RH aposta em fundos de pensão coletivos

Os fundos de previdência fechados são as grandes estratégias do mercado corporativo, atualmente, para valorizar e reter funcionários

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Para usufruir do recurso total dos depósitos se exige um determinado tempo de permanência na empresa, diz Janice
Os fundos de previdência fechados são as grandes estratégias do mercado corporativo, atualmente, para valorizar e reter funcionários. Criada normalmente por empresas dispostas a colocarem, junto com o dinheiro dos empregados, uma parcela extra de depósito, a previdência fechada vem ganhando massa como ação de Recursos Humanos (RH). Para o setor de seguro e previdência, se revela um mercado em expansão. Hoje, existem mais de 300 fundos de previdência fechados no Brasil, com 2,7 mil empresas patrocinadoras - além de 504 entidades que também se organizaram para fazer previdência coletiva, com sindicatos e associações.
Para os funcionários, o modelo é cheio de atrativos: na fase de acumulação de recursos, as empresas também contribuem para o fundo de previdência de seus empregados, e o saldo acumulado poderá ser resgatado integralmente ou recebido mensalmente, como uma pensão ou aposentadoria tradicional. Em boa parte dos casos, para cada R$ 1,00 que o colaborador coloca lá, a empregadora engorda o saldo com mais R$ 1,00. E, além da aposentadoria, o participante de um fundo de pensão tem, à sua disposição, proteção contra riscos de morte, acidentes, doenças, invalidez.
Em geral, explica a presidente da Fundação CEEE-Previdência Privada, Janice Antonia Fortes, para usufruir do recurso total dos depósitos da empresa e do funcionário se exige um determinado tempo de permanência na empresa. O prazo para resgate costuma ser a partir de 10 anos. As vantagens são menos custos de manutenção e taxas (por não ter fins lucrativos) e juros melhores nos investimentos feitos (no comparativo com aplicações individuais). Além de atuar com a gestão do fundo de pensão da CEEE, a fundação também opera na administração, elaboração e coordenação de fundos empresarias de outras entidades.
"Entre 2001 e 2015, para pegarmos um prazo longo e adequado a um fundo de previdência, a rentabilidade acumulada obtida desses investimentos foi de 629% ante 205% da poupança. Pelo volume de recursos que os fundos gerenciam, se consegue melhores taxas de juro", exemplifica Janice, que atua diretamente na gestão de um patrimônio superior a R$ 5 bilhões, hoje sob o guarda-chuva da Fundação CEEE, em mais de 35 anos de atuação.
No caso da fundação, o próximo passo e a nova meta é o lançamento de um fundo de previdência que seja viável também para pequenas empresas, criando um fundo padrão de previdência fechada. A ideia, diz Daniele Mascherin Pastore, da gerência de expansão da entidade, é lançar o produto ainda no primeiro semestre de 2017.
E grandes números de estímulo ao setor não faltam: já são 2,5 milhões de participantes ativos no sistema e 740 mil aposentados e pensionistas aproveitando o descanso do trabalho com o bolso um pouco melhor recheado, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).
O patrimônio total do segmento já alcança, segundo a entidade, R$ 763 bilhões, de quase 13% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Apoio a empregados endividados e com baixa produtividade

Ao perceber que boa parte de seu grupo de funcionários vinha enfrentando problemas financeiros, solicitando adiantamentos e empréstimos consignados, o diretor comercial da Inpel Armando Marcon Júnior decidiu ajudar os colaboradores a reorganizarem suas finanças. E, mais do que isso, passou a idealizar um projeto de previdência privada interna para estimular a economia.
Pior do que o baixo rendimento de bons funcionários envoltos em contas e atrasos foi perceber que havia até profissionais pedindo para serem demitidos. "Eles faziam isso para receber algum dinheiro e quitar dívidas. Só que isso não era uma solução, pelo contrário. Havia um descontrole financeiro muito grande entre alguns colaboradores. Chegamos a perder bons profissionais por causa disso", lamenta Marcon.
Para estimular o grupo a rever as contas a Inpel, de Sapucaia do Sul, com cerca de 160 funcionários, se aliou ao Fundo de Previdência Privada da CEEE, que entrou na indústria com apoio individual a alguns funcionários e também com palestras e ações de conscientização financeira.
Estimulados pela ação, e também pelos depósitos que a empresa faria para cada R$ 1,00 que cada empregado colocasse no fundo de previdência, o grupo vem crescendo. Hoje, cerca de 40% dos colaboradores aderiram ao sistema e, ao invés de gastar mais do que tem, passaram a poupar.
"No início, o processo foi mais lento, fomos pegos no meio de uma crise bem quando implantávamos o produto. Parte dos colaboradores também demorou a aderir porque havia o risco de demissões. Infelizmente, chegamos mesmo a demitir. Agora, com as coisas mais calmas na economia, até voltamos a contratar funcionários. Mais estáveis, eles começaram a entrar no plano", conta o empresário.
Para o educador financeiro e professor de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Leandro Rassier, observadas as regras para os casos de saída do emprego, dificilmente o empregado encontrará opção melhor se houver aporte de recursos da empresa. "Neste caso, mesmo onde a empresa coloca somente 50% do valor depositado pelo funcionário, como um estimulo, esse dinheiro extra é ganho puro", ressalta.