Bernardo foi 'patrono' de crimes na pasta do Planejamento, diz MP

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A força-tarefa do Ministério Público Federal em São Paulo denunciou o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo e mais 19 envolvidos na operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato que investiga desvios de recursos da pasta iniciados quando o petista estava à frente dela.
De sexta-feira até ontem, os procuradores ofereceram três denúncias. A maior delas é a primeira e inclui nomes como o do ex-ministro Paulo Bernardo e outros 12 alvos suspeitos de crimes de formação de organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
O esquema que perdurou de 2010 até 2015, quando foi deflagrada a operação Pixuleco, envolveu a celebração de um Acordo de Cooperação Técnica que representava o Ministério do Planejamento e duas entidades que representavam a Consist. O acordo deu ao Consist a função de gerir empréstimos consignados a servidores públicos e cerca de 70% do faturamento líquido da empresa foi destinado a parceiros do esquema.
As investigações dividiram os alvos em três grupos: agentes políticos, a empresa Consist e seus parceiros e parceiros eventuais.
O ex-ministro Paulo Bernardo integra o grupo de agentes políticos juntamente com Duvanier Paiva e Nelson de Freitas, apontados pelos procuradores como os responsáveis por instalar o esquema no Ministério do Planejamento a mando do ex-ministro petista.
"Paulo Bernardo nomeia essas pessoas, mas ele não aparece formalmente. No entanto, tinha a consciência de tudo. Ele tomara as decisões e determinava que os seus funcionários as executassem. Cerca de R$ 7 milhões foi destinado ao núcleo de Paulo Bernardo", afirmou o procurador Andrey Borges de Mendonça em coletiva de imprensa ontem.
Segundo os procuradores, e-mail apreendido nas investigações aponta Paulo Bernardo como o "patrono" da organização. Freitas, que está preso preventivamente, era diretor do departamento de administração de sistemas de informação, e Paiva, falecido em 2012, era funcionário do Ministério do Planejamento.

'Nós não pegamos um centavo', desafia Gleisi sobre propina

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) saiu na tarde de ontem em defesa do marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, denunciado, juntamente com 19 investigados, pelo Ministério Público sob a acusação de ter montado uma organização criminosa responsável por lavar dinheiro e pagar propinas para o PT e para os diversos agentes públicos e privados, que superam os
R$ 100 milhões.
Em pronunciamento da tribuna do Senado, a petista disse que já esperava essa iniciativa, após o indiciamento e da "prisão absurda" a que Paulo Bernardo havia sido submetido. A senadora criticou o fato de os procuradores terem dito, em entrevista coletiva, que o ex-ministro era o mentor do esquema, por ter um e-mail que "comprova" as acusações. Ela pediu a divulgação da correspondência eletrônica.
"Onde está esse dinheiro? Eu faço um desafio aqui a esse procurador, a esse juiz, à Polícia Federal: achem esse dinheiro! Onde nós colocamos? Não há um centavo. Nós não pegamos um centavo. Meu patrimônio não chega a esse montante; aliás, ele é compatível com o que ganho. Eu desafio esses promotores que adoram fazer discurso a dizer onde está esse dinheiro", afirmou. A senadora disse que os procuradores, "que gostam tanto de política", deveriam se candidatar. Ela afirmou que eles não têm coragem e preferem ficar no conforto de exercer um cargo com estabilidade e de falar o que querem, "sem ter que ter responsabilidade".