PEC do Teto pode gerar perdas de R$ 400 bilhões

Presidente do Cosems-RS afirma que, em espaço de 20 anos, seria como se o ministério não investisse por quatro

Por Igor Natusch

Situação mais séria foi registrada no Clínicas, que estava com 165 pacientes para 41 leitos
Um cenário insustentável, em que as cidades gaúchas serão forçadas a cortar serviços e haverá uma queda dramática de recursos na saúde. É assim que o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS) descreve as consequências da entrada em vigor da PEC nº 241, que condiciona os gastos públicos à inflação, e recebeu relatório favorável do deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS). De acordo com Marcelo Bosio, presidente do conselho, a não exclusão da saúde do contexto da PEC vai ampliar o quadro de subfinanciamento que atinge os hospitais, cortando até R$ 400 bilhões dos recursos atualmente previstos para o setor em 20 anos.
"Considerando os valores atuais, que já são insuficientes, seria como se o Ministério da Saúde passasse quatro anos sem colocar um centavo sequer nos municípios", denuncia Bosio. Segundo ele, as cidades brasileiras já colocam R$ 22 bilhões ao ano no setor, valor que estaria acima do limite constitucional. "Se a PEC 241 for aprovada como está, apenas os municípios que puderem colocar ainda mais recursos poderão manter o que oferecem atualmente. A maioria será forçada a cortar serviços", prevê.
Mesmo garantindo que os municípios compreendem a necessidade de alcançar estabilidade econômica no Brasil, o presidente do Cosems-RS diz que é inaceitável colocar uma política estratégica em nível nacional, como o SUS, dentro de um limite financeiro tão restritivo. Outra possível consequência da PEC é o aumento da judicialização da saúde. "O serviço de saúde é um direito da população e um dever do Estado. Limitar os gastos é penalizar a população, é dizer aos municípios que se virem para manter o SUS. Não podemos ter tamanho prejuízo ao conjunto da sociedade." 
Pela proposta de Perondi, os gastos com saúde terão um tratamento diferenciado, sendo elevados a 15% do Produto Interno Bruto em 2017 e sendo corrigidos pela inflação apenas a partir do ano seguinte. O Conselho emitiu nota na quarta-feira, na qual descreve a mudança como uma "cortina de fumaça" e "uma gota no oceano, que serve apenas como justificativa para uma tentativa frágil de manipulação de números".
Atualmente, a Constituição prevê a destinação de um percentual mínimo da receita corrente líquida da União para gastos na saúde. Pela legislação vigente, cerca de 13% da receita deste ano seria aplicada na área, com aumento gradual até chegar a 15% em 2020. De acordo com entidades da área, isso ampliaria o total disponível para a saúde no período, já que a previsão para os próximos anos é de retomada do crescimento econômico e aumento da arrecadação.

Mamografia a cada dois anos reduz em até 30% mortalidade pelo câncer de mama

O Rio Grande do Sul possui a terceira maior taxa de óbitos por câncer de mama entre as mulheres com mais de 20 anos no Brasil. A taxa mais alta ocorre no Distrito Federal, e a segunda, no Rio de Janeiro. Essa taxa aumentou 13%, passando de 25,1 óbitos a cada 100 mil mulheres, em 2001, para 28,5 óbitos a cada 100 mil, em 2013.
Atualmente, a mamografia é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A realização do exame no País cresceu 37%, no comparativo entre os primeiros semestres de 2010 e 2016, passando de 1,6 milhão para 2,2 milhões. Na faixa etária de 50 a 69 anos (faixa etária prioritária), o aumento foi ainda maior (64%), saindo de 854 mil para 1,4 milhão.
Uma vez que a taxa de óbito cresce conforme a idade da mulher, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como prioritária a faixa dos 50 a 69 anos para a realização do exame. Segundo a radialogista Fernanda Kraemer, a idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença. "Elementos relacionados à vida produtiva da mulher, como a idade da primeira menstruação e da menopausa, assim como a história familiar e a alta densidade do tecido mamário também são fatores conhecidos", explica.
Para essa faixa etária, a recomendação é a realização da mamografia a cada dois anos, baseando-se em estudos que sugerem que esse tipo de rastreamento é responsável por reduzir em até 30% a mortalidade. "Para diminuir a mortalidade, é necessário a detecção precoce, além do tratamento adequado", pondera.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde mostram que a proporção de mulheres com 50 a 69 anos que nunca fizeram a mamografia vem caindo no Rio Grande do Sul, passando de 41,6%, em 2003, para 22,7%, em 2008, e 12,4% em 2013 - é o quarto com menor taxa de não realização desse exame, ficando atrás de São Paulo, do Espírito Santo e do Distrito Federal.
O estudo também aponta que, quanto menor o grau de instrução, maior a proporção de mulheres que não fizeram o exame no período indicado. Moradores das regiões rurais e mulheres que vivem sozinhas também costumam deixar de lado a prevenção. Segundo a pesquisadora em Estatística do Núcleo de Indicadores Sociais da Fundação de Economia e Estatística, Marilyn Agranonik, a taxa é superior no Estado devido à presença de fatores associados, como sobrepeso e maior proporção de idosos. Mesmo assim, entre a faixa etária dos 50 a 69 anos, a procura pelo exame chega a 80%.

Ministério quer prontuário eletrônico em postos em 60 dias

Postos de saúde de todo o país terão 60 dias para implementar o prontuário eletrônico, sistema que deve trazer dados como o histórico dos atendimentos feitos aos pacientes e resultados de exames, entre outras informações. O prazo foi anunciado nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde.
As unidades que não se adaptarem ao novo modelo até o início de dezembro poderão ter recursos federais voltados à atenção básica cortados. Hoje, esses recursos, que custeiam programas como o Saúde da Família, por exemplo, correspondem a R$ 10 bilhões ao ano.
Apesar do projeto, dados do próprio ministério mostram que a implementação do prontuário pode ser alvo de impasses. De 41.688 postos de saúde em funcionamento no País, só 10.134 já utilizam prontuários eletrônicos - apenas 24%. O restante ainda registra atendimentos e histórico dos pacientes em papel.
Desde 2014, a pasta também repassa recursos para ampliar o acesso à internet nas unidades de saúde. Ao todo, 8 mil já receberam verbas para ampliar as conexões - destas, no entanto, só 4.800 enviam dados por sistema eletrônico. O ministério não informou o total de unidades ainda sem acesso à internet.
Questionado, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirma que não deve haver problemas para a implementação. Segundo ele, dados do Ministério das Comunicações apontam que todos os municípios têm ao menos um ponto de internet banda larga. Caso uma unidade não consiga realizar a implementação, afirma, deve enviar uma justificativa para que o caso seja analisado e para que o governo possa tomar medidas.
"Quem não estiver no sistema vai ter que justificar, senão para de receber o PAB (recursos do piso da atenção básica)", afirma ele, para quem os dados devem ser utilizados para verificar a aplicação dos recursos na rede e para ter maior controle dos atendimentos. "Vai dar para saber o lugar na fila? Deus ajude que sim. Não estou propondo isso, mas espero que o sistema nos ajude a ver isso", afirmou.
O ministério também afirma que vai implementar, até 2017, serviços de biometria nas unidades, por meio de uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo é evitar fraudes. Segundo Barros, a pasta também estuda ampliar os serviços de telemedicina, em que médicos dos postos de saúde podem recorrer a especialistas de várias áreas.