Acordos com Lactalis e Medical Valley são trunfos para Sartori

Governador avaliou que os resultados da investida em três países superaram expectativas

Por Patrícia Comunello

Sartori encerrou a viagem pela Europa após compromissos na Itália
O governador gaúcho José Ivo Sartori voltou com dois troféus da viagem de seis dias à Europa, a quarta missão internacional do governo atual. São eles os aportes de R$ 104 milhões da gigante de laticínios Lactalis e o acordo para replicar no Estado o modelo do Medical Valley, cluster alemão de tecnologias em saúde, que terá já na largada R$ 3 milhões de investimentos no primeiro projeto, liderado pela Siemens Healtineers, braço da companhia global voltado a novos produtos e serviços ligados à engenharia da saúde. As cifras não são bilionárias, mas o potencial futuro dos empreendimentos é o que mais anima o governador e sua equipe.
A Lactalis quer elevar em 55% a captação de leite de produtores e a produção de itens mais elaborados, o que exigirá mais produtividade e qualidade da matéria-prima. O presidente mundial da companhia, Daniel Jaouen, disse que o Rio Grande do Sul concentra maior volume de aportes do grupo no mundo atualmente e que novos investimentos virão.
O Medical Valley vai nascer com o desafio de aproximar empresas, desenvolvedores, locais de atendimento de ponta, como hospitais, e universidades. Para impulsionar o cluster local, haverá também recursos do governo alemão e do Brasil, via Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O Estado ainda recebeu o certificado de partner premium (sócio) do polo alemão. Com isso, entrou em um clube restrito onde estão ainda Hong Kong (território autônomo da China) e Boston (Estados Unidos).
Além dos empreendimentos, o governo aposta ainda em mais frutos com a cooperação alinhavada com regiões alemães e o Vêneto, na Itália. Após seis dias de missão à Europa, com passagem pela Alemanha, França e Itália, Sartori, que desembarcou na manhã de sábado em Porto Alegre, de volta para casa, disse que o resultado foi além do esperado e apontou novas perspectivas. "Pensava em fazer uma visita à Alemanha pelo acordo Brasil e Alemanha e para o 35º Encontro Econômico Brasil-Alemanha entre empresários dos dois países em fim de 2017 em Porto Alegre. O que queremos é que eles invistam no Brasil", pontuou o governador.
Do contato com os alemães, o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Heitor José Müller, que acompanhou toda a missão, diagnosticou: "Eles estão motivados a investir. Parecem acreditar mais no Brasil do que nós". Um teste será a missão que o governo da Renânia Palatinado terá em novembro ao Rio Grande do Sul, organizada pelo consulado alemão e que terá setores de governo e empresas.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Fábio Branco, destacou que as agendas por centros de pesquisa alemães serviram para conhecer o modelo e auxiliar na formatação do sistema de inovação local. Sobre a Lactatlis, Branco citou que as conversas com o grupo começaram ainda no primeiro semestre e que há condições de incentivo para elevar a porção de itens lácteos de maior valor agregado.
Na parada final, antes da volta ao Brasil, Sartori teve reunião reservada com o presidente da região do Vêneto, Luca Zaia, que viaja ao Estado em novembro com setores empresariais. O encontro foi no palácio do governo, cuja sede é a exuberante Veneza. "Temos uma grande semelhança, o Vêneto é o maior produtor de vinhos na Itália e nós no Brasil", lembrou. "Viemos para viabilizar bons acordos econômicos", sinalizou o chefe do governo a Zaia.
O foco será fazer cooperação para injetar na economia gaúcha o impulso ao segmento de micro e pequenas empresas da região italiana. No Vêneto, de onde partiram boa parte dos imigrantes italianos que desembarcaram no século 19 no Rio Grande do Sul, 80% das empresas têm até 15 empregados. A região tem cerca de 5 milhões de habitantes e PIB de R$ 525 bilhões, enquanto o PIB gaúcho somou quase R$ 400 bilhões em 2015 para uma população de 11,3 milhões de habitantes.
O interesse gaúcho é melhorar os arranjos produtivos locais (APLs) que já existem no Estado, buscando parcerias e a expertise italiana. Uma comitiva ligada à área da moda visitou unidades de design, escolas e produção na região e em Milão, na Lombardia. Empresários italianos mostraram interesse em investir, após reunião com os gaúchos. Mauro Pellizzari, dono da Fiori, que atua em equipamentos para construção civil, reuniu-se com os gaúchos e considera o Estado um grande parceiro. "Investimos R$ 10 milhões em uma unidade no Rio Grande do Sul (Porto Alegre) há sete anos e podemos ter novos aportes quando o mercado demandar produtos", disse Pellizzari. "Desejamos transformar a fábrica em fornecedora para a América do Sul." A Fiori tem ainda unidade na Índia.

NA BAGAGEM

Missões internacionais do governo Sartori:

  • Janeiro de 2015: Alemanha e França
  • Julho de 2015: Uruguai
  • Agosto de 2016: Argentina
  • Outubro de 2016: Alemanha, França e Itália

Balanço da Missão à Europa e novos passos:

Alemanha:
Tobias Zobel e Sartori oficializam parceria para implantar o Medical Valley/ Foto Luiz Chaves /Divulgação
  • Medical Valley: acordo entre a universidade de Erlangen e a Capes permite que recursos sejam aportados pelo governo alemão e brasileiro para implantar o modelo de cluster voltado a inovação e tecnologia em saúde. O Rio Grande do Sul recebeu o certificado de partner premium (sócio-membro) do cluster alemão. Apenas Boston (Estados Unidos) e Hong Kong (China) têm esta mesma titulação. A alemã Siemens Healtineers começa primeiro projeto de pesquisa na Unisinos em 2017, com aporte de R$ 3 milhões.
  • Encontro Brasil-Alemanha e centro de pesquisa e tecnologia: a 34a edição ocorreu em Weimar, no leste alemão. Em 2017, o 35o encontro será em Porto Alegre no fim do ano. Em novembro deste ano, uma missão da Renânia Palatinado vem ao Estado, com empresas e governo. Cooperação técnica com unidades do Instituto Fraunhofer Microtécnica e do Instituto de Instituto Tecnológico de Karlsruhe (KIT), que ficam na Renânia, estão nos planos.
Secretária da região da Renânia, Daniela Schmitt, virá ao Estado em missão em novembro/ Foto Luiz Chaves/Divulgação  
França:
Sartori comemora com comitiva e presidente da Lactalis, Daniel Jaouen/Foto Patrícia Comunello/JC
  • Lactalis: a gigante francesa anunciou investimento de R$ 104 milhões para elevar em 55% capacidade de captação de leite e a produção nas unidades de Ijuí, Teutônia, Três de Maio e Santa Rosa. O RS é a maior base de produção da companhia. Uma das novidades é a embalagem de garrafa plástica para leite UHT em Teutônia e começo da produção de itens da marca President. Para sair de 900 milhões de litros de leite captados ao ano para 1,5 bilhão ao ano nos próximos dois anos, a empresa atuará forte em aumento de produtividade e qualidade. Guilherme Portella, diretor de relações institucionais da Lactalis na América do Sul, diz que será adotado modelo de contrato com produtores inovação na cadeia do leite.
Itália:
  • Vêneto: cooperação com setores de arranjos produtivos locais e governo para impulsionar atividade de pequenas empresas. Em novembro, o presidente da região do Vêneto, Luca Zaia (Foto Luiz Chaves /Divulgação), vai com comitiva ao Estado.