Sem esquerda, Porto Alegre vive eleição única em 35 anos

Parte do eleitorado terá experiência inédita no segundo turno da disputa pela prefeitura

Por Guilherme Kolling

Prédio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. (Foto: Esteban Duarte/CMPA)
A principal incógnita deste segundo turno da disputa pela prefeitura de Porto Alegre, entre Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB), é como votará o eleitor de esquerda. De um lado, lideranças e até direções partidárias de PT e PSOL pregam o voto nulo. De outro, é pouco provável que os mais de 200 mil porto-alegrenses que apoiaram Raul Pont (PT) e Luciana Genro (PSOL) se abstenham da eleição em 30 de outubro.
Mas o que faz deste cenário de indefinição algo imprevisível é o fato de esta votação ser inédita para o eleitorado de esquerda da Capital: é a primeira vez desde a redemocratização que, em disputa majoritária, não há opção de um candidato alinhado a esse perfil ideológico. Ou seja, não é possível fazer uma comparação objetiva com outra eleição para saber como se comportará quem votou no PT ou no PSOL.
Desde 1982, o eleitor de Porto Alegre já votou 28 vezes em disputas majoritárias - eleições a prefeito e governador, incluindo primeiro e segundo turnos. Foram 15 votos em disputas ao Palácio Piratini (9 eleições, sendo 6 com segundo turno) e 13 ao Paço Municipal (em 9 eleições). Esse segundo turno será a 29ª oportunidade de escolher um chefe do Executivo.
Nos 28 casos anteriores, sempre havia um candidato de esquerda, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
A formalização de uma posição contrária ao voto nulo pelo PCdoB - que participou da eleição com Silvana Conti como vice na chapa de Raul Pont no primeiro turno - evidencia que uma parcela representativa do eleitorado de esquerda em Porto Alegre não vai anular o voto e escolherá entre Marchezan e Melo.
Essa parcela pode ser decisiva para o resultado da eleição. Especialmente para Melo, já que Marchezan obteve o apoio de Maurício Dziedricki (PTB), que ficou em quarto lugar e fez mais de 97 mil votos no primeiro turno.

A Capital e as urnas

Em todas as 28 votações em disputas majoritárias desde a redemocratização - entre primeiro e segundo turnos de eleições a prefeito e governador - o eleitorado de esquerda de Porto Alegre sempre teve um representante na disputa. O segundo turno da eleição à prefeitura da Capital será a primeira vez que esse campo ideológico não tem um candidato.
O eleitor de Porto Alegre votou:
15 vezes para governador - 1982 • 1986 • 1990 (2 turnos) • 1994 (2 turnos) • 1998 (2 turnos) • 2002 (2 turnos) • 2006 (2 turnos) • 2010 • 2014 (2 turnos)
13 vezes para prefeito - 1985 • 1988 • 1992 (2 turnos) • 1996 • 2000 (2 turnos) • 2004 (2 turnos) • 2008 (2 turnos) • 2012 • 2016 (2 turnos)
*A 14ª votação será no segundo turno, em 30 de outubro.