. Quando estava grávida, a mãe de Helen foi a um centro espírita e recebeu a mensagem de que a pequena teria uma missão espiritual. "Minha mãe pensava que eu seria como Chico Xavier", ri. O convívio com uma vizinha que participou de sua criação incentivou seu lado espiritual.
Desde o estourar da crise, no final de 2014, ela conta que ficou mais expressiva a quantidade de pessoas que a procuram para jogar os búzios atrás de orientação pelas causas de desemprego e questões empresariais. "Normalmente, recorre-se à espiritualidade quando as coisas não estão dando certo", afirma. "A pessoa, quando está desempregada, vai murchando, perdendo o brilho. Nós vemos o que de ruim pode estar a influenciando e limpamos a energia", diz.
Ela é procurada diretamente por empresários ou por membros da família em sua maioria mulheres. Realiza, também, limpezas nos locais de trabalho. "Em alguns casos, a gente faz um acompanhamento anual", complementa. "Jogamos os búzios para encontrar onde está o problema."
Helen assume que ela mesma resistiu em direcionar o caminho profissional para a espiritualidade. Formada em Comércio Exterior, era diretora do departamento comercial de uma empresa de importação. Trabalhava das 8h30min às 18h, chegava em casa e, às 18h30min, começava a atender como Mãe de Santo.
A carga era tão pesada que foi preciso mudar. "No início, não aceitava viver só da religião, por vários motivos." Hoje, recebe quem precisa de ajuda no bairro Jardim Leopoldina, em Porto Alegre. Ela adianta, ainda, que 2017, regido por Oxalá, é o ano da doação. "Será um período longo. Não tanto de retorno, mas de muito trabalho e dedicação."

Referências sagradas como guia criativo

Já na porta do apartamento do publicitário Francesco Londero, 30, o que recebe os convidados são as figuras de um pentagrama (estrela do saber, chave dos magos), olho de Hórus (que favorece a busca pela iluminação) e a imagem do deus egípcio Osíris (relacionado aos mistérios da vida e da morte). Eles estão amparados de perto pela espada-de-são-jorge, planta que, segundo a crença popular, confere proteção aos ambientes.
Francesco (mais conhecido como Tchesco), se voltou para a espiritualidade após passar por momentos difíceis. Ele a encara de forma diversa, considerando que várias culturas agregam ensinamentos relevantes. Do budismo ao hinduísmo, reúne estudos de cabala, xamanismo, reiki, referências como São Jorge e história das civilizações para compor seu mosaico pessoal de fé e autoconhecimento.
Em casa, ele comanda o núcleo criativo Punci C, que reúne criação publicitária, design de interiores a partir de material sustentável, projeto de estamparia de moda e o planejamento de projetos sociais. "A espiritualidade me ajudou a sair de três situações fortes na vida, então eu vi que meu caminho tinha de seguir por aí", conta.
Para a publicidade, ele começa desenvolvendo um briefing do dono do negócio. "Ao conhecê-lo, eu consigo conhecer a empresa", diz. A partir daí, faz o briefing da campanha direcionado para o mercado e o cliente. "A espiritualidade faz tu questionares as coisas", considera. A Punci C tem como parceiras duas agências de publicidade, além de profissionais autônomos.
Essa conexão é imprescindível para o lado profissional de Francesco. Não só voltado ao trabalho, para ele, é um meio de conseguir estabilidade interna e externa.
"Quanto mais eu me conheço, mais tenho condições de conhecer o outro e criar empatia", afirma. Das práticas diárias em busca de equilíbrio, uma é já acordar agradecendo, seguida de meditação e exercícios físicos.

Corpo, alma e ambiente na mesma energia

A arquiteta Angelita Farias, 40, encontrou na sabedoria chinesa do Feng Shui a lacuna que faltava no trabalho de decoração de ambientes. "É um olhar que vai além do que é tendência ou moda", explica. O Feng Shui é um estudo de técnicas que visam à organização, à harmonização e ao equilíbrio energético dos lugares onde vivemos ou passamos a maior parte do tempo. "A casa e o ambiente de trabalho refletem no nosso corpo. Muita gente está preocupada com a harmonização do corpo mas esquece do lugar, que é essencial no equilíbrio", afirma.
São muitas as camadas que perpassam o estudo. Relacionado aos chakras (centros de energia do corpo, segundo a filosofia iogue), o Feng Shui opera em cima de oito "setores" que existem dentro de um espaço: carreira, amigos prestativos, criatividade e filhos, relacionamentos, sucesso, prosperidade, saúde e espiritualidade. A partir da planta baixa do imóvel e da posição da porta de entrada, dos elementos relacionados a cada setor e de uma avaliação dos moradores do local (sim, muita coisa!), Angelita conclui o estudo e entrega para o cliente, com uma apresentação e recomendações de como acomodar melhor os itens para um melhor funcionamento.
Ela passou a confiar na técnica a partir de um exemplo próprio. Após iniciar os primeiros estudos de Feng Shui, Angelita estava com a mãe sem sair do quarto, com depressão. "Era um dia bonito de sol e ela lá", conta.
Neste dia, colocou uma muda de alecrim - planta extremamente energética - no setor do quarto que regulava a saúde. No mesmo dia, a mãe saiu e, depois disso, não voltou mais a ficar reclusa. "Fiz isso em um domingo. Na terça-feira, o alecrim estava torrado lá", diz.
Há muitos clientes céticos que se surpreendem com o trabalho, ela conta. Junto ao material, Angelita sugere meditações e afirmações de prosperidade para que a pessoa trabalhe as mudanças internamente também.
"Em vez de reclamar e ficar vibrando de forma negativa, podemos afirmar coisas boas", recomenda. Se desfazer de excessos periodicamente, manter a limpeza em dia e o acesso livre nos cômodos são também práticas que contribuem para o equilíbrio. O levantamento custa de R$ 20,00 a R$ 25,00 por metro quadrado, adaptável conforme o montante e o número de moradores.
"Espiritualidade não se trata de religião, mas de ter fé em si mesmo, em um propósito de vida e no que tu estás buscando", reflexiona.
 

O caminho do meio

Com a busca cada vez maior por qualidade de vida, a espiritualidade começa a entrar nas questões de carreira. Neste ano, em Porto Alegre, houve duas edições do evento Spirituality meets Business ("A espiritualidade encontra os negócios", em tradução livre), organizado pela Pulsar, em setembro e maio, com participação de Gustavo Tanaka. Autor do livro "11 Dias de Despertar" e do texto "Há algo de grandioso acontecendo no mundo" - publicação viral em 2015 no canal Medium -, Gustavo compartilha reflexões aos que buscam inspiração e informação a respeito de novos modelos de gestão empresarial.
Após passar por empresas tradicionais, trabalhar muito e fugir para o lado espiritual toda vez que o estresse tomava conta, ele iniciou o movimento Empresa Livre, um sistema de empreender que estimula cada um a ser quem é de verdade. Juntando tudo que aprendeu nesta trajetória, Gustavo vem experimentando uma nova forma de viver, ele mesmo, unindo espiritualidade e trabalho.