Dilma defende plebiscito por novas eleições no País

Em carta ao povo brasileiro, pede ao Senado que não faça injustiça

Por

Petista reitera inocência e avalia que é vítima de um 'inequívoco golpe'
A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) pediu ontem a senadores que "não façam a injustiça" de condená-la por um crime que "não cometeu", se disse, mais uma vez, vítima de um "inequívoco golpe" e defendeu a realização de um plebiscito para novas eleições e reforma política.
Na carta aos senadores e ao povo brasileiro, lida em um pronunciamento no Palácio da Alvorada, Dilma avaliou que, caso o impeachment seja consumado "sem crime de responsabilidade", o Brasil estará sofrendo um "inequívoco golpe seguido de eleição indireta".
"O colégio eleitoral de 110 milhões de eleitores seria substituído, sem a devida sustentação constitucional, por um colégio eleitoral de 81 senadores. Seria um inequívoco golpe seguido de eleição indireta", afirmou a petista.
Batizada de "Mensagem ao Senado Federal e ao Povo Brasileiro", a carta trata o impeachment como "golpe" e diz que as denúncias contra a petista são "frágeis e inconsistentes". "Não é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo 'conjunto da obra'. Quem afasta o presidente pelo 'conjunto da obra' é o povo, e só o povo, nas eleições", disse.
No documento, Dilma defendeu a realização de um plebiscito para a realização de novas eleições e reforma política, com medidas como a fragmentação de partidos, moralização do financiamento das campanhas e mais poder aos eleitores. A questão da reforma política foi uma exigência dos movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). "Estou convencida da necessidade e darei meu apoio irrestrito à convocação de um plebiscito para consultar a população sobre a realização de eleições e reforma política e eleitoral."
Dilma disse ainda que, no período em que esteve afastada do Palácio do Planalto, ouviu "críticas duras" a seu governo, que "erros foram cometidos" e "medidas não foram tomadas". De maneira genérica, afirmou que "acolhe" essas críticas "com humildade e determinação".
De acordo com senadores aliados, Dilma divulgou a carta aos parlamentares enquanto fazia a leitura a jornalistas, o que irritou especialmente os petistas.
A presidente afastada não convidou nenhum dos senadores para estar ao lado dela durante a leitura do documento e estava acompanhada de cinco ex-ministros do PT: Jaques Wagner (Casa Civil), Aloizio Mercadante (Educação), Miguel Rossetto (Trabalho), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Eleonora Menicucci (Mulheres).
Dilma se disse "inocente" e afirmou que "jamais" encontrarão em sua trajetória "registro de desonestidade, covardia ou traição". Nesse momento, aproveitou para fazer uma crítica velada ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e afirmou que não tem "conta na Suíça".
Há semanas, aliados reclamam que Dilma "perdeu o timing" da divulgação da carta e que, agora, o documento não terá mais valor em troca de votos no julgamento final do impeachment, marcado para começar em 25 de agosto.
A presidente afastada fez diversas versões do documento, que, inicialmente, tinha cinco páginas. Na semana passada, em almoço com senadores no Alvorada, pediu mais seis dias para finalizar o texto, que contaria, segundo ela, com novos ajustes.
Dilma queria retirar sugestões de Cristovam Buarque (PPS-DF), que opinou sobre o documento, mas acabou fazendo discurso a favor do impeachment na sessão que tornou a petista ré.

Senado cumprirá seu papel constitucional, diz Renan

Minutos após a divulgação da carta da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), em que chama de "golpe" o processo de impeachment e defende a realização de eleições gerais se permanecer no cargo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que a Casa - no momento de conflagração nacional - vai cumprir o seu papel constitucional.
O peemedebista destacou que, como presidente do Senado, trabalhará para manter a isenção durante o julgamento, que será comandado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.
Renan sinalizou ser favorável à realização de sessões do julgamento do processo do impeachment no fim de semana. Ele disse que, nesta quarta-feira, às 11h, haverá uma reunião com o presidente do Supremo e com líderes partidários para se discutir o roteiro do julgamento, cujo início está marcado para a quinta-feira da próxima semana, 25 de agosto.
Mais cedo, antes de se reunir com o presidente interino Michel Temer (PMDB), Renan disse ser contra a realização de um plebiscito para defender novas eleições e reforma política, defendido por Dilma na carta.
"Na democracia, a melhor saída sempre é a saída constitucional, e plebiscito e novas eleições não estão previstos na Constituição. Então isso não é bom", afirmou Renan.