Cadeia do plástico quer desonerar exportações

Vendas externas são uma forma de diminuir os reflexos da crise, que implicou em cerca de 31 mil demissões no setor

Por Jefferson Klein

Roriz sugere realização de parcerias entre empresas para reduzir gastos
Uma das maiores preocupações das empresas brasileiras ligadas ao setor do plástico é o desequilíbrio verificado hoje entre importações e exportações. No ano passado, as compras de plásticos transformados oriundos de outras nações foram na ordem de US$ 3,2 bilhões. No sentido inverso, as comercializações foram de US$ 1,2 bilhão no período. Uma ação que pode atenuar esse impacto é a desoneração das vendas externas de produtos acabados desse material, algo que está sendo discutido pelos representantes do segmento com o governo federal.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz, defende que oportunidades no mercado internacional reduziriam o impacto da crise econômica na indústria do plástico nacional. O dirigente comenta que, no espaço de um ano, houve o fechamento de mais de 100 companhias do setor no País, o que ocasionou a demissão de cerca de 31 mil trabalhadores. Roriz acredita que dificilmente o equilíbrio da balança será alcançado em curto prazo, mas projeta que seja possível reverter esse quadro em cinco anos.
O Brasil exporta artigos plásticos, fundamentalmente, para destinos na América do Sul e importa de países europeus, Estados Unidos e China. O presidente da Abiplast acrescenta que ainda há muita desinformação quanto ao mercado internacional e o programa de regime especial de reintegração de valores tributários para empresas exportadoras (Reintegra) não atende às necessidades das companhias.
Sobre investimentos necessários para alcançar outros países, Roriz sugere a realização de parcerias entre as empresas para reduzir os gastos. Entre os produtos plásticos mais exportados a partir do Brasil estão laminados plásticos, tubos e conexões; e as importações são de itens de maior valor agregado, utilizados nas áreas de saúde e farmacêutica, por exemplo.
Roriz ressalta que o Brasil exporta, essencialmente, artigos primários e poucos manufaturados. "O plástico tem alternativas para aumentar a comercialização no mercado externo, não somente como produto final, mas também envolvido com outras cargas como é o caso das embalagens de alimentos", destaca. O presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Edilson Deitos, é outro empreendedor que vê potencial nessa prática. O dirigente salienta que os gaúchos são os maiores produtores de arroz no Brasil, porém menos de 5% do grão exportado é enviado já embalado, sendo encaminhado a granel.
Um dos fatores que fazem com que os produtos estrangeiros tenham mais competitividade do que os similares brasileiros, detalha o presidente do Sinplast-RS, é o acesso a insumos mais baratos, como os Estados Unidos com a energia elétrica. Pelo menos nesse aspecto a indústria gaúcha teve boas notícias neste ano. As reduções nas tarifas das distribuidoras no Estado, determinadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), fizeram com que a RGE ficasse com uma conta de energia, para os clientes industriais, 3% abaixo da média nacional e a AES Sul apenas 1,5% acima. Já a CEEE-D, com a perspectiva de diminuição das tarifas já sinalizada pelo órgão regulador, em novembro deve ficar 7% aquém da média brasileira.
Deitos recorda que, há alguns anos, o custo da energia das concessionárias gaúchas era muito desigual e havia tarifas 20% mais caras do que a média nacional. Os presidentes do Sinplast-RS e da Abiplast participaram nessa quinta-feira do 2º Congresso Brasileiro do Plástico, promovido na Pucrs, em Porto Alegre.
 

Diversificação de uso do material e interação com outros setores podem melhorar cenário

Além de competir com os produtos estrangeiros, as empresas do segmento do plástico pretendem buscar novos usos para o material. As possibilidades são inúmeras, em áreas como construção civil, medicina, embalagens, entre outras.
Uma prova disso, aponta o CEO e fundador da companhia Impacto Protensão, Joaquim Caracas, é o Hotel Vale das Nuvens, localizado no Ceará e feito praticamente todo de plástico. Além disso, o empresário enfatiza que já conseguiu reduzir em 85% a utilização de madeira em obras, substituindo o material por plásticos. Outro fator que deve contribuir para o maior consumo de plástico é o seu emprego pelas impressoras 3D. O engenheiro de Tecnologia da Braskem Éverton Simões Van-Dal frisa que esses equipamentos estão diversificando cada vez mais as suas aplicações, possibilitando personalizar objetos, com custos reduzidos.
O crescimento da indústria da impressão 3D tem sido exponencial nos últimos anos e movimenta atualmente cerca de US$ 5,2 bilhões ao ano, sendo aproveitada por companhias como Nike, Adidas, Nokia e Mercedez-Benz. Segundo Van-Dal, a solução vem sendo muito utilizada em aplicações médicas, como na fabricação de próteses, ou de bens de consumo em geral, como joias e artigos de decoração. Além disso, é empregada na materialização de protótipos, para áreas como a automotiva ou a aeronáutica.
No momento, essa prática está focada em artigos de baixa tiragem e com alto valor agregado, contudo a tendência é que a tecnologia fique mais competitiva e ganhe escala. O custo do equipamento varia muito, podendo ir de R$ 2 mil a mais de R$ 2 milhões, dependendo da aplicação.
De acordo com o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), Zeca Martins, o segmento do plástico e a indústria, de um modo geral, precisam entender que a tecnologia está apresentando uma enorme evolução. "O setor tem que conversar mais com as companhias de eletroeletrônica, metalmecânica, de construção e outras", sustenta. Outra preocupação da cadeia do plástico é a vinculação da sua imagem como agente poluidor. O professor e livre docente no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) Alexander Turra informa que cerca de 80% do lixo que chega aos oceanos é procedente da terra firme e 20% do próprio mar. Os resíduos plásticos como garrafas, tampas de vasos sanitários, redes e até mesmo cotonetes constituem aproximadamente 90% de todos os rejeitos.
Uma particularidade dos plásticos é a capacidade de boiarem e, por isso, chamarem mais a atenção do que outros materiais que afundam, o que acaba fazendo também os plásticos concentrarem nos oceanos em zonas de acúmulos (chamadas erroneamente, conforme o professor, de ilhas de plástico). Para Turra, entre as medidas que podem ser tomadas para amenizar esse cenário está a intensificação da educação ambiental e o aprimoramento das práticas de logística reversa.