Perspectivas pouco otimistas para economia gaúcha em 2017

Para FEE, Estado não deve ter grandes avanços, em linha com País

Por Guilherme Daroit

Recuperação, se vier, será lenta e penosa, destacou Martinho Lazzari
Se as projeções para a economia brasileira no ano que vem são pouco animadoras, a situação é praticamente a mesma no Rio Grande do Sul. Para analistas, as dificuldades que ainda travam qualquer perspectiva de retomada efetiva da demanda devem continuar em voga em 2017, tornando pouco provável que a saída da crise se torne uma realidade no curto prazo. As perspectivas para diferentes setores da economia gaúcha no que vem são o tema da edição especial da carta de conjuntura que comemora os 43 anos da Fundação de Economia e Estatística (FEE), comemorados no próximo domingo, dia 13.
Como a matriz econômica do Estado é pouco diferente da nacional, a principal justificativa para a projeção negativa é, justamente, a situação macroeconômica brasileira. "O Rio Grande do Sul acompanha, em linhas gerais, o Brasil, então qualquer análise tem de começar olhando a economia nacional", justifica o diretor técnico da instituição, Martinho Lazzari. Ao apresentar a carta, composta por nove artigos assinados por pesquisadores da FEE, o economista ressaltou um dos tópicos que defende que o foco do governo federal está em recuperar a confiança, e não a demanda. "A hipótese é de que, se vier, a recuperação será lenta e penosa", pinçou Lazzari.
Já sobre a situação específica do Rio Grande do Sul, a carta defende duas peculiaridades que podem influenciar o desempenho para além do panorama nacional. O primeiro deles é a questão climática, já que a agricultura possui mais relevância na matriz econômica gaúcha. O documento alerta para riscos de escassez de chuvas no verão, que poderia diminuir a safra de grãos, principalmente a soja. "De qualquer forma, como estamos vindo de supersafras consecutivas, mesmo se não houver problema nenhum já não trará um grande impacto de incremento", relativiza o diretor.
Economista da FEE, Vanclei Zanin espera recuperação nas culturas do arroz e do milho, este último alavancado pelos preços altos de 2016. Ao mesmo tempo, porém, são justamente os preços que Zanin vê como os grandes problemas para o setor, que ainda têm estoque das últimas colheitas. "Isso sim é um desafio, pois a rentabilidade da produção pode ser reduzida", argumenta.
A outra peculiaridade é a maior dependência gaúcha dos chamados bens de capital, como equipamentos industriais, máquinas e implementos, por exemplo. O lado bom apontado por Lazzari é de que, se esse setor for bem, o Estado será mais beneficiado do que a média. O lado ruim, porém, é que não há indícios de que essa retomada acontecerá. "Com a queda que tivemos na produção industrial nos últimos três anos, o normal seria crescer rápido, mas o que estamos vendo é um crescimento muito modesto", argumenta a economista da FEE, Cecília Hoff.
A economista defende que a continuidade desse crescimento, mesmo que pequeno, também é incerta, pois poderia ser reflexo de uma simples reposição de equipamentos e estoques, e não se sustentaria sozinha. "A retomada do consumo poderia significar uma saída, mas está sujeito a uma série de condições, como a redução nos juros, que por sua vez só acontece se a inflação convergir para a meta", ressalta Cecília. Ao contrário de ciclos passados, porém, a eficiência da redução nos juros será testada pelo alto endividamento das famílias, que, sem espaço para novos comprometimentos, podem não responder ao estímulo.
A alta taxa de desemprego, que tem projeção de continuar crescendo em 2017 aliada com a queda na renda, também desafia a chance de retomada na demanda. Os pesquisadores também relativizam a possibilidade de que os investimentos privados puxem o crescimento, já que o setor industrial, por exemplo, continua operando com capacidade ociosa.
 

Exportações podem ser positivas, mas dependerão do câmbio

Um dos poucos pontos positivos vistos em 2016, o aumento constante no volume das exportações pode ter continuidade no ano que vem. Ao contrário deste ano, entretanto, os preços recebidos pelas commodities tendem a ser mais favoráveis. "Em 2016, os preços internacionais dos produtos básicos chegaram ao fundo do poço e voltaram a se revalorizar. Caso mantenha essa dinâmica, será positivo ao Estado", argumenta o economista da FEE, Tomás Torezani, que defende que a continuidade é incerta.
Os riscos estão concentrados no fato de que, embora a economia mundial volte a registrar crescimentos mais relevantes, o movimento não tem refletido no comércio internacional. Além disso, práticas protecionistas estariam em voga no mundo, segundo Torezani. A eleição nos EUA de Donald Trump, que tinha o protecionismo como bandeira, só reforçaria o ganho de força dessa corrente.
Além disso, a valorização do real frente ao dólar também põe em xeque os setores industriais, que, em 2016, tiveram os melhores resultados nas vendas externas. Entre eles, o principal é o polo calçadista, que, após décadas de perda de competitividade, retomou acordos graças à capacidade de negociação trazida pela desvalorização. "De qualquer forma, os setores mais exportáveis não têm força para puxar toda a indústria junto", relativiza a economista da FEE, Cecília Hoff.