Sobre rodas seguras

Ciclista e corretor de seguros Paulo Renato Martins fala sobre os desafios do mercado de seguro para bicicletas

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Para Martins, o mercado de bikes é um desafio porque a bicicleta não é um produto emplacado
Ciclista e corretor de seguros, Paulo Renato Martins, 53 anos, dedicou seis meses de pesquisa, visitas a São Paulo e muitos cálculos para chegar a um produto ideal ao seu próprio hobby: pedalar. Apesar do número crescente de bicicletas nas ruas, ainda não fácil achar um seguro para esse bem (e este esporte). O motivo maior, diz o presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (Sindseg-RS), Pedro Moreira Garcia, é a dificuldade de se precaver de fraudes no setor. "O mercado de bikes é um desafio, porque a bicicleta não é um produto emplacado, como uma moto ou um carro, que se tenha registro e controle. Então, é muito fácil de simular um roubo, por exemplo. Mas é um produto com grande demanda, e quem tem que achar uma solução para essa dificuldade e encontrar uma forma de viabilizar o produto é o próprio setor", ressalta Garcia, também um ciclista ativo.
Martins, sócio-gerente da Ábaco Seguros, primeiro tentou chegar a uma equação que se torna viável o valor de um seguro para bicicleta para o usuário e para o próprio corretor. Acabou achando que pagaria para trabalhar, dados os riscos. A fraude era o maior risco, diz Martins. "A maioria dos seguros que eu conhecia não cobria quebra do produto. No caso de ter estragado a bicicleta, seria muito fácil simular o crime, se livrar dela e pegar o seguro. Pelo preço, minha margem seria muito pequena, e logo a conta não iria fechar" analisa o sócio-gerente da Ábaco, que não desistiu.
Em procura por sites de grandes companhias com a quais pudesse fechar parcerias, Martins esbarrava sempre no mesmo produto: algo vinculado à bike, como no caso de cobertura a roubo de residências - operado, por exemplo, pela Porto Seguro e que anuncia a proteção da bike como um diferencial -, mas nada específico e mais amplo. Acabou trazendo para a empresa um seguro da Argos, com o qual se identificou, como corretor e como ciclista. Pouco depois de lançar o produto no mercado, teve a própria bicicleta furtada - e ainda não havia feito seguro.
"Estava no supermercado, com a bicicleta em cima do carro e, quando voltei, a tinham levado. E sei de mais casos com o meu. O roubo de bicicleta é alto, todo dia tem relato, apesar de nem tudo ser registrado. O que para o setor é ruim, porque há falta de estatística real", diz Martins.
Entre as consultas que já recebeu para o produto não há apenas casos de pessoas que foram vítimas de crimes, mas também de acidentes. Com as ruas mal conservadas, motoristas desrespeitosos e imprudentes com os ciclistas, poucas ciclovias (e mesmo estas, em más condições), os clientes também têm buscado seguro para possíveis danos físicos do esporte. O empresário conta que recebeu pedidos de cotações, por exemplo, de uma médica que havia caído de bicicleta, porque a roda prendeu em um buraco. "A manutenção das vias é um fator de risco enorme. Essa médica que me procurou chegou a ficar de cadeira de rodas por tempo, devido à gravidade do caso."
Conforme Martins, o mercado para o setor de seguros, no entanto, está não apenas no grande público amador, que cresce dia a dia, mas também no esportista. Ele explica que, enquanto uma bicicleta comprada para lazer custa até R$ 5 mil, os equipamentos para profissionais vão a R$ 10 mil. Em caso de necessidade de uso, o ciclista pagará um taxa de franquia equivalente a determinado percentual do patrimônio assegurado e avaliado por vistorias e fotos. O profissional, diz Martins, costuma ter menos danos do que o ciclista que pedala por hobby, já que o atleta costuma cuidar melhor do equipamento. Aos usuários comuns os riscos devem seguir em alta, avalia o empresário. "Recentemente, a prefeitura de Porto Alegre ainda reduziu o número de quilômetros de ciclovias previsto para fazer na cidade. É uma pena, porque tem cada vez mais gente pedalando nas ruas, por hobby e como meio de locomoção mesmo."

Inexistência de norma e perigo no ar

Os veículos aéreos não tripulados (vants), ou drones, como são mais conhecidos, também estão na mira das seguradoras, assim como cada vez mais nas mãos dos brasileiros. Em agosto deste ano, o tema chegou a ser assunto de destaque durante o 5º Encontro de Resseguro do Mercado Segurador. Na ocasião, foi realizado um painel com a participação do vice-presidente e gerente de aviação da seguradora especializada em seguro de aviação XL Catlin, Tony Trost.
Usados para lazer e para trabalho (como de monitoramento, até mesmo em áreas rurais), os drones são silenciosos, leves e fáceis de usar. Devido à versatilidade e ao preço acessível, multiplicam-se e impõem desafios regulatórios para sua operação com segurança, abrindo um grande mercado em potencial para o setor segurador, de acordo com a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
Cabe à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a regulamentação, que em 2015 propôs uma norma em que, para operações civis, o piloto deve ser maior de 18 anos e contratar um seguro com cobertura de danos a terceiros. Já os órgãos de segurança pública e defesa civil poderão operar aeronaves guiadas a distância em qualquer área sob sua responsabilidade, também necessitando de seguro com cobertura de danos a terceiros. Mas, apesar do incentivo à contratação de seguro na proposta da Anac, a inexistência de norma publicada é uma das razões para que muitas seguradoras ainda não tenham entrado nesse mercado, apesar de a procura ter aumentado.

Cuidado com os danos a terceiros

Outro segmento bastante adaptado às novas realidades é o seguro de Responsabilidade Civil, com amplo leque de produtos. O principal objetivo é a proteção do patrimônio do cliente caso ele venha a ser responsabilizado, judicialmente ou por meio de reclamação direta, por ter causado danos materiais, corporais ou morais involuntários a terceiros.
Conforme o diretor de marketing do Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio Grande do Sul (Sincor-RS), André Thozeski, Além da responsabilidade civil profissional, esse tipo de seguro deve ser cada vez mais aceito como apêndice de seguros convencionais, como de residência. Enquanto o seguro profissional pode ser feito por trabalhadores com habilidades bem específicas e regulamentadas (como advogados, dentistas, contadores e até proprietários de cartórios), há modalidades que protegem, por exemplo, o dono de uma residência com cachorro, para o caso de ataque do animal a outros.
"Por pouco dinheiro a mais no seguro de residência, o consumidor também pode ter essa proteção", explica Thozeski. Ainda seguindo o exemplo do cão que causa danos a terceiros, o caso pode ser ainda mais grave se o ataque for a um profissional da saúde, por exemplo. Se ele ficar impossibilitado de trabalhar, como no caso de um cirurgião, o consumidor terá um custo alto a pagar por perdas desse trabalhador.